2011-12-23 20:09:46

Frei Cantalamessa: no mundo secularizado, os leigos cristãos chegam com o Evangelho onde os padres não chegam


Cidade do Vaticano (RV) - Bento XVI iniciou seus compromissos desta sexta-feira participando, na Capela Redemptoris Mater da residência pontifícia, da quarta e última pregação do Advento.

Não se pode prescindir, hoje, dos leigos cristãos, das famílias, sobretudo, na ação evangelizadora da Igreja. Foi o que afirmou o Pregador da Casa Pontifícia, o Frade Capuchinho Raniero Cantalamessa, que na manhã desta sexta-feira concluiu, no Vaticano, o ciclo das pregações de Advento feitas na presença do Papa e da Cúria Romana.

Na quarta meditação, o Pregador pontifício reconheceu aos fiéis leigos um papel comumente mais "decisivo" do que o do clero em difundir o Evangelho em contextos secularizados.

De fato, Frei Cantalemessa dedicou sua última reflexão do Advento ao que chama de "quarto mundo": o quarto mundo – segundo a sua reconstrução – das "ondas evangelizadoras" que caracterizaram os dois mil anos de história da Igreja. Após os bispos protagonistas do anúncio de Cristo no mundo greco-romano; os monges no mundo bárbaro; e os frades no Novo mundo americano, o religioso se deteve sobre os fiéis leigos e a sua capacidade de incidir no mundo secularizado "pós-cristão".

É claro – reconheceu o Pregador pontifício – que não se pode apresentar-se a um homem que "perdeu todo e qualquer contato com a Igreja e não mais sabe quem é Jesus" e impor-lhe vinte séculos de doutrina e tradição. Ademais, se "não se pode mudar o essencial do anúncio", se "pode e deve mudar o modo de apresentá-lo", fazendo um esforço de "criatividade":

"Temos um aliado nesse esforço: o falimento de todas as tentativas do mundo secularizado de substituir o Kerygma cristão com outros "gritos" e outros "manifestos". Cito sempre o exemplo da célebre pintura do pintor norueguês Edvard Munch, intitulado "O grito" (...) é um grito de vazio, sem palavras, sem som. Parece-me a descrição mais eficaz da situação do homem moderno que, tendo esquecido o grito repleto de conteúdo que é o Kerygma, acaba tendo que gritar no vazio a própria angústia existencial."

Ao invés, com o Evangelho, sempre é possível partir novamente de um anúncio autêntico, vital, que não é – observou o Frade Capuchinho – nem "ilusão mental", nem uma "operação de arqueologia", graças à "real contemporaneidade de Cristo que vive entre os homens hoje, como dois mil anos atrás, graças à Eucaristia.

Portanto, com os Ministros Extraordinários da Comunhão Eucarística, o Vaticano II descobriu também o protagonismo dos leigos na evangelização. Estes últimos e, sobretudo, as famílias – prosseguiu o religioso – têm uma potencialidade análoga ao processo de fusão do átomo, que os torna no plano espiritual "uma espécie de energia nuclear da Igreja":

"Eles não são mais simples colaboradores chamados a dar a sua contribuição profissional, o seu tempo e os seus recursos; são portadores de carismas, com os quais – diz a Lumen gentium – "estão aptos e prontos a assumirem obras e ofícios, úteis para a renovação e a maior expansão da Igreja"."

Os leigos – ressaltou Frei Cantalamessa – são aqueles que, muito mais do que os pastores, podem ir ao encontro dos que se distanciaram. Para os pastores é mais fácil "alimentar com a palavra e os Sacramentos aqueles que vêm a Igreja":

"A parábola da ovelha perdida apresenta-se hoje invertida: noventa e nove ovelhas distanciaram-se e uma permaneceu no aprisco. O perigo é passar todo o tempo e alimentar aquela única que ficou e não ter tempo, inclusive pela escassez do clero – de sair em busca das perdidas. Nisso a contribuição dos leigos se mostra providencial para os nossos tempos. A realização mais significativa nesse sentido são os movimentos eclesiais. A específica contribuição deles para a evangelização é oferecer aos adultos uma ocasião para redescobrir o seu batismo e tornar-se membro ativo e engajado na Igreja." (RL)







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