Roma
(RV) - Com a participação de representantes de 110 Conferências Episcopais do
mundo, tem início segunda-feira, 6, na Pontifícia Universidade Gregoriana, o simpósio
‘Rumo à cura e à renovação’. Os trabalhos serão abertos pelo Cardeal William Levada,
Prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, uma das promotoras do encontro.
Estão
presentes também os Superiores de mais de 30 ordens religiosas e cerca de 70 especialistas
em direito canônico, psiquiatria e psicoterapia que trabalham com as vítimas de abusos
e com os agressores.
Em declaração aos jornalistas, sexta-feira, o Diretor
da Sala de Imprensa da Santa Sé, Padre Federico Lombardi, observou que este será um
“contributo específico” para ajudar a liderança da Igreja Católica a enfrentar estas
situações.
Na agenda dos três dias de encontro e reflexão, a portas fechadas,
estão previstas intervenções de especialistas em psicologia, direito canônico, teologia
e pastoral da Igreja Católica. Uma vítima de abusos dará o seu testemunho, “falando
aos delegados sobre a necessidade de escutar as vítimas e das mudanças necessárias
para enfrentar melhor o problema”.
O prefeito da Congregação para os Bispos,
Cardeal Marc Ouellet, vai presidir a uma “vigília penitencial”, pedindo o perdão das
vítimas.
A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, CNBB, enviou um representante
para participar do simpósio: o frei carmelita Evaldo Xavier Gomes. Assessor de Direito
Canônico da Conferência e pároco da Igreja de Nossa Senhora do Carmo, em Belo Horizonte,
o frei adianta aos ouvintes da RV o conteúdo de um documento elaborado para orientar
o episcopado brasileiro sobre como proceder diante de denúncias de abusos. Para sua
formalização, aguarda-se a aprovação da Santa Sé.
Frei Evaldo explica:
“Este
é um evento para o qual também foi convidada a CNBB. A presidência me indicou para
representá-la, sobretudo porque a CNBB acaba de elaborar um documento para o episcopado
no Brasil dando orientações sobre como proceder com relação aos abusos sexuais cometidos
por membros do clero, especificamente por clérigos. O documento é muito bem elaborado,
é pioneiro em sua divisão.
Este documento é dividido em cinco partes:
a primeira trata dos aspectos psicológicos do problema dos abusos sexuais; a segunda
parte trata dos aspectos canônicos que envolvem, seja a história da disciplina da
Igreja com relação aos abusos de menores, seja a disciplina atual da Igreja, do direito
canônico vigente. Aborda também os aspectos civis, do direito civil brasileiro. Em
seguida, da relação entre o episcopado e a imprensa diante destes casos, que é sempre
um problema gravíssimo. Este documento busca instruir o episcopado e os superiores
religiosos sobre como relacionar-se com a mídia diante destes casos. Finalmente, aspectos
pastorais: como lidar com este problema diante da pastoral da Igreja, da missão eclesial.
Enfim, aspectos gerais, que seriam como lidar com a pessoa, a pessoa
que é vítima do abuso e com a que praticou o abuso sexual. Este é um problema muito
grave, uma ferida na Igreja dos nossos tempos, uma ferida que vem à tona, que talvez
tenha permanecida oculta, escondida durante séculos; seja pela disciplina seja pelo
temor, pela omissão, por vários fatores, e agora vem à tona. Muita gente vê isso com
maus olhos, eu acho que é muito bom. O doente só pode curar a sua doença se ele conhece
a doença.
De certa forma, a Igreja descobre em si mesma uma espécie
de câncer, uma doença a ser curada. Esta doença deve ser curada. O documento da CNBB
insiste muito nisso: a oração, a fé, a esperança no amor de Deus como primeiro passo
para a cura de todo o mal que existe na pessoa humana. Em síntese, esta mentalidade
da Igreja, da nossa mentalidade como católicos. Sendo isso um grande mal, é importante
que saibamos identificá-lo para poder combater e curar”. (CM)