Encontro com seminaristas, religiosos e leigos: discurso do Papa
(19/11/2011) Venerados Cardeais, Prezado D. N’Koué, responsável pela formação
sacerdotal, Amados irmãos no episcopado e no sacerdócio, Caríssimos religiosos
e religiosas, Queridos seminaristas, Amados fiéis leigos! Obrigado, D. N’Koué,
pelas suas significativas palavras; obrigado, queridos seminaristas, pelas vossas,
tão acolhedoras e deferentes. É para mim uma grande alegria encontrar-me no meio de
vós aqui, em Ouidah, e mais concretamente neste Seminário posto sob a protecção de
Santa Joana d’Arc e dedicado a São Galo, homem de virtudes esplêndidas, monge desejoso
de perfeição e pastor cheio de bondade e humildade. Que há de mais nobre para servir
de modelo que a sua figura, ou então a de D. Louis Parisot, apóstolo incansável dos
pobres e impulsionador do clero local, a do Padre Thomas Moulero, primeiro sacerdote
do antigo Daomé, e a do Cardeal Bernardin Gantin, filho ilustre da vossa terra e humilde
servidor da Igreja? Aproveito a ocasião do nosso encontro desta manhã para vos
exprimir directamente a minha gratidão pelo vosso serviço pastoral. Dou graças a Deus
pelo vosso zelo, não obstante as condições difíceis em que por vezes sois chamados
a dar testemunho do seu amor. Dou-Lhe graças por tantos homens e mulheres que anunciaram
o Evangelho na terra do Benim e na África inteira. Em breve, assinarei a Exortação
Apostólica pós-sinodal Africæ munus, que trata de paz, justiça e reconciliação.
Estes três valores impõem-se como um ideal evangélico fundamental na vida baptismal
e exigem uma sã aceitação da vossa identidade de sacerdotes, de pessoas consagradas
e de fiéis leigos. Amados sacerdotes, a responsabilidade de promover a paz, a
justiça e a reconciliação diz-vos respeito de modo muito particular. De facto, em
virtude da Ordem Sacra recebida e dos Sacramentos celebrados, sois chamados a ser
homens de comunhão. Tal como o cristal não retém a luz, mas reflecte-a dando-a novamente,
assim também o sacerdote deve deixar transparecer aquilo que celebra e aquilo que
recebe. Por isso, animo-vos a deixar transparecer Cristo na vossa vida, graças a uma
autêntica comunhão com o Bispo, a uma bondade real com os vossos irmãos no sacerdócio,
a uma profunda solicitude por cada baptizado e a uma grande atenção a toda a pessoa.
Deixando-vos modelar por Cristo, nunca substituireis a beleza do vosso ser sacerdotal
com realidades efémeras e por vezes nefastas que a mentalidade contemporânea tenta
impor a todas as culturas. Exorto-vos, amados sacerdotes, a não subestimar a grandeza
insondável da graça divina em vós depositada e que vos torna capazes de viver ao serviço
da paz, da justiça e da reconciliação. Caríssimos religiosos e religiosas, de
vida activa ou contemplativa, a vida consagrada é um seguimento radical de Jesus.
Que a vossa escolha incondicional de Cristo vos conduza a um amor sem fronteiras pelo
próximo! A pobreza e a castidade tornam-vos verdadeiramente livres, para obedecer
incondicionalmente ao único Amor que, quando vos conquista, impele-vos a espalhá-lo
por todo o lado. Pobreza, obediência e castidade aprofundam em vós a sede de Deus
e a fome da sua Palavra, que, crescendo, transformam-se em fome e sede de servir o
próximo necessitado de justiça, paz e reconciliação. Fielmente vividos, os conselhos
evangélicos transformam-vos em irmãos universais e em irmãs de todos e ajudam-vos
a avançar com determinação pelo caminho da santidade. E lá chegareis, se, convictos
de que para vós viver é Cristo (cf. Flp 1, 21), fizerdes das vossas comunidades
reflexos da glória de Deus e lugares onde a única dívida que se tem para com o outro
é a do amor recíproco (cf. Rm 13, 8). Através dos vossos carismas específicos,
vividos com espírito de abertura à catolicidade da Igreja, podereis contribuir para