Rio de Janeiro (RV) - No início de um novo ano litúrgico, que começa neste
final de semana, a Igreja faz um apelo para a vigilância e esperança, atitudes que
são características do Advento. Neste ano, teremos a oportunidade de iniciar este
novo tempo com a nossa Assembleia Arquidiocesana de Pastoral, que irá decidir as diretrizes
do trabalho pastoral para os próximos cinco anos.
No novo ciclo que começa
será, sobretudo, o evangelista São Marcos quem irá nos oferecer, domingo após domingo,
os passos do "Evangelho de Jesus Cristo, Filho de Deus" (Mc 1.1). Na curta passagem
do Evangelho deste Primeiro Domingo do Advento aparece ao menos por quatro vezes o
chamado a vigiar, como condição necessária para encontrar o Senhor no momento de seu
retorno (v. 35). A espera será satisfeita, não haverá ilusão.
A liturgia nos
convida a viver na expectativa de que o Senhor voltará, fazendo-nos viver eficazmente
a sua primeira vinda no Natal (Mc 13,33-37). Esta é, de fato, a força especial dos
sacramentos da Igreja, que torna presente hoje os mistérios cristãos que tiveram lugar
no passado. Dessa forma, a história é totalmente recuperada e se torna a história
da salvação, no hoje de cada cristão. Mas com uma condição: que a espera torne-se
a atenção para o Senhor que vem, ou seja, preparação paciente de um coração bem disposto
e purificado.
O Apóstolo Paulo (1Cor 1,3-9) convida os fiéis de Corinto a
viver em espera vigilante, enquanto "esperando a manifestação de Nosso Senhor Jesus
Cristo" (v. 7), na certeza de que "digno de fé é Deus", que nos chama à comunhão com
o seu Filho (v. 9) e vai "salvar-nos até o fim" (v. 8).
Somente alguém que
tem consciência de sua fraqueza, pessoal e comunitária, e se abre com humilde confiança
a Deus, pode pedir e receber d'Ele a salvação como um dom. Isso prova o profeta (Is
63,16b-17.19b; 64,2b-7), em uma das orações mais apaixonadas da Bíblia, nascida no
sofrimento e na humilhação do exílio na Babilônia. Existe a consciência de ter se
afastado dos caminhos do Senhor (v. 17), de ter sido rebelde (v. 4), de terem se tornados
todos, pelo pecado, "como algo impuro e como tecido imundo, que murcham como folhas,
levado como o vento, à mercê das nossas iniquidades" (v. 5-6). Mesmo no meio de uma
situação tão miserável, o profeta, no início e no fim da sua oração, tem a coragem
de clamar a Deus, sua esperança, invocar Deus como Pai, Redentor (v. 16),, chamá-Lo
para voltar pelo amor de seus servos (v. 17), para romper os céus e descer (v. 19).
Finalmente, o salmista coloca-se como argila disponível nas mãos do Pai, que é o único
capaz de moldar-nos, de dar-nos novamente forma (ver 7). O Pai está sempre ansioso
e feliz para recriar-nos.
O Profeta apresenta um quadro que reflete o estado
atual da humanidade: que muitas vezes se afasta dos caminhos do Senhor, rodeado de
mal e de pecado, na necessidade de um Salvador, que é de fora, porque o homem é incapaz
de salvar-se. Todos nós precisamos de Alguém para nos salvar! Por esta razão, o Advento
é um tempo litúrgico muito propício para despertar e fortalecer a consciência da responsabilidade
missionária cristã, dado que ele nos traz de volta o tempo "de espera a humanidade”.
Esperança,
paciência, vigilância... são atitudes típicas do cristão que no Advento prepara-se
para o encontro – quotidiano e definitivo – com o Senhor que vem.
Como já
dito, o Advento inaugura hoje um novo tempo litúrgico que faz memória da expectativa
da primeira vinda de Cristo, nos predispõe para a celebração do Natal e nos abre perspectivas
para a vinda definitiva do Senhor. É um tempo que, pouco a pouco, incute nos corações
e na vida a doce expectativa da celebração do Mistério da Encarnação. Os sinais, enfeites
e símbolos que utilizamos em nossas ruas, casas e templos querem nos ajudar a assim
exteriorizar o desejo interior de acolher Aquele que veio, virá e vem para nos salvar.
Advento significa, de fato, as expectativas do que está para acontecer, a espera de
algo que certamente ocorrerá, ao qual nos predispomos ativamente, e o que está prestes
a ser realizado com certeza, que é a vinda do Salvador na carne, de acordo com as
promessas messiânicas dos profetas.
O Advento é, portanto, o tempo de alegria
e de satisfação interior, da comoção e da harmonia, da ânsia fundamental, que caracteriza
todos aqueles que esperam por algo de importante e decisivo, e que têm certeza de
que vai mudar a sua vida.
Este é para nós o tempo importante de preparação
para o nascimento do Filho de Deus. Eis a pontual admoestação do Senhor dirigida a
todos. "Vigiai"! Devemos, por isso, despertar do sono da dependência e apatia das
nossas banalidades cotidianas.
Eis o tempo de nos reunirmos em grupos para
a novena de Natal, participarmos bem da liturgia que desperta em nós a bela espiritualidade
do Advento, celebrarmos o sacramento da penitência e, junto com os sinais, atitudes
e símbolos vivenciarmos este tempo com o coração aberto, abrindo assim o novo ano
litúrgico.
Eis que o Senhor vem para nos salvar! Que estas celebrações nos
preparem também o nosso renascimento para um novo dia, testemunhando com alegria a
presença entre nós do Cristo Ressuscitado.
† Orani João Tempesta, O. Cist.
Arcebispo Metropolitano de São Sebastião do Rio de Janeiro, RJ