Invasão de terras e violência contra índios preocupam CNBB
Cidade
do Vaticano (RV) - Três dias após o ataque ao acampamento indígena Guaiviry, na
faixa de fronteira de Mato Grosso do Sul com o Paraguai, um casal de adolescentes
de 12 anos de idade ainda não retornou ao local, segundo os acampados. Além deles,
segundo a Fundação Nacional do Índio (Funai), o cacique de 59 anos permanece desaparecido
desde sexta-feira (18), quando a área foi alvo da ação de pistoleiros armados.
No
acampamento que fica às margens da rodovia MS-386, viviam entre 60 e 100 indígenas,
e a maioria se dispersou para a mata após o incidente. Os indígenas, da etnia guarany-kaiwá,
afirmam que o cacique teria sido morto a tiros durante o ataque feito por aproximadamente
40 homens. Eles relatam ainda que o corpo do cacique teria sido colocado em uma caminhonete.
Brigas
por terras entre indígenas e produtores rurais são cada vez mais comuns em Mato Grosso
do Sul. Dados do censo feito em 2010 pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
revelam que MS é o segundo estado com mais indígenas (73.295), perdendo apenas para
o Amazonas (108.080). O ataque ao acampamento Guaviry foi mais um episódio da violência
provocada pela briga.
O historiador Antônio Brand explica ao G1 que os indígenas
foram expulsos de suas terras à medida que os colonizadores chegaram. Segundo ele,
aos poucos, as fazendas foram construídas, áreas verdes desmatadas e os nativos mudaram-se
para outras localidades. Hoje, grande parte mora em acampamentos e tenta tomar por
conta própria o espaço que a eles pertenceu.
A violência contra os mais vulneráveis
não se concentra no Mato Grosso do Sul. Em estados do norte do Brasil, como o Maranhão,
a invasão de terras por parte dos madeireiros é um fenômeno bastante frequente. Dom
José Belisário, arcebispo de São Luis, explica:
“Nos últimos tempos, parece
que as coisas, ao invés de melhorar, pioram... No Maranhão, especificamente, temos
7 povos indígenas. Um deles é um povo indígena, os Guajajaras, que já tem contato
com os brancos há mais de 300 anos, e mesmo assim, permanece um problema muito grave
com respeito à identificação, à sua identidade e à dignidade da pessoa. Existe também
um povo indígena no Maranhão muito pequeno, que praticamente não tem contato com o
branco, ou o não-indígena: são certamente não mais de 100 indivíduos, mas que estão
diminuindo muito rapidamente porque os madeireiros estão invadindo as suas áreas.
Em termos numéricos, este grupo, que se chama Awa-guajá, não é tão importante, mas
considero que como símbolo tem a sua importância. Não estamos sabendo nos relacionar.
Parece-me, portanto, que na sociedade brasileira, a violência contra as minorias é
terrível, contra os pobres, contra os que estão morando nos arredores, nas nossas
favelas; é uma violência tremenda. Acredito que nesse sentido, ainda vamos ser cobrados
desta dívida para o Brasil, para podermos superar as grandes questões sociais e econômicas
do país”.
Dom Leonardo Steiner, atual bispo auxiliar de Brasília, foi prelado
em São Felix do Araguaia, e em entrevista à RV, fala da situação no Pará e da preocupação
da Igreja com a violência contra os povos indígenas:
“Vale a pena acrescentar
algo sobre a violência que temos registrado no Pará. A CNBB inclusive emitiu uma nota
por ocasião daqueles assassinatos todos e da violência em relação à Amazônia, às pessoas
da Amazônia, especialmente contra os pequenos, que como Dom José Belisário acabou
de lembrar, tem origem na questão da madeira. A CNBB tem se preocupado, nós temos
tomado posição nas reuniões do Conselho Permanente, na reunião do Consep, porque nos
preocupa realmente muito esta região, porque é uma disputa em relação à terra, à natureza.
Tantas famílias já vivem ali há anos e anos, e de repente, são atacadas de uma maneira
muito violenta. A CNBB tem procurado acompanhar, os bispos da região têm tomado posição
e tentado acolher, porque são sempre filhos e filhas de Deus”. (CM)