Terra Santa: "Derrubar muros dos corações e abater muros de concreto"
Jerusalém (RV) – Os católicos palestinos e dezenas de milhares de peregrinos
de todo o mundo comemoraram o dia de Natal em Belém, Jerusalém e Nazaré debaixo de
chuvas intensas, que não impediram a celebração dos atos religiosos mais importantes.
Orações,
missas e peregrinações foram constantes durante toda a jornada, particularmente em
Belém, onde se encontra a Basílica da Natividade, repleta de fiéis munidos de guarda-chuvas
e capas.
Ao lado da Basílica, a Igreja de Santa Catarina recebeu centenas de
fiéis para a Missa do Galo, presidida pelo Patriarca Latino de Jerusalém, Dom Fuad
Twal.
Na cerimônia no templo, completamente lotado por cristãos locais e peregrinos,
e transmitida para todo o mundo pela TV palestina, Dom Twal convidou os líderes religiosos
do Oriente Médio a envolver-se nas “mudanças radicais” que a região está sofrendo
e a “proteger seu povo, ajudando suas aspirações”.
“Nossa região está atravessando
um momento de transformações que têm um impacto em nosso presente e futuro. Não podemos
ficar parados como meros espectadores” – disse a máxima autoridade católica na Terra
Santa.
“Nós, líderes espirituais, e aqueles que têm em mãos o destino de seus
povos, devemos fazer todo o possível para proteger nossos povos, trabalhar por sua
sobrevivência e cumprir suas aspirações. Estamos com nosso povo com toda a nossa força
porque seus sofrimentos e esperanças são os nossos” – acrescentou.
À frente
dos fiéis que presenciaram o culto, como tradição, estavam o presidente palestino,
Mahmud Abás; o ministro jordaniano do exterior, Naser Judeh, e os representantes dos
países europeus custódios da Terra Santa: Espanha, Itália, Bélgica e França.
Do
altar sobre a gruta em que, segundo a tradição, nasceu Jesus, Dom Twal, 71 anos, nascido
na Jordânia, também abordou a questão palestina, elogiando o Presidente Mahmud Abas
por seus “incansáveis esforços” em favor de uma paz justa no Oriente Médio e de um
Estado palestino, cuja criação é uma das principais aspirações.
“Os palestinos
recorrem à ONU com a esperança de uma solução justa para o conflito, com a intenção
de viver em paz e em segurança com seus vizinhos, mas este processo lhes deixa um
gosto amargo de promessas não cumpridas e um sentimento de desconfiança pelo fracasso
das negociações com Israel” - destacou.
Em clara referência à barreira levantada
por Israel na Cisjordânia, o Patriarca pediu aos fiéis que “derrubem os muros em seus
corações para colocar abaixo os muros de concreto”. "Queremos que o caminho tomado
por nossos antepassados - os Reis magos e os pastores - para ir a Belém fique aberto,
sem barreiras, sem controles, aberto aos peregrinos do mundo inteiro, incluindo o
mundo árabe”.
Em referência à onda de revoltas nos países árabes, pediu “paz,
estabilidade e segurança para todo o Oriente Médio. Oremos pelo retorno da calma e
da reconciliação na Síria, Egito, Iraque e norte da África”.
“Oh, menino de
Belém, neste novo ano deixamos em tuas mãos nosso Oriente Médio convulso, especialmente
seus jovens cheios de aspirações legítimas, estes jovens frustrados pela situação
econômica e política e em busca de um futuro melhor...”.
“Devemos estar orgulhosos
de que, entre todos os continentes e países do mundo, Deus elegeu a Palestina, nossa
querida terra, como lugar de nascimento do Salvador, o aguardado Messias” – disse
na homilia.
Ainda no dia de Natal, o Patriarca Fuad fez uma visita às enfermeiras
franciscanas na Igreja de São Salvador, no bairro cristão da cidade velha de Jerusalém.
Este é o período auge das peregrinações à Terra Santa, principalmente à Belém,
onde passaram por estes dias de 90 a 100 mil pessoas. (CM)