2011-11-22 10:41:27

Invasão de terras e violência contra índios preocupam CNBB


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Cidade do Vaticano (RV) - Três dias após o ataque ao acampamento indígena Guaiviry, na faixa de fronteira de Mato Grosso do Sul com o Paraguai, um casal de adolescentes de 12 anos de idade ainda não retornou ao local, segundo os acampados. Além deles, segundo a Fundação Nacional do Índio (Funai), o cacique de 59 anos permanece desaparecido desde sexta-feira (18), quando a área foi alvo da ação de pistoleiros armados.

No acampamento que fica às margens da rodovia MS-386, viviam entre 60 e 100 indígenas, e a maioria se dispersou para a mata após o incidente. Os indígenas, da etnia guarany-kaiwá, afirmam que o cacique teria sido morto a tiros durante o ataque feito por aproximadamente 40 homens. Eles relatam ainda que o corpo do cacique teria sido colocado em uma caminhonete.

Brigas por terras entre indígenas e produtores rurais são cada vez mais comuns em Mato Grosso do Sul. Dados do censo feito em 2010 pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística revelam que MS é o segundo estado com mais indígenas (73.295), perdendo apenas para o Amazonas (108.080). O ataque ao acampamento Guaviry foi mais um episódio da violência provocada pela briga.

O historiador Antônio Brand explica ao G1 que os indígenas foram expulsos de suas terras à medida que os colonizadores chegaram. Segundo ele, aos poucos, as fazendas foram construídas, áreas verdes desmatadas e os nativos mudaram-se para outras localidades. Hoje, grande parte mora em acampamentos e tenta tomar por conta própria o espaço que a eles pertenceu.

A violência contra os mais vulneráveis não se concentra no Mato Grosso do Sul. Em estados do norte do Brasil, como o Maranhão, a invasão de terras por parte dos madeireiros é um fenômeno bastante frequente. Dom José Belisário, arcebispo de São Luis, explica:

“Nos últimos tempos, parece que as coisas, ao invés de melhorar, pioram... No Maranhão, especificamente, temos 7 povos indígenas. Um deles é um povo indígena, os Guajajaras, que já tem contato com os brancos há mais de 300 anos, e mesmo assim, permanece um problema muito grave com respeito à identificação, à sua identidade e à dignidade da pessoa. Existe também um povo indígena no Maranhão muito pequeno, que praticamente não tem contato com o branco, ou o não-indígena: são certamente não mais de 100 indivíduos, mas que estão diminuindo muito rapidamente porque os madeireiros estão invadindo as suas áreas. Em termos numéricos, este grupo, que se chama Awa-guajá, não é tão importante, mas considero que como símbolo tem a sua importância. Não estamos sabendo nos relacionar. Parece-me, portanto, que na sociedade brasileira, a violência contra as minorias é terrível, contra os pobres, contra os que estão morando nos arredores, nas nossas favelas; é uma violência tremenda. Acredito que nesse sentido, ainda vamos ser cobrados desta dívida para o Brasil, para podermos superar as grandes questões sociais e econômicas do país”.

Dom Leonardo Steiner, atual bispo auxiliar de Brasília, foi prelado em São Felix do Araguaia, e em entrevista à RV, fala da situação no Pará e da preocupação da Igreja com a violência contra os povos indígenas:

“Vale a pena acrescentar algo sobre a violência que temos registrado no Pará. A CNBB inclusive emitiu uma nota por ocasião daqueles assassinatos todos e da violência em relação à Amazônia, às pessoas da Amazônia, especialmente contra os pequenos, que como Dom José Belisário acabou de lembrar, tem origem na questão da madeira. A CNBB tem se preocupado, nós temos tomado posição nas reuniões do Conselho Permanente, na reunião do Consep, porque nos preocupa realmente muito esta região, porque é uma disputa em relação à terra, à natureza. Tantas famílias já vivem ali há anos e anos, e de repente, são atacadas de uma maneira muito violenta. A CNBB tem procurado acompanhar, os bispos da região têm tomado posição e tentado acolher, porque são sempre filhos e filhas de Deus”.
(CM)







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