2012-01-27 18:30:35

Papa: crise da fé constitui maior desafio para Igreja hoje


Cidade do Vaticano (RV) - Bento XVI recebeu em audiência nesta sexta-feira, na Sala Clementina, no Vaticano, os participantes da plenária da Congregação para a Doutrina da Fé, ao todo, cerca de 70.

A crise da fé constitui o maior desafio para a Igreja de hoje: por isso, a unidade dos cristãos é mais do que nunca necessária. Foi o que disse o Papa, em síntese, no discurso dirigido aos presentes.

O Pontífice deteve-se sobre alguns aspectos do caminho ecumênico, sobre o qual refletiu a plenária do organismo vaticano, em coincidência com a conclusão da Semana de oração pela unidade dos cristãos, semana esta celebrada no Brasil – recordamos – entre a Ascensão e o Pentecostes.

"Encontramo-nos diante de uma profunda crise de fé" em vastas regiões do mundo, "diante de uma perda do sentido religioso que constitui o maior desafio para a Igreja de hoje". De fato, o Santo Padre parte dessa consideração, ressaltando que "a renovação da fé" deve ser o compromisso prioritário para a Igreja inteira":

"Faço votos de que o Ano da fé possa contribuir – com a colaboração cordial de todos os componentes do Povo de Deus – a tornar Deus novamente presente neste mundo e a abrir aos homens o acesso à fé, a confiar-se àquele Deus que nos amou até o fim, em Jesus Cristo crucificado e ressuscitado."

Na realidade, trata-se de uma tarefa estreitamente ligada ao tema da unidade dos cristãos. Bento XVI se deteve sobre alguns aspectos doutrinais que dizem respeito ao caminho ecumênico da Igreja. Os diálogos ecumênicos – recordou – deram muitos frutos, mas o risco de "um falso irenismo e de um indiferentismo", totalmente alheio ao objetivo do Concílio Vaticano II, exige "a nossa vigilância":

"Esse indiferentismo é causado pela opinião sempre mais difusa de que a verdade não seria acessível ao homem; portanto, seria necessário limitar-se a encontrar regras para uma praxe capaz de melhorar o mundo. E assim a fé seria substituída por um moralismo sem fundamento profundo. O centro do verdadeiro ecumenismo é, ao invés, a fé na qual o homem encontra a verdade que se revela na Palavra de Deus."

"Sem a fé todo o movimento ecumênico seria reduzido a uma forma de "contrato social" – prosseguiu o Papa – ao qual aderir por um interesse comum, enquanto a lógica do Concílio Vaticano II é diferente: "a busca sincera da plena unidade de todos os cristãos é um dinamismo animado pela Palavra de Deus, pela Verdade divina que nos fala nesta Palavra".

Para o Santo Padre, "o problema crucial" nos vários diálogos ecumênicos é "a questão da estrutura da revelação – a relação entre a Sagrada Escritura, a Tradição viva na Santa Igreja e o Ministério dos sucessores dos Apóstolos como testemunha da verdadeira fé".

Aí está implícita – ressaltou, ainda – "a problemática da eclesiologia que faz parte desse problema: como a verdade de Deus chega até nós". Aí é fundamental, dentre outras coisas, o discernimento entre a Tradição e as tradições.

Bento XVI recordou que "um passo importante para esse discernimento" foi feito na aplicação das normativas para grupos de fiéis provenientes do anglicanismo, que desejam entrar na plena comunhão da Igreja, conservando as suas tradições espirituais, litúrgicas e pastorais, que são conformes à fé católica.

De fato, o Papa reconheceu "uma riqueza espiritual nas diferentes Confissões cristãs, que é expressão da única fé e dom a ser partilhado e a ser encontrado, juntos, na Tradição da Igreja". Outro ponto fundamental é a questão dos "métodos adotados nos vários diálogos ecumênicos", que devem também eles refletir "a prioridade da fé":

"Nesse sentido, é necessário enfrentar com coragem também as questões controversas, sempre no espírito de fraternidade e de respeito recíproco."

É também preciso "oferecer uma correta interpretação daquela ordem ou "hierarquia" nas várias verdades da doutrina católica, revelada no Decreto Unitatis redintegratio".

Em seguida, o Pontífice ressaltou a relevância dos "documentos de estudos" produzidos pelos vários diálogos ecumênicos reiterando, porém, que são contribuições oferecidas à autoridade competente da Igreja, a única chamada a julgá-los de modo definitivo".

Atribuir-lhes, ao invés, "um peso vinculador ou quase conclusivo das espinhosas questões dos diálogos", sem a avaliação da Autoridade eclesial", em última análise, não ajudaria o caminho rumo a uma plena unidade na fé". (RL)







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