Uberaba (RV) -Todos nós gostaríamos de exclamar: “não tenho inimigos! Dou-me
muito bem com todos”! A realidade nos mostra que, via de regra, todos temos uma pedra
no sapato. Há sempre alguém que nos espicaça e nos tira o bom humor. Na maior parte
das vezes é por motivos fúteis. Alguém é frontalmente contra nós por causa do nosso
jeito; porque a nossa fisionomia lembra a de um conhecido adversário; porque deixamos
de atender um pedido que envolvia corrupção; porque não somos do partido tal...Posso
dizer, pessoalmente, que despertei vários inimigos irreconciliáveis, por ter tomado
posição em favor daquilo que é ensinamento de Cristo. Outras vezes não foi possível
atender uma solicitação, inteiramente de interesse pessoal, por contrariar o bem comum.
Eu
tenho muitíssimos amigos. Sinto uma onda de simpatia pela minha pessoa. Mas não posso
dizer que não tenho inimigos. Existem alguns poucos que me odeiam. Às vezes nem eles
sabem direito porquê. Chego a gemer na dor: “Salva-me, Senhor, dos meus inimigos”
(Sl 143, 9).
Fico conjeturando: “por que passamos por essa provação de encontrar
alguém que nos detesta?” O primeiro motivo podemos ser nós mesmos, quando prejudicamos
alguém irremediavelmente. Neste caso estejamos abertos para um reatamento da amizade.
Todos temos um dia em que cometemos algum erro. Entre os que tomam a iniciativa de
nos odiar (sim, isso existe ) quem são os nossos inimigos? Não são diretamente os
ateus, os espíritas, os evangélicos. São aqueles que deveriam ter um vínculo conosco.
“Os inimigos do homem são os da sua casa” (Mt 10, 36). A definição das nossas ideologias
costuma ser outro fator de desunião. Os amigos vão até ficar estupefatos com minha
afirmação. Mas um divisor de águas é uma velha ideologia do século XIX. Trata-se do
socialismo. A partir dele o homem de Igreja é classificado de “avançado”, “libertador”,
retrógrado”, “tridentino”, “moderno”, “atualizado”, “amante dos ricos”, ou “inteligente”.
O critério não é o evangelho. Em muitos casos somos obrigados a conviver com tais
pessoas, sem esperança de reconciliação, e rezar por elas. Mas a pergunta, diante
de muitos casos inexplicáveis, sempre permanece: “Saulo, Saulo, por que me persegues”
(At 22, 7).
Dom Aloísio Roque Oppermann scj – Arcebispo de Uberaba,
MG. Endereço eletrônico: domroqueopp@terra.com.br