2012-01-09 12:28:59

2011: Um ano diferente dos outros em África!


Haveria muito que dizer acerca do balanço do ano 2011 em África. Mas não se limitaria à habitual lista de preconceitos – guerra, fome, pobreza – que foram, todavia, evocados e vividos ao longo do ano.
Iniciado com o banho de sangue causado pelo massacre de cristãos coptas em Alexandria, no Egipto, a 1 de Janeiro, o ano 2011 concluiu-se também sob as marcas do ódio violento contra os cristãos. Com efeito, na Nigéria, o dia 25 de Dezembro foi um Natal de sangue, consequência dos ataques contra igrejas em diversas cidades do país, com a morte de um número importante de pessoas.

À semelhança desta lógica de violência inicial e final, a política não ficou atrás. 2011 começou efectivamente com o prolongamento sangrento de um conflito de protesto eleitoral na Costa do Marfim e concluiu-se com uma outra contestação eleitoral, ela também com mortes, na República Democrática do Congo. Do Ocidente ao centro do Continente, poder-se-ia dizer que houve uma mesma linha de continuidade que parece justificar a habitual percepção do continente como uma área sempre à margem da história.

No entanto, seja do ponto de vista religioso, seja politico, foi também uma África surpreendente a que se revelou ao mundo no ano passado. O que emergiu foi um continente à procura da sua própria identidade e da melhor forma de se desenvolver. E mesmo que se trate da rapidez duma notícia de primeiro plano, ou de fenómenos positivos limitados a determinadas regiões do continente, o certo é que os povos africanos, no seu conjunto, partilham as mesmas aspirações dos homens e mulheres do seu tempo no mundo inteiro.

No plano religioso, a Igreja sempre esteve ao lado da África, mas ao longo do ano 2011 respondeu de forma especial a esta sua nobre missão, mediante diversas intervenções significativas, tendo o próprio Papa sido mais do que um advogado desta “terra de esperança”! Como não recordar a comovente visita pastoral ao Benin de 18 a 20 de Novembro?! Bento XVI foi ao encontro da Igreja em África, foi entregar-lhe o fruto das reflexões do segundo Sínodo dos bispos para a África realizado no Vaticano em 2009 e prestar uma fervente homenagem a um dos dignos filhos do continente, o saudoso cardeal Bernardin Gantin, natural do Benin e seu grande amigo. E foi o próprio Papa a explicar aos jornalistas as outras razões da sua segunda visita pastoral à África.

“A primeira [razão], o Benin é um país em paz, em paz exterior e interior. Há instituições democráticas que funcionam, realizadas no espírito de liberdade e responsabilidade e, portanto, a justiça e o trabalho para o bem comum são possíveis e garantidos pelo funcionamento das instituições democráticas e pelo sentido de responsabilidade na liberdade. A segunda razão é que há [no Benin] como na maior parte dos países da África, uma presença de diversas religiões e uma [coexistência] pacífica da religiões. Há os cristãos na sua diversidade – nem sempre fácil – há os muçulmanos e há, finalmente, as religiões tradicionais; todas essas três religiões, diferentes, vivem juntas no respeito recíproco e da comum responsabilidade pela paz, pela reconciliação interior e exterior”.

Era, sem dúvida alguma, necessária uma personalidade como o Papa para guiar os comentadores da actualidade e levá-los a constatar que a África não se reduz, e ainda menos em 2011, a guerras atávicas e a conflitos sangrentos! Que mesmo no plano político as “titubeações” não devem esconder os casos importantes de alternância democrática, de organização impecável de eleições e de aceitação, sem protestos, dos resultados pelas nações. Foi o caso de Alpha Condé, na Guiné Conacri: ele venceu as eleições de Novembro num país por longos anos sob as garras dos militares e levou a população a entrar no novo ano com esperanças mais firmes; o caso de Cabo Verde que a 6 de Fevereiro organizou eleições impecáveis que deram a vitória ao PAICV. A Zâmbia em Setembro, etc.…

No plano formal, ao ano de 2011 foi literalmente um ano como os outros: 28 países organizaram eleições eleitorais. O ano viu também o nascimento, a 9 de Julho, do 54º Estado africano: o Sudão do Sul. 2011 foi também o ano desse movimento que sacudiu o planeta e que será recordado como “A Primavera Árabe”. O rosto dos países árabes da África foi modificado e com ele o do resto do mundo. A Tunísia, o Egipto, a Líbia, o Marrocos, a Argélia viram passar à história dirigentes aparentemente irremovíveis. E sob o impulso duma opinião pública até então espezinhada, esses países viram-se obrigados a rever as suas constituições, a partilhar o poder e a reformular as suas agendas políticas. “O fruto positivo da Primavera Árabe é, antes de mais o próprio movimento e o facto de hoje em dia, naqueles Estados, marcados pela revolução, o povo poder opor-se aos governos autocráticos e de se ter aviado um debate popular sobre o futuro politico e social do Pais” – declarou recentemente à Rádio Vaticano o jesuíta, P. Samir Khalil Samir. Em entrevista à nossa Emissora, este jesuíta afirmou que “A revolução a favor da democracia e os direitos humanos nos países à cabeça da Primavera árabe, não faliu (…) O prevalecer dos islamistas na Tunísia e Egipto é apenas uma mostra da estrutura real daquelas sociedades (…). Todo o mundo árabe-islâmico vê o islão como o ideal da vida social, política e religiosa (…). A questão é como será interpretada a presença da religião islâmica na vida politica e social”

Também do ponto de vista económico - com um crescimento de 6%, conforme dados do Banco Mundial - a África mostrou-se dinâmica em 2011. Não é vaidade dizê-lo mesmo que o continente continue, não obstante tudo, a ter dificuldades em traduzir este crescimento económico em bem-estar para toda a população. Não há dúvida de que é ao Papa que é preciso deixar a tarefa de formular os melhores votos para o Continente. 2011 foi também, não nos esqueçamos, o ano em que duas mulheres africanas foram galardoadas com o Prémio Nobel da Paz! Então, que votos fazer para 2012? Não há dúvida de que dever-se-ia transformar em votos prementes, as palavras do Papa aos membros do governo do Benin nessa fabulosa viagem:

“Quando digo que a África é o continente da esperança, não é simples retórica. É simplesmente expressão duma convicção pessoal que é também a da Igreja. (…) Nestes últimos meses, muitos povos manifestaram desejo de liberdade, necessidade de segurança material, vontade de viver harmoniosamente as diferenças étnicas e religiosas. Nasceu até um novo Estado no Continente. (…) Desta tribuna, lanço um apelo a todos os responsáveis políticos e económicos dos países africanos e do resto do mundo. Não privais os vossos povos da esperança! Não lhe amputais o futuro, mutilando o presente!”.

Por Albert Mianzoukouta – Programa Francês/África – Rádio Vaticano












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