Cidade do Vaticano,
24 jan (RV) – Ensina a Bíblia nos livros dos Reis que o profeta Elias percebera
a voz de Deus no “sussurro de uma brisa leve”. Por muitos e dolorosos anos – aqueles
cruéis do regime comunista – os ouvintes albaneses da RV escutaram a voz do Papa e
da Igreja por meio do sussurro das transmissões clandestinas, com o rádio em volume
mínimo, às vezes sufocado por um travesseiro, já que ser flagrado ouvindo aquela frequência
que chegava de Roma poderia custar a própria vida.
O Programa Albanês da RV
foi fundado há exatos 60 anos e acompanhou o calvário da Albânia. E, como quem escutava,
acompanhou sussurrando o amor de Deus, o magistério do Papa, o caminho da Igreja,
o otimismo da fé a quem todos os dias, pela mesma fé, era maltratado ou marginalizado;
condenado à morte.
Sessenta anos de transmissões para recontar o rosto de
Jesus – sofredor e maltratado – recolhido nos rostos dos ouvintes, nas suas histórias
das quais se conseguia entender ou se imaginava qualquer coisa: a inocência de uma
criança ou o cantar alegre de uma menina livre da brutalidade do regime comunista.
Ou a dignidade de tantos adultos, capazes de resistir à violação dos direitos, aos
abusos de poder. Ou a notícia do martírio de algum sacerdote, ou mesmo de um leigo,
operário ou intelectual, de uma pessoa morta com o nome de Cristo nos lábios e no
coração o desejo de uma liberdade com a qual ninguém jamais haveria rompido.
O
Programa Albanês da RV viveu assim: “sintonizado” com o sofrimento dos compatriotas
distantes, aos quais apresentar Jesus crucificado – com o qual mais facilmente podia
se identificar – para reforçar, por meio da notícia da sua Ressurreição, a certeza
da esperança; para devolver a quem todos os dias experienciava o pior lado da alma
humana, um dardo de luz divina, porque o homem foi feito à imagem de Deus.
Em
1982, quando ainda não era possível prever o fim do pesadelo no Leste Europeu, escreviam
os jornalistas da época: “O Programa Albanês adequou as transmissões às três categorias
de ouvintes: os muçulmanos, os ortodoxos e os católicos. Para os primeiros – porque
eram os mais vulneráveis à propaganda comunista, que não parava de declarar que a
Igreja católica não existe mais no mundo moderno – procurou-se destacar a importância
que têm os discursos e as viagens do Santo Padre”, enquanto “para os irmãos ortodoxos
e para os católicos, nos três dias da semana dedicados a eles foram transmitidos três
cursos de catequese.
E dos ouvintes chegavam “confirmações”, como mostra uma
nota de 1989, “que a RV é a única voz de alívio e consolação. É a fonte de fé e de
esperança para os cristãos e os habitantes na Albânia” e nos outros países onde estão
os albaneses como Kosovo, Monte Negro e Macedónia. Sempre atento aos seus desafios,
o Programa Albanês da RV procura ser uma companhia diária para os ouvintes transmitindo
a Palavra do Papa e da Igreja e na luz do Evangelho, oferecer o alfabeto da vida.
(RB)