Amazônia: presentes a fraternidade e o carisma franciscanos
Cidade
do Vaticano (RV) - Para analisar as problemáticas vividas na Amazônia e tentar
identificar os desafios e ações a tomar para defender este importante território,
os missionários franciscanos da Amazônia se reuniram em um Seminário de Solidariedade
na cidade de Iquitos, na selva peruana, no último mês de outubro.
Vinte e
três franciscanos e franciscanas do Brasil, Colômbia, Bolívia e Peru, sacerdotes,
religiosas/os, indígenas, líderes sociais e agentes de pastoral participaram do encontro.
Seu objetivo era fortalecer a mística de solidariedade e a luta pela defesa da Amazônia
a partir da espiritualidade indígena e ecológica e iluminados pelo método ‘ver-julgar-agir’,
compreender os grandes projetos e interesses que estão sendo jogados na Amazônia e
a resistência do povo.
Em Quito, no Equador, reuniram-se no início de novembro
6 candidatos de diferentes países da América Latina que devem criar uma nova Fraternidade
na Amazônia. Os frades assumirão compromissos diversos, sendo uma presença evangélica
e franciscana, priorizando o carisma, a vida fraterna em comum, o espírito missionário
em fraternidade.
O Coordenador da Comissão para a Amazônia, Frei Nestor Schwertz,
participou deste encontro e esteve em visita à Rádio Vaticano. Neste espaço, ele fala
do significado da presença franciscana na Amazônia:
“Vamos sobretudo cuidar
de 3 compromissos, que fazem parte da decisão capitular: vamos tentar reforçar as
presenças que já existem, ou seja, o fato de irmos lá com de uma fraternidade, dentro
um Vicariato confiado à Ordem, e ligada a uma Província que faz parte daquela região,
já é uma forma de reforçar a presença. Depois, criar novas fraternidades com novas
sensibilidades também. Por exemplo, não era muito comum entre os frades ter esta sensibilidade
mais ecológica do cuidado com o ambiente, da defesa, de um trabalho para cuidar, para
proteger a natureza.. isso implica também em denúncias diante de destruições exageradas,
muito violentas, muito orientadas pela ganância, pela vontade de explorar riquezas.
E o terceiro compromisso é criar uma rede de solidariedade, seja dentro da Amazônia
mesmo, mas também fora, com toda a Ordem, com a Família Franciscana, com outros grupos,
no sentido de partilhar informações, criar momentos fortes até mesmo de solidariedade,
momentos concretos mas também outras formas. Queremos estar abertos para colaborações
da Família Franciscana com leigos, com jovens, inclusive com as instituições educativas
que temos na Ordem, quem sabe possam desenvolver projetos de pesquisas na região.
Queremos possibilitar tudo isso”.
“Mas a insistência agora na formação mais
próxima foi no sentido de ir com atitude de discípulo, como quem primeiro quer escutar,
ver, conviver, aprender, quer contemplar para então pouco a pouco descobrir o que
podemos mesmo fazer ou em que podemos contribuir mais especificamente. Temos assim
a consciência de que nós temos muito a aprender ali: valores que os povos nativos
vivem são muito afins com valores nossos, do carisma franciscano. Por exemplo, esta
visão de sacralidade da natureza, ou a visão da gratuidade, a visão da convivência
fraterna, respeitosa da diversidade. São valores que fazem parte do nosso carisma
e queremos também, quem sabe até recuperar alguns valores que por vezes temos perdido
ou deixado de lado”.
“Ao mesmo tempo, pensamos que podemos contribuir, seja
com o anúncio do Evangelho, sobretudo pelo testemunho, seja também para formar comunidades,
ajudar a reforçar a Igreja, dar um rosto mais local, com a promoção vocacional; seja
neste compromisso com os direitos humanos dos povos nativos e também em relação à
natureza. Todo mundo espera dos franciscanos alguma coisa em relação à natureza, à
questão ecológica. Então, ali estando cotidianamente neste contato muito intenso neste
mundo da água, da biodiversidade, das fauna e flora tão ricas e especiais, poderá
nos ajudar a dizer uma palavra mais nossa”.