Nova Evangelização e "Evangelii Nuntiandi": evangelizar, não um ato individual, mas
profundamente eclesial
Cidade do
Vaticano (RV) - Amigo ouvinte, chegamos, mais uma vez, ao nosso momento de dedicar
um espaço do nosso programa à nova evangelização. Como temos lembrado, este ano a
Igreja viverá um momento particularmente importante. Trata-se da Assembleia Geral
do Sínodo dos Bispos, na qual pastores do mundo inteiro – representando a Igreja nos
cinco continentes – se reunirão de 7 a 28 de outubro, no Vaticano, para refletir,
debater e discutir em torno do tema da "Nova evangelização para a transmissão da fé
cristã".
Certamente, um momento particularmente frutuoso para o Magistério
da Igreja, em que os bispos, unidos ao Sucessor de Pedro, se concentrarão em torno
desse desafio pastoral para a Igreja no terceiro milênio. Dele nascerá, a partir das
proposições e texto final dos padres sinodais, a Exortação Apostólica pós-sinodal
do Santo Padre.
Vale lembrar que "desde o Concílio Vaticano II até hoje, a
nova evangelização se propôs, sempre com maior lucidez, como o instrumento graças
ao qual confrontar-se com os desafios de um mundo em celerada transformação e como
a via para viver, hoje, o dom de ser reunidos pelo Espírito Santo para fazer a experiência
do Deus que é nosso Pai, testemunhando e anunciando a todos a Boa Nova – o Evangelho
– de Jesus Cristo" – nos diz os Lineamenta, documento preparatório para o referido
Sínodo, nº 1.
Prosseguindo nossa revisitação à Evangelii Nuntiandi,
iniciamos, na edição passada, com o nº 59, o cap. VI da Exortação Apostólica pós-sinodal
de 1975, do Papa Paulo VI, capítulo este que trata dos "obreiros da evangelização".
Como
vimos, no nº 59, o documento magisterial pergunta: "quem é que tem a missão de evangelizar?",
ressaltando que o Concílio Vaticano II respondeu claramente a esta pergunta: "Por
mandato divino, incumbe à Igreja o dever de ir por todo o mundo e pregar o Evangelho
a toda a criatura", (82) E noutro texto o mesmo Concílio diz ainda: "Toda a Igreja
é missionária, a obra da evangelização é um dever fundamental do povo de Deus".(83)
De
fato, o texto reitera que sendo a Igreja inteira chamada a evangelizar, é ela toda
inteiramente evangelizadora. Hoje trazemos o nº 60, intitulado "Um ato eclesial":
60
"O fato de a Igreja ser enviada e mandada para a evangelização do mundo, é uma
observação que deveria despertar em nós uma dupla convicção. A primeira
é a seguinte: evangelizar não é para quem quer que seja um ato individual e isolado,
mas profundamente eclesial. Assim, quando o mais desconhecido dos pregadores, dos
catequistas ou dos pastores, no rincão mais remoto, prega o Evangelho, reúne a sua
pequena comunidade, ou administra um sacramento, mesmo sozinho, ele perfaz um ato
de Igreja e o seu gesto está certamente conexo, por relações institucionais, como
também por vínculos invisíveis e por raízes recônditas da ordem da graça, à atividade
evangelizadora de toda a Igreja. Isto pressupõe, porém, que ele age, não por uma missão
pessoal que se atribuísse a si próprio, ou por uma inspiração pessoal, mas
em união com a missão da Igreja e em nome da mesma. Donde, a segunda convicção:
se cada um evangeliza em nome da Igreja, o que ela mesma faz em virtude de um mandato
do Senhor, nenhum evangelizador é o senhor absoluto da sua ação evangelizadora, dotado
de um poder discricionário para realizar segundo critérios e perspectivas individualistas
tal obra, mas em comunhão com a Igreja e com os seus Pastores. A Igreja
é ela toda inteiramente evangelizadora, como frisamos acima. Ora isso quer dizer que,
para com o conjunto do mundo e para com cada parcela do mundo onde ela se encontra,
a Igreja se sente responsável pela missão de difundir o Evangelho."
Como
vimos até aqui, neste VI capítulo, intitulado "Os obreiros da evangelização", trata-se
da questão dos sujeitos da evangelização.
De fato, faz-se no texto duas constatações
basilares que vale a pena recalcar, brevemente: "evangelizar não é para quem quer
que seja um ato individual e isolado, mas profundamente eclesial"; como consequência,
a segunda convicção: se cada um evangeliza em nome da Igreja, tal obra deve ser realizar
"em comunhão com a Igreja e com os seus Pastores".
Efetivamente, o sujeito
fundamental da evangelização é a Igreja como tal. E visto que a Igreja existe concretamente,
isto é, em "cada parcela do mundo onde ela se encontra", a Igreja particular configura-se
como tal em comunhão com as outras Igrejas particulares.
Amigo, ouvinte, por
hoje é só. Semana que vem tem mais, se Deus quiser! (RL)