Cracolândia: Resgatar a dignidade dos toxicômanos. Ouça a reportagem
São Paulo (RV)
- Continua a polêmica em torno da operação policial realizada na capital de São Paulo
para dispersar os viciados em crack, na área no centro da cidade conhecida como Cracolândia.
No
dia 3 de janeiro, em uma ação conjunta entre o governo paulista e a prefeitura da
capital, a Polícia Militar deu início à tomada da Cracolândia, com a remoção dos dependentes
químicos e traficantes presentes no local.
De acordo com o governo do Estado,
nos 22 dias de operação, 154 pessoas foram presas, 46 condenados foram capturados
e cerca de 10 mil pedras de crack foram apreendidas, além de outras drogas, em mais
de 8.200 abordagens policiais.
Esta semana, quatro ONGs fizeram uma denúncia
formal a relatores independentes das Nações Unidas, criticando abusos do poder público.
Caso a denúncia proceda, o governo pode ter de se explicar à ONU sobre a operação
policial na Cracolândia.
E a Igreja, o que diz a respeito? O Programa Brasileiro
contatou o responsável pela Pastoral do Povo de Rua da Arquidiocese de São Paulo,
Pe. Júlio Renato Lancellotti. Ele faz um relato do ocorrido e explica a posição da
Igreja frente a esta operação:
"O que houve agora depois de muito tempo de
uma omissão do Estado, que acabou deixando a situação ficar do jeito que ficou, houve
uma intervenção militar muito forte, uma intervenção policial, mas de caráter militar,
de ocupação. E essa ocupação se deu com bombas de gás, com balas de borracha, com
muitas violações da integridade física, muitas violações de Direitos Humanos, e da
dignidade que esses pessoas mesmo usando drogas não perdem. Nesse momento esta área
está toda ocupada, a prefeitura começou uma demolição, mas é uma área de grande especulação
imobiliária e onde há interesses políticos e imobiliários muito fortes. A posição
da Igreja é de perplexidade frente ao uso da violência, a posição da Igreja é que
deveria de ter uma ação, mas quando tem que se fazer alguma coisa não é fazer qualquer
coisa, nem fazer a pior coisa. A repressão, a violência é a pior coisa. Na verdade,
penalizar os usuários é terrível. O presidente do Conselho de Drogas do Estado de
São Paulo afirmou que o método era dor e sofrimento, e nós colocamos que dor e sofrimento
planejado e executado se chama tortura e que não é esse o caminho. O caminho é estabelecer
vínculos, políticas públicas, é a questão da saúde mental, são as questões sobre as
quais a Pastoral Nacional de Rua do Brasil, ligada à CNBB, tem se pronunciado constantemente
e faz parte de um comitê em nível federal para se estabelecer políticas públicas que
envolvam a questão social e a questão da saúde, e não a violência. Clique acima
para ouvir a reportagem completa.