2011-12-19 10:46:57

Havel, homem corajoso e inseparável da história da nação


Praga (RV) - O ex-presidente tcheco Vaclav Havel, símbolo da dissidência anticomunista, símbolo da renovação democrática na Europa Oriental, faleceu neste domingo aos 75 anos.

Havel encarnou a "Revolução de Veludo" de 1989 que pôs fim sem violência ao regime totalitário de Praga. Primeiro presidente da Tchecoslováquia pós-comunista (1989-1992) e depois da República Tcheca (1993-2003), liderou a democratização de seu país, sua entrada na Otan (1999) e os preparativos para aderir à UE em 2004.

Após o fim de seu mandato, em fevereiro de 2003, apesar de sua saúde frágil, o dramaturgo e ex-dissidente anticomunista dedicou-se à luta pelos direitos humanos em Cuba, Belarus, Mianmar e Rússia.

Retornou também à atividade intelectual, publicando em 2006, de suas memórias políticas e uma obra de teatro, "A ponto de partir", em 2008, que é também o título de seu primeiro filme, que estreou em Praga no dia 14 de março.

Nascido em 5 de outubro de 1936 em Praga em uma família proprietária de estúdios de cinema e dezenas de edifícios na capital, Vaclav Havel foi privado dos estudos pelo regime comunista em nome da luta antiburguesa. Lançou-se então no âmbito teatral, primeiro como maquinista e depois como autor do teatro do absurdo.

Negou-se a se exilar e depois da ocupação soviética em 1968 entrou em dissidência para redigir o manifesto Carta 77, vibrante defesa política dos direitos humanos. Seu compromisso levou-o a passar quatro anos na prisão, onde escreveu suas famosas "Cartas a Olga", sua primeira esposa.

Foi eleito à presidência em 29 de dezembro de 1989.

Vaclav Havel tinha uma saúde frágil devido às pneumonias contraídas nas prisões comunistas e por seu passado de grande fumante. Em dezembro de 1996 foi operado de um câncer do pulmão direito, em abril de 1998 passou novamente pela mesa de cirurgia na Austrália por uma perfuração intestinal e em agosto deste mesmo ano sofreu um ataque cardíaco. No dia 8 de março, foi hospitalizado novamente em Praga, por graves transtornos respiratórios, quinze dias antes da estreia de seu filme "A ponto de partir", baseado em sua última obra teatral.

Domingo, às 18h, os sinos dobraram em catedrais e igrejas ao longo de todo o país. O arcebispo de Praga, Dom Dominik Duka, que passou algum tempo com Havel em uma prisão comunista, disse que Havel “sabia o que significa perder a liberdade, ter subtraída a dignidade, conhecia o significado da repressão e do cativeiro”. “Estou certo – afirmou – de que nós todos, independentemente de nossas visões políticas e religiosas devemos respeitá-lo e agradecê-lo”.

A Conferência Episcopal tcheca expressa seu pesar em uma nota publicada na primeira página de seu site. O Presidente dos bispos, Cardeal Miloslav Vlk recorda alguns momentos relevantes da vida do homem político e intelectual.

A nota manifesta as condolências dos bispos à família e pessoas próximas do falecido ex-Presidente e o mesmo tempo, “dá graças a Deus pela vida deste extraordinário homem, que deu uma contribuição decisiva para o fim do regime comunista e o nascimento de uma nova nação”.

O arcebispo emérito de Praga escreve ainda: “Morreu um homem a quem a nossa nação deve o retorno à soberania e também à liberdade (...) e, portanto, todos nós o homenageamos”.

O Cardeal Miloslav Vlk, que o recorda como “amigo e companheiro de cativeiro”, destaca que Havel foi “um homem corajoso, inseparável da história da nação”.
(CM)







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