Liverpool (RV) – Os cristãos podem ser pró-Israel e pró-Palestina, garante
o Arcebispo de Liverpool. Dom Patrick Kelly retornou na última semana de uma viagem
à Terra Santa. Trata-se de uma iniciativa recorrente, que tem por objetivo mostrar
solidariedade para com a Igreja local.
“Estes encontros foram estabelecidos
12 anos atrás pela Santa Sé. A ideia inicial era que os presidentes das conferências
episcopais, ou um representante, dos países que tiveram um papel político no estabelecimento
da Terra Santa, como é atualmente, pudessem se reunir ali para apoiar a Igreja local”,
explicou.
A ideia é encorajar os cristãos da Terra Santa a cumprirem um duplo
papel: “Queremos apoiar a Igreja em duas funções, o seu esforço para nunca ficar calada
diante da injustiça, venha ela de onde vier, e também o de ser sempre uma Igreja que
procura a reconciliação”. Ao longo dos anos, a delegação tem se deparado com o problema
da diminuição da população cristã na terra onde o Cristianismo nasceu.
Há
uma série de fatores que contribuem para esta realidade, explica o arcebispo de Liverpool:
“Os cristãos sentem muito, sobretudo em locais como Belém, que vivem quase como prisioneiros,
tais são as restrições à liberdade de movimentação. No nosso comunicado final, usamos
o termo ‘estado de ocupação’”, afirmou.
A Igreja é reconhecida pelo papel
que desenvolve no campo da educação, mas mesmo isso acaba por alimentar a emigração:
“Por razões que compreendo bem, sendo filho de um imigrante econômico da Irlanda para
a Inglaterra, a educação muitas vezes abre portas de saída para países onde existe
outra liberdade e mais espaço”.
Esta não é a única comparação que Dom Patrick
Kelly encontra entre a situação na Terra Santa e a Irlanda dos seus antepassados.
Sobre as recentes cenas de conflito que tiveram lugar na Igreja da Natividade entre
monges de diferentes confissões cristãs, o Arcebispo lamenta, mas encontra uma explicação.
“É complexo. Conhecendo bem a história da Irlanda, sei que onde há sofrimento e um
sentimento de injustiça, o comportamento pode ser negativo. É muito difícil levar
uma vida normal num contexto em que pesam tantos fatores sobre nós. Claro que é tentador
dizer que isto não se devia ocorrer, mas se eu vivesse naquela realidade todos os
dias é natural que proferisse palavras ou fizesse atos que lamentaria mais tarde”,
destaca o prelado.
Apesar do cenário difícil que encontra todos os anos que
vai à Terra Santa, Dom Patrick Kelly não deixa de viver com esperança, e recorda as
palavras de Paulo VI, o primeiro Papa que visitou Israel como peregrino: “Ele declarou:
‘Se querem paz, procurem a justiça’, tenho a certeza de que se houver justiça para
estes dois povos, que vivem três formas diferentes de seguir a Deus, então haverá
paz e as comunidades terão mais esperança para o futuro.”
O arcebispo recorda
que existe uma posição do Vaticano sobre esta região e diz que não é preciso tomar
partidos: “A Santa Sé é a favor de uma solução de dois Estados. No nosso comunicado
final, mencionamos que não é preciso escolher entre ser pró-Israel ou pró-Palestina.
Para haver paz para ambos os povos, tem de haver justiça para todos”. (SP)