Cardeal Ortega y Alamino: Papa em Cuba será "peregrino da caridade"
Havana (RV) - Estão em pleno ritmo os preparativos em Cuba e no México para
a viagem que o Papa realizará, de 23 a 28 de março próximo, a esses dois países da
América Latina. Os episcopados locais já publicaram o programa da visita, anunciada
pelo próprio Santo Padre. A esse propósito, a colega do "Programa Hispano-americano"
Alina Tufani perguntou ao Arcebispo de Havana, Cardeal Jaime Lucas Ortega y Alamino,
como a notícia foi acolhida em Cuba. Eis o que disse:
Cardeal Jaime Lucas
Ortega y Alamino:- "Foi uma grande alegria. É um evento muito esperado: para nós
é surpreendente que o Papa tenha escolhido o nosso país junto ao México para vir à
América Latina. O México é um grande país, emblemático para toda a América Latina,
e Cuba encontra-se no itinerário dessa viagem. O Papa fora convidado há muito tempo,
desde a visita a Cuba do Cardeal Secretário de Estado Tarcisio Bertone, num momento
que coincidia com a posse do novo Presidente, Raul Castro, que naquela ocasião convidou
calorosamente o Papa, de modo insistente, para que viesse a Cuba. Estávamos cheios
de esperança e o próprio Papa, quando lhe falei desse convite, me disse trazer no
coração esse desejo de vir a Cuba."
RV: Sem dúvida, a visita de João Paulo
II em 1998 marcou a história de Cuba. Quais são as expectativas da Igreja cubana para
essa nova visita de um Papa?
Cardeal Jaime Lucas Ortega y Alamino:-
"O Papa tem agora uma ocasião privilegiada para vir a Cuba: a celebração dos 400 anos
da descoberta da imagem de Nossa Senhora da Caridade do Cobre. Essa devoção é realmente
nacional e une os cubanos de modo especial: o povo aqui sabe que a caridade nos une.
O Papa quer, em primeiro lugar, celebrar o jubileu da Virgem da Caridade e virá a
Cuba justamente como "peregrino da caridade". Quais são as nossas expectativas? Já
tivemos a experiência da visita de João Paulo II, que marcou a história da nossa nação
cubana, que criou um antes e um depois, embora isso não seja quantificável do ponto
de vista matemático, assim como as coisas do espírito não são quantificáveis. As mudanças
que produz uma ação voltada para o íntimo do coração humano e da alma dos povos não
são verificáveis como para um evento qualquer, mas deixam um marca que permite o nascimento
de uma nova fase. Ora, existe uma grande recordação da visita de João Paulo II e há
uma grande expectativa para a chegada de Bento XVI. É a impressão que fica no espírito
desse povo. E este é um momento muito oportuno para que o Papa colha o fruto de tudo
isso."
RV: A visita de João Paulo II mudou muitas coisas para a Igreja cubana,
que agora tem mais acesso aos meios de comunicação e pode acolher missionários estrangeiros...
Cardeal
Jaime Lucas Ortega y Alamino:- "Sim, temos mais acesso aos meios de comunicação.
Há anos pronuncio a Mensagem de Natal no canal de maior audiência da televisão cubana
e esses pronunciamentos têm um impacto inacreditável. Ademais, não há dificuldade
para a entrada dos missionários em Cuba, após a visita de João Paulo II. Muitas coisas
abriram, passo a passo, por exemplo, o fato de poder receber livros religiosos de
todos os tipos: filosóficos, teológicos e de divulgação religiosa. Creio que o aspecto
mais difícil é a crise de vocações. Graças a Deus construímos um seminário em Havana.
Estamos com sessenta seminaristas do país inteiro e isso significa que temos um expressivo
grupo de cubanos que se preparam para o sacerdócio. Existem menos vocações para a
vida consagrada feminina; temos mais para o sacerdócio. Mas não podemos confiar somente
em nossas possibilidades, precisamos de uma ajuda de fora. Em todo caso, devemos animar
mais os leigos. De fato, o que falta agora é a participação dos leigos. Aí está o
caminho da Igreja para o futuro." (RL)