Mato Grosso do Sul: situação indígena é de desamparo e violência, denuncia Dom Steiner
Campo Grande (RV) - Depois de percorrer cerca de mil quilômetros e visitar
comunidades Guarani Kaiowa na região sul do Mato Grosso do Sul, o Secretário-Geral
da Conferencia Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), Dom Leonardo Ulrich Steiner,
realizou uma coletiva de imprensa nesta terça-feira na Cúria Diocesana de Campo Grande
(MS).
"A situação é de desamparo e violência. Pelo constatado, a origem de
todos os problemas está na falta de andamento dos processos de demarcações de terras
tradicionais e na ausência de políticas publicas'', declarou Dom Leonardo em visita
ao tekoha Kurusu Amba, no município de Coronel Sapucaia. O Bispo verificou que os
Kaiowa de Kurusu Amba sofrem ainda com o veneno jogado nas plantações de soja, que
contamina a água e o solo, bem como a falta de alimentos para a comunidade e escola
para as crianças.
Esta mesma realidade foi observada por Dom Leonardo em outras
duas áreas de retomadas: tekoha Laranjeira Nhanderu, município de Rio Brilhante, e
tekoha Guaiviry, município de Aral Moreira. Em Laranjeira, os Guarani Kaiowa estão
sob ordem de despejo, que poderá ser cumprida nos próximos dez dias. Ele ouviu dos
indígenas que a comunidade decidiu pela permanência, pois cansou de ver indígenas
morrerem nos acampamentos à margem da rodovia - local para onde devem voltar caso
sejam despejados.
"A Igreja precisa olhar para nossos irmãos indígenas. Vamos
nos movimentar nesse sentido, porque não e possível aceitarmos tal situação. Os indígenas
precisam de suas terras para viver o próprio modo de vida e praticar sua cultura",
frisou Dom Leonardo. Disse ainda ser admirável que depois de tantas décadas de violência
e perseguição, os Kaiowa preservem a língua e seus modos. "Em verdade, isso é o que
os mantêm. Então, é importante nunca abandonar as danças, as praticas religiosas tradicionais."
No
tekoha Guaiviry, local onde vivia o cacique Nisio Gomes, desaparecido depois de ataque
de pistoleiros em 18 de novembro do ano passado, o Secretário-Geral da CNBB visitou
o lugar em que Nisio foi baleado, percorreu o acampamento, visitou o rio e mostrou-se
emocionado com a receptividade alegra das crianças, mesmo em meio a tantas dificuldades
e violência. Os indígenas pediram a Dom Leonardo que os ajude a recuperar o tekoha. "Foram
visitas muito bonitas, profundas. Estou convencido de que não podemos mais permitir
que a conjuntura do Mato Grosso do Sul para os indígenas se mantenha. A Igreja quer
contribuir. Inclusive uma das notas mais fortes que a CNBB divulgou nos últimos tempos
foi sobre os episódios de violência contra os indígenas", destacou Dom Leonardo, em
visita ao Ministério Público Federal para se inteirar de mais dados e informações.
O
Bispo recebeu também, em Campo Grande, uma comissão de lideranças Terena, povo que
mantém luta semelhante aos Guarani Kaiowa e que tem na demarcação de terras o principal
entrave para a posse do território tradicional. No ano passado, um ônibus escolar
Terena foi atacado com coquetéis molotov. Uma mulher morreu e diversas crianças ficaram
gravemente feridas. (CNBB)