O nascimento de Jesus e a Estrela-Guia: existe uma relação?
Cidade do Vaticano
(RV) - A Igreja no Brasil celebra a festa da Epifania neste domingo, 8 de janeiro.
No dia da Epifania, recordamos que os Reis magos visitaram o pequeno Jesus, recém-nascido.
No Brasil, o Dia dos Reis Magos é popularmente celebrado no dia 6 de janeiro. Como
diz o Evangelho de Mateus, os três estrangeiros, Melquior, Baltasar e Gaspar teriam
sido guiados pela Estrela de Belém.
“Tendo eles ouvido o rei, partiram;
e eis que a estrela, que tinham visto no Oriente, ia adiante deles, até que, chegando,
se deteve sobre o lugar onde estava o menino. E vendo eles a estrela, regozijaram-se
muito com grande alegria. E entrando na casa, acharam o menino com Maria sua mãe e,
prostrando-se, o adoraram; e abrindo os seus tesouros, ofertaram-lhe dádivas: ouro,
incenso e mirra”.
Nesta passagem, Mateus descreve um fenômeno astronômico
que acompanha o nascimento do Menino. Para aprofundar o significado histórico, científico
e espiritual da imagem da Estrela-guia, a colega Fausta Speranza entrevistou o diretor
do Observatório Astronômico do Vaticano, o jesuíta argentino Padre José Gabriel Funes:
“Não
há provas históricas de um evento astronômico na época, mas não se pode dizer com
certeza que ele não aconteceu. O que sabemos, graças principalmente aos estudiosos
biblistas, é que o evangelista Mateus tenta explicar a infância de Jesus e o cumprimento
das Escrituras Nele. Isso tem um significado muito bonito e profundo”.
Existe,
todavia, uma relação entre história e ciência: hoje sabemos que o nascimento de Jesus
era associado a um evento astronômico...
“Muitas vezes o nascimento de grandes
personagens históricos é associado a um evento astronômico. Pode ser esta a explicação.
Ou pode ser que tenha havido uma conjunção de Júpiter com Saturno, ou com outro planeta;
ou uma estrela que explodiu, uma nova ou super-nova... ou até uma estrela cometa...
Creio que o importante seja o significado espiritual, que tem um fundamento também
na história, ou seja, o nascimento de Jesus".
O diretor do Observatório
Astronômico do Vaticano explica, do ponto de vista científico, mas com uma linguagem
simples, o que é exatamente o fenômeno astronômico do cometa:
“Os cometas
se formam na periferia de nosso sistema solar e estão muito distantes do sol. Pode
ser que uma estrela vizinha, passando perto do sol, movimente estes objetos astronômicos.
Plutão, por exemplo, é um destes corpos da periferia do sistema solar que se aproximam
ao sol e se transformam em cauda do cometa. O núcleo pode ser de 3 ou 4 km, mas até
10 ou 12, e a cauda é muito mais longa, podendo crescer até 150 milhões de km".
Fenômeno científico e fé: a Estrela-guia era o ponto de referência para os
Reis Magos que procuravam Jesus. Um forte valor de fé. Assim sendo, a Estrela nos
leva a raciocinar sobre a relação entre ciência e fé neste momento em que muitos tentam
negar tal relação...
“Certamente. Muitas vezes em nossa cultura cotidiana,
que é por vezes superficial, ciência e fé são apresentadas como inimigos em uma espécie
de guerra santa. Ao contrário, para nós, os Reis Magos são um exemplo de que a ciência
e a fé podem se ajudar mutuamente, ser integradas, viver em harmonia. Os Magos são
peregrinos, são aqueles que buscam a verdade. São exemplos para nós as pessoas intelectualmente
honestas que com a sua inteligência procuram a verdade. Como diz o Evangelho, ao encontrar
a verdade, ao encontrar Jesus, ao ver as estrelas eles ficam felizes e me parece que
esta é uma mensagem muito bonita e importante para nossos tempos. Acho que ainda hoje,
esta imagem do presépio é muito atual para falar de Igreja. A Igreja está presente
em meio aos pobres, aos pastores, a quem é anunciado primeiramente o nascimento de
Jesus; e existe também um anúncio diferente feito aos Magos, que representam, por
assim dizer, intelectuais e cientistas: também a eles o anúncio da Estrela se dirige”.
(CM)