Roma (RV) –
Desde primeiro de janeiro de 2012, o Brasil ocupa um lugar de brilho na cúpula
de uma instituição internacional, com sede na capital italiana: José Graziano da Silva,
agrônomo, professor e escritor que entre 2003 e 2004, atuou no gabinete de Luiz Inácio
Lula da Silva como ministro extraordinário de Segurança Alimentar e Combate à Fome.
Foi o responsável pela implementação do Programa Fome Zero, iniciativa que contribuiu
para que 28 milhões de pessoas deixassem a linha da pobreza durante o governo Lula.
Em 26 de junho de 2011, foi eleito diretor-geral da Organização das Nações
Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO), cargo no qual tomou posse em e deve terminar
em julho de 2015.
A Santa Sé possui um observador permanente junto às Organizações
e organismos das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO, IFAD e PAM):
Dom Luigi Travaglino, nomeado por Bento XVI um ano atrás.
O arcebispo serve
a diplomacia da Santa Sé desde 1970, tendo trabalhado nas Nunciaturas da Bolívia,
Etiópia, Portugal, Escandinávia, Zaire, El Salvador, Holanda, Grécia e, enfim, na
Secretaria de Estado. Em 1992, foi delegado apostólico na Serra Leoa, pró-núncio na
Guiné, na Gâmbia e na Libéria. Foi núncio apostólico na Nicarágua em 95 e sucessivamente,
em 2001, transferido para a Seção de Relações com os Estados da Secretaria de Estado.
O Programa Brasileiro conversou com ele. Para ouvir a reportagem, clique acima.
Pela
primeira vez, um latino-americano presidirá a FAO. Quais são as expectativas da Santa
Sé para este mandato?
“Independentemente do fato que seja um diretor geral
latino-americano, ele quis sublinhar que representa todos os países membros, e, portanto,
nós o vemos neste sentido católico, universal, de grande abertura. É natural que de
um novo responsável se espere algo de novo no compromisso de levar adiante os projetos
iniciados”.
“Em mais de uma ocasião, o Dr. José Graziano da Silva teve
chance de falar sobre o seu programa de trabalho. Lembramos o discurso na conferência
da FAO em fins de junho de 2011, defendendo a sua candidatura, indicou cinco pontos
fundamentais, que definiu cinco pilares sobre os quais construir a sua atividade de
organização: erradicar a fome no mundo; instaurar um novo equilíbrio duradouro entre
produção e consumo alimentar; promover mais equidade na gestão do sistema alimentar,
levando em conta as mudanças climáticas e suas conseqüências; completar o processo
de reforma da FAO, que se arrasta há tantos anos e que se deve concluir em 2012, para
favorecer a descentralização e a redução das despesas e da burocracia. Como último
ponto, intensificar a cooperação entre os parceiros. Foi muito apreciado o fato que
em mais de uma ocasião, neste ano, os responsáveis das 3 organizações da ONU em Roma
se apresentaram juntos (FAO, IFAD e PAM) e me parece que o Dr. José Graziano foi muito
claro, porque reiterou estes cinco pilares diante do Conselho da FAO, em 1º de dezembro
passado, solicitando também, para sua atuação, o apoio de todos os estados-membros”.
José
Graziano traz consigo a experiência do Programa Fome Zero, atuado com sucesso no Brasil.
É possível colocá-lo na prática em outros países?
“Certamente um projeto
como esse deve ser estudado, aprofundado, adaptado às várias situações, ou contingências
locais. É uma experiência que deve ser considerada e aplicada em outras situações
semelhantes. O fato que tenha sido pelo menos cinco anos responsável pelo Departamento
da FAO para a América Latina e o Caribe é certamente uma vantagem. A experiência que
fez no Brasil não terminou ali. Já como responsável deste escritório regional, teve
a ocasião de falar deste projeto, de fazê-lo conhecer a outros que estiveram muito
abertos, dispostos a estudá-lo e aplicá-lo em seus respectivos países”. (CM)