Prática clínica cheia de desperdício e até corrupção
(30/11/2011) Em Portugal o presidente do Conselho Nacional de Ética para as Ciências
da Vida afirmou, esta terça-feira, que a prática clínica está cheia de casos de desperdício
e alguns de corrupção que lesam o Estado e são atentados à ética na saúde. Miguel
Oliveira da Silva falava à margem da conferência sobre Fundamentos Éticos nas Prioridades
em Saúde, que decorre na Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa. Para este especialista
em ginecologia e obstetrícia, actos de desperdício como a prescrição de mamografias
desnecessárias ou exames complementares de diagnóstico repetidos são alguns exemplos
de desperdícios que muitos médicos praticaram, incluindo ele próprio. Mas há outros
casos mais graves e que, segundo Miguel Oliveira da Silva, configuram situações de
corrupção, como a prescrição de exames desnecessários com o único objectivo destes
serem realizados nas clínicas onde os prescritores trabalham e à conta do Serviço
Nacional de Saúde (SNS). Os custos dominaram a intervenção do economista Pedro
Pita Barros, que apresentou à plateia as escolhas que, na sua opinião, terão de ser
feitas para alcançar os limites da despesa pública com medicamentos impostos pela
troika: "Ou os doentes pagam mais, ou consumimos menos ou esmagamos preços". A
situação revela-se mais melindrosa no ambiente hospitalar, no qual as escolhas terão
de ser feitas em áreas como a oncológica. O padre Vitor Feytor Pinto, da Pastoral
da Saúde, trouxe ao debate a espiritualidade nesta área e alertou para que "não se
caia na tentação do toca e foge". "Temos de estar presentes para o doente e ele tem
de saber que estamos lá", disse.