«Silêncio e palavra: caminho de evangelização»: Mensagem do Papa para o Dia Mundial
das Comunicações Sociais
(24/02/2012) Como habitualmente, foi divulgada, neste dia 24 de Janeiro (memória
de São Francisco de Sales, padroeiro dos jornalistas católicos), a Mensagem do Papa
para o Dia Mundial das Comunicações Sociais, a celebrar este ano no domingo 20 de
Maio, tendo como tema "Silêncio e palavra: caminho de evangelização". Silêncio
e palavra – recorda o Papa – são “dois momentos da comunicação a equilibrar, alternar
e integrar… para se obter um diálogo autêntico e uma profunda união entre as pessoas.
Quando palavra e silêncio se excluem mutuamente, a comunicação deteriora-se, porque
provoca um certo aturdimento ou, caso contrário, cria um clima de indiferença. Quando,
porém, silêncio e palavra se integram reciprocamente, a comunicação ganha valor e
significado”. Isso porque “o silêncio é parte integrante da comunicação”. “No
silêncio, escutamo-nos e conhecemo-nos melhor a nós mesmos, nasce e aprofunda-se o
pensamento, compreendemos com maior clareza o que queremos dizer ou aquilo que ouvimos
do outro, discernimos como exprimir-nos. Calando, permite-se à outra pessoa que fale
e se exprima a si mesma, e permite-nos a nós não ficarmos presos, por falta da adequada
confrontação, às nossas palavras e ideias. Deste modo abre-se um espaço de escuta
recíproca e torna-se possível uma relação humana mais plena.” “Do silêncio deriva
uma comunicação mais exigente, que faz apelo à sensibilidade e à capacidade de escuta”.
“Uma reflexão profunda ajuda-nos a descobrir a relação existente entre acontecimentos
que, à primeira vista, pareciam não ter ligação entre si, a avaliar e analisar as
mensagens; e isto faz com que se possam compartilhar opiniões ponderadas e pertinentes,
gerando um conhecimento comum autêntico. Para tal, é necessário criar um ambiente
propício, uma espécie de «ecossistema» capaz de equilibrar silêncio, palavra, imagens
e sons. A Mensagem do Papa recorda que hoje em dia “a Rede [das comunicação digital]
vai-se tornando cada vez mais o lugar das perguntas e das respostas; mais, o homem
de hoje vê-se, frequentemente, bombardeado por respostas a questões que nunca se pôs
e a necessidades que não sente. O silêncio é precioso para favorecer o necessário
discernimento entre os inúmeros estímulos e as muitas respostas que recebemos, justamente
para identificar e focalizar as perguntas verdadeiramente importantes”. “No fundo,
este fluxo incessante de perguntas manifesta a inquietação do ser humano, sempre à
procura de verdades, pequenas ou grandes, que dêem sentido e esperança à existência.
O homem não se pode contentar com uma simples e tolerante troca de cépticas opiniões
e experiências de vida: todos somos perscrutadores da verdade e compartilhamos este
profundo anseio, sobretudo neste nosso tempo em que, quando as pessoas trocam informações,
estão já a partilhar-se a si mesmas, a sua visão do mundo, as suas esperanças, os
seus ideais”. E, sempre a propósito de “silêncio e palavra – caminho de evangelização”,
conclui o Papa: “Educar-se em comunicação quer dizer aprender a escutar, a contemplar,
para além de falar; e isto é particularmente importante paras os agentes da evangelização:
silêncio e palavra são ambos elementos essenciais e integrantes da acção comunicativa
da Igreja para um renovado anúncio de Jesus Cristo no mundo contemporâneo”.
Eis
o texto integral da Mensagem:
"Amados irmãos e irmãs, Ao aproximar-se o
Dia Mundial das Comunicações Sociais de 2012, desejo partilhar convosco algumas reflexões
sobre um aspecto do processo humano da comunicação que, apesar de ser muito importante,
às vezes fica esquecido, sendo hoje particularmente necessário lembrá-lo. Trata-se
da relação entre silêncio e palavra: dois momentos da comunicação que se devem equilibrar,
alternar e integrar entre si para se obter um diálogo autêntico e uma união profunda
entre as pessoas. Quando palavra e silêncio se excluem mutuamente, a comunicação deteriora-se,
porque provoca um certo aturdimento ou, no caso contrário, cria um clima de indiferença;
quando, porém se integram reciprocamente, a comunicação ganha valor e significado.
