Quatorze anos atrás, o histórico discurso de João Paulo II em Havana
Cidade do Vaticano
(RV) - A dois meses do início da Viagem Apostólica de Bento XVI a Cuba, cresce
a expectativa do povo cubano para receber pela segunda vez na história um Sumo Pontífice.
Esse
é o quadro Memória História que hoje nos leva à Praça da Revolução, em Havana.
Há
exatos 14 anos, João Paulo II estava no centro da Revolução Cubana. Pela primeira
vez Cuba, abria-se à visita de um Papa, depois de um pedido feito pelo próprio presidente
Fidel Castro, quando esteve no Vaticano.
O teor político da homilia de João
Paulo II ficou bastante evidente, principalmente quando o Papa falou sobre os sistemas
ideológicos e econômicos nos dois últimos séculos que “pretenderam reduzir a religião
à esfera meramente individual, despojando-a de toda a influência ou relevância social”.
“Neste
sentido, cabe recordar que um Estado moderno não pode fazer do ateísmo ou da religião
um dos seus ordenamentos políticos. O Estado, longe de todo o fanatismo ou secularismo
extremo, deve promover um sereno clima social e uma legislação adequada, que permita
a cada pessoa e a cada confissão viver de maneira livre a sua fé, expressá-la nos
âmbitos da vida pública e contar com os meios e espaços suficientes para oferecer
à vida nacional as suas riquezas espirituais, morais e cívicas”.
João Paulo
II deixara claro também a influência de um sistema em vigor até hoje.
“Por
outro lado, ressurge em vários lugares uma forma de neoliberalismo capitalista que
subordina a pessoa humana e condiciona o desenvolvimento dos povos às forças cegas
do mercado, impondo um agravante, a partir dos seus centros de poder, aos povos menos
favorecidos com ônus insuportáveis. Assim, por vezes, impõem-se às nações, como condições
para receber novas ajudas, programas económicos insustentáveis. Deste modo, assiste-se
no concerto das nações ao enriquecimento exagerado de poucos à custa do empobrecimento
crescente de muitos, de forma que os ricos são cada vez mais ricos e os pobres cada
vez mais pobres”.
Àquela época de verdades veladas em Cuba, João Paulo II trouxe
a mensagem da liberdade.
A liberdade, que não se funda na verdade, condiciona
de tal forma o homem que algumas vezes o faz objeto e não sujeito do seu contexto
social, cultural, económico e político, deixando-o quase sem nenhuma iniciativa para
o seu desenvolvimento pessoal. Outras vezes essa liberdade é de aspecto individualista
e, não tendo em conta a liberdade dos outros, encerra o homem no seu egoísmo. A conquista
da liberdade na responsabilidade é uma tarefa imprescindível para toda a pessoa. Para
os cristãos, a liberdade dos filhos de Deus não é somente um dom e uma tarefa, mas
alcançá-la supõe um inestimável testemunho e um genuíno contributo no caminho da libertação
de todo o género humano. Esta libertação não se reduz aos aspectos sociais e políticos,
mas encontra a sua plenitude no exercício da liberdade de consciência, base e fundamento
dos outros direitos humanos”.
O que mudou em Cuba nesses 14 anos? A Viagem
Apostólica de Bento XVI, dentro de dois meses, vai ajudar a responder essa pergunta!