Cidade do Vaticano (RV) - Celebra-se este sábado
o Dia dos Direitos Humanos, que recorda os 63 anos da adoção por parte das Nações
Unidas da Declaração Universal dos Direitos do Homem, em 1948.
Na sociedade
atual, pluralista e plurirreligiosa, como fundamentar esses Direitos, como fazer de
modo que sejam universalmente reconhecidos? Foi o que perguntamos ao Pe. Wellistony
Carvalho Viana, Reitor do Seminário da Arquidiocese de Teresina (PI) membro da Comissão
de Direitos Humanos de Teresina:
"O problema da fundamentação filosófica da
dignidade humana é um dos problemas básicos da problemática acerca dos Direitos Humanos.
Há quem diga que Direitos Humanos são simplesmente direitos civis, isto é, direitos
reconhecidos por um Estado de direito democrático, por exemplo é a visão de Habermas.
Mas há outros que digam que os Direitos Humanos são inerentes à pessoa humana, ou
seja, não seria o Estado que daria à pessoa humana esses direitos, mas esses direitos
viriam da sua própria natureza humana. Nesse sentido, é preciso de uma fundamentação,
porque estados que não são estados de direito, que não compartilham por exemplo da
nossa história ocidental, eles muitas vezes questionam dizendo que os direitos que
o Ocidente descobriu, que todos esses direitos basicamente fazem parte da história
do Ocidente, mas não do Oriente. Então muitos países não reconhecem esses direitos
como inerentes à pessoa humana. Daí a necessidade realmente de um discurso filosófico,
de uma discussão para saber realmente se esses direitos são inerentes à pessoa humana
ou se são conferidos pelo Estado, pela comunidade. Defendendo a universalidade e não
a relatividade desses direitos, pode-se dizer que a pessoa humana tem uma dignidade
inerente porque ela pensa, isto é, a ideia de ser humano como ser pensante fundaria
a dignidade da pessoa. Quer dizer, a nossa dignidade não está fundada no físico, mas
numa dimensão intelectual, ou seja, o homem é um ser de vontade livre e de inteligência.
E essas duas características seriam aquelas que fundariam a dignidade da pessoa humana."
A
Igreja Católica vai além deste discurso...
"A Igreja Católica parte de um princípio,
que é a fé, que diz que a pessoa humana, mais do que uma pessoa inteligente, uma pessoa
que tem uma vontade livre, como é o caso da Filosofia, como a simples razão defenderia,
a Igreja concebe que a pessoa humana é Imago Dei, ou seja, ela é a imagem de
Deus. A pessoa foi feita de acordo com a dignidade do próprio Deus. O Salmo diz "pouco
abaixo dos anjos nos fizestes". A dignidade da pessoa humana vem diretamente dessa
fonte divina. A concepção católica, que é uma concepção cristã, e diga-se de passagem
uma concepção que fundou historicamente a nossa visão hoje de pessoa humana, propriamente
o Cristianismo com sua visão de pessoa humana que formatou o Ocidente, essa concepção
hoje é negada pelo pluralismo religioso que nós temos. Na sociedade pluralista, onde
existem várias concepções de pessoa humana, o discurso católico muitas vezes se torna
um entre esses discursos. A Igreja Católica oferece a sua idéia de pessoa humana,
que é válida, mas a defesa dessa imagem deveria acontecer através de outras vias,
como a via racional, aí a importância da Filosofia em todo esse discurso, ou seja,
como dar bases racionais a essa visão cristã de pessoa humana, como fundamentar do
ponto de vista filosófico esse discurso, para que seja depois capaz de atingir as
outras religiões, as outras concepções de mundo."
Como aplicar todos esses
conceitos na prática?
"A prática dos Direitos Humanos cabe basicamente ao Estado.
A descoberta dos Direitos Humanos foi sempre em contraposição ao Estado, é ele que
tem que proteger, promover esses direitos. No nosso Estado, o Brasil, que é um Estado
democrático, onde grande parte desses direitos é negada a uma grande maioria de pessoas,
as comissões de direitos humanos tentam perante o Estado defender tais direitos quando
necessários, mas sobretudo promover a educação para os Direitos Humanos." (BF)