O silêncio é parte integrante da comunicação e, sem ele, não há palavras densas
de conteúdo. No silêncio, escutamo-nos e conhecemo-nos melhor a nós mesmos, nasce
e aprofunda-se o pensamento, compreendemos com maior clareza o que queremos dizer
ou aquilo que ouvimos do outro, discernimos como exprimir-nos. Calando, permite-se
à outra pessoa que fale e se exprima a si mesma, e permite-nos a nós não ficarmos
presos, por falta da adequada confrontação, às nossas palavras e ideias. Deste modo
abre-se um espaço de escuta recíproca e torna-se possível uma relação humana mais
plena. É no silêncio, por exemplo, que se identificam os momentos mais autênticos
da comunicação entre aqueles que se amam: o gesto, a expressão do rosto, o corpo enquanto
sinais que manifestam a pessoa. No silêncio, falam a alegria, as preocupações, o sofrimento,
que encontram, precisamente nele, uma forma particularmente intensa de expressão.
Por isso, do silêncio, deriva uma comunicação ainda mais exigente, que faz apelo à
sensibilidade e àquela capacidade de escuta que frequentemente revela a medida e a
natureza dos laços. Quando as mensagens e a informação são abundantes, torna-se essencial
o silêncio para discernir o que é importante daquilo que é inútil ou acessório. Uma
reflexão profunda ajuda-nos a descobrir a relação existente entre acontecimentos que,
à primeira vista, pareciam não ter ligação entre si, a avaliar e analisar as mensagens;
e isto faz com que se possam compartilhar opiniões ponderadas e pertinentes, gerando
um conhecimento comum autêntico. Por isso é necessário criar um ambiente propício,
quase uma espécie de «ecossistema» capaz de equilibrar silêncio, palavra, imagens
e sons. Grande parte da dinâmica actual da comunicação é feita por perguntas à
procura de respostas. Os motores de pesquisa e as redes sociais são o ponto de partida
da comunicação para muitas pessoas, que procuram conselhos, sugestões, informações,
respostas. Nos nossos dias, a Rede vai-se tornando cada vez mais o lugar das perguntas
e das respostas; mais, o homem de hoje vê-se, frequentemente, bombardeado por respostas
a questões que nunca se pôs e a necessidades que não sente. O silêncio é precioso
para favorecer o necessário discernimento entre os inúmeros estímulos e as muitas
respostas que recebemos, justamente para identificar e focalizar as perguntas verdadeiramente
importantes. Entretanto, neste mundo complexo e diversificado da comunicação, aflora
a preocupação de muitos pelas questões últimas da existência humana: Quem sou eu?
Que posso saber? Que devo fazer? Que posso esperar? É importante acolher as pessoas
que se põem estas questões, criando a possibilidade de um diálogo profundo, feito
não só de palavra e confrontação, mas também de convite à reflexão e ao silêncio,
que às vezes pode ser mais eloquente do que uma resposta apressada, permitindo a quem
se interroga descer até ao mais fundo de si mesmo e abrir-se para aquele caminho de
resposta que Deus inscreveu no coração do homem. No fundo, este fluxo incessante
de perguntas manifesta a inquietação do ser humano, sempre à procura de verdades,
pequenas ou grandes, que dêem sentido e esperança à existência. O homem não se pode
contentar com uma simples e tolerante troca de cépticas opiniões e experiências de
vida: todos somos perscrutadores da verdade e compartilhamos este profundo anseio,
sobretudo neste nosso tempo em que, «quando as pessoas trocam informações, estão já
a partilhar-se a si mesmas, a sua visão do mundo, as suas esperanças, os seus ideais»
(Mensagem para o Dia Mundial das Comunicações Sociais de 2011). Devemos olhar
com interesse para as várias formas de sítios, aplicações e redes sociais que possam
ajudar o homem actual não só a viver momentos de reflexão e de busca verdadeira, mas
também a encontrar espaços de silêncio, ocasiões de oração, meditação ou partilha
da Palavra de Deus. Na sua essencialidade, breves mensagens – muitas vezes limitadas
a um só versículo bíblico – podem exprimir pensamentos profundos, se cada um não descuidar
o cultivo da sua própria interioridade. Não há que surpreender-se se, nas diversas
tradições religiosas, a solidão e o silêncio constituem espaços privilegiados para
ajudar as pessoas a encontrar-se a si mesmas e àquela Verdade que dá sentido a todas
as coisas. O Deus da revelação bíblica fala também sem palavras: «Como mostra a cruz
de Cristo, Deus fala também por meio do seu silêncio. O silêncio de Deus, a experiência
da distância do Omnipotente e Pai é etapa decisiva no caminho terreno do Filho de
Deus, Palavra Encarnada. (...) O silêncio de Deus prolonga as suas palavras anteriores.
