Orçamento do Estado para 2012 aprovado pelo parlamento português. Críticas e apelos
por parte de responsáveis católicos
(30/11/2011) O Parlamento português aprovou hoje a proposta de lei de Orçamento do
Estado (OE) para 2012, em votação final global, com os votos favoráveis dos partidos
da coligação governamental, PSD e CDS-PP. A votação registou a abstenção do PS
e os votos contra das restantes forças políticas com assento parlamentar. A proposta
de OE para o próximo ano mereceu observações de vários setores da Igreja Católica,
com o presidente da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP) a apelar, em Fátima, à
“equidade, nos sacrifícios que se pedem, nos contributos que se esperam de cada pessoa
ou de cada grupo social”. “Pode acontecer que se peçam sacrifícios que acabem por
prejudicar o bem coletivo”, advertia D. José Policarpo, na abertura dos trabalhos
da 178ª assembleia plenária do episcopado católico, que decorreu entre os dias 7 e
10 deste mês. Esta terça-feira, o primeiro-ministro Pedro Passos Coelho afirmou
que o Governo ouviu as "observações" de quem pedia maior equidade na "repartição dos
sacrifícios", justificando as alterações ao OE introduzidas pela maioria, durante
o debate no Parlamento. Fátima Cunha Almeida, coordenadora nacional da LOC/MTC
(Liga Operária Católica/Movimento de Trabalhadores Cristãos), escreveu no semanário
Agência ECCLESIA que algumas das medidas apresentadas geravam “muita preocupação,
perplexidade e indignação”: “As consequências destas escolhas, reconhecidamente negativas
para a economia porque recessivas, são muito gravosas para as pessoas mais desfavorecidas”. Alfredo
Bruto da Costa, estudioso na área da pobreza e presidente da Comissão de Justiça e
Paz, afirmou, por sua vez, que o OE proposto pelo Governo português pode provocar
“sofrimento” e aumentar desigualdades. Em entrevista à ECCLESIA, o responsável
pelo organismo da Igreja Católica frisou que a situação portuguesa não pode ser vista
apenas “em função de resultados aritméticos do défice e da dívida”. Os responsáveis
da Juventude Operária Católica declararam, em comunicado, que o OE para 2012 “vem
ampliar o fosso entre ricos e pobres, gerando um forte sentimento de revolta pela
injusta e desigual distribuição dos sacrifícios exigidos”. Aquando da publicação
do Orçamento, o economista João César das Neves referiu que a forma como Portugal
encarar os sacrifícios pedidos, no atual período de crise, será “decisiva” para a
sustentabilidade financeira do país. Joaquim Cadete, professor da Faculdade de
Ciências Económicas e Empresariais da Universidade Católica Portuguesa, considera,
por sua vez, que qualquer solução para a crise exige uma revisão do papel do Estado. “Um
pensamento coletivista bem intencionado apenas se traduziu num progressivo empobrecimento
da comunidade decorrente de um crescente intervencionismo estatal a nível social e
económico”, indicou, no semanário Agência ECCLESIA.