Nestes momentos obscuros, Ele fala no mistério do seu silêncio» (Exort. ap. pós-sinodal
Verbum Domini, 30 de Setembro de 2010, n. 21). No silêncio da Cruz, fala a eloquência
do amor de Deus vivido até ao dom supremo. Depois da morte de Cristo, a terra permanece
em silêncio e, no Sábado Santo – quando «o Rei dorme (…), e Deus adormeceu segundo
a carne e despertou os que dormiam há séculos» (cfr Ofício de Leitura, de Sábado Santo)
–, ressoa a voz de Deus cheia de amor pela humanidade. Se Deus fala ao homem mesmo
no silêncio, também o homem descobre no silêncio a possibilidade de falar com Deus
e de Deus. «Temos necessidade daquele silêncio que se torna contemplação, que nos
faz entrar no silêncio de Deus e assim chegar ao ponto onde nasce a Palavra, a Palavra
redentora» (Homilia durante a Concelebração Eucarística com os Membros da Comissão
Teológica Internacional, 6 de Outubro de 2006). Quando falamos da grandeza de Deus,
a nossa linguagem revela-se sempre inadequada e, deste modo, abre-se o espaço da contemplação
silenciosa. Desta contemplação nasce, em toda a sua força interior, a urgência da
missão, a necessidade imperiosa de «anunciar o que vimos e ouvimos», a fim de que
todos estejam em comunhão com Deus (cf. 1 Jo 1, 3). A contemplação silenciosa faz-nos
mergulhar na fonte do Amor, que nos guia ao encontro do nosso próximo, para sentirmos
o seu sofrimento e lhe oferecermos a luz de Cristo, a sua Mensagem de vida, o seu
dom de amor total que salva. Depois, na contemplação silenciosa, surge ainda mais
forte aquela Palavra eterna pela qual o mundo foi feito, e identifica-se aquele desígnio
de salvação que Deus realiza, por palavras e gestos, em toda a história da humanidade.
Como recorda o Concílio Vaticano II, a Revelação divina realiza-se por meio de «acções
e palavras intimamente relacionadas entre si, de tal modo que as obras, realizadas
por Deus na história da salvação, manifestam e confirmam a doutrina e as realidades
significadas pelas palavras; e as palavras, por sua vez, declaram as obras e esclarecem
o mistério nelas contido» (Const. dogm. Dei Verbum, 2). E tal desígnio de salvação
culmina na pessoa de Jesus de Nazaré, mediador e plenitude da toda a Revelação. Foi
Ele que nos deu a conhecer o verdadeiro Rosto de Deus Pai e, com a sua Cruz e Ressurreição,
nos fez passar da escravidão do pecado e da morte para a liberdade dos filhos de Deus.
A questão fundamental sobre o sentido do homem encontra a resposta capaz de pacificar
a inquietação do coração humano no Mistério de Cristo. É deste Mistério que nasce
a missão da Igreja, e é este Mistério que impele os cristãos a tornarem-se anunciadores
de esperança e salvação, testemunhas daquele amor que promove a dignidade do homem
e constrói a justiça e a paz. Palavra e silêncio. Educar-se em comunicação quer
dizer aprender a escutar, a contemplar, para além de falar; e isto é particularmente
importante paras os agentes da evangelização: silêncio e palavra são ambos elementos
essenciais e integrantes da acção comunicativa da Igreja para um renovado anúncio
de Jesus Cristo no mundo contemporâneo. A Maria, cujo silêncio «escuta e faz florescer
a Palavra» (Oração pela Ágora dos Jovens Italianos em Loreto, 1-2 de Setembro de 2007),
confio toda a obra de evangelização que a Igreja realiza através dos meios de comunicação
social.
Vaticano, 24 de Janeiro – dia de São Francisco de Sales – de 2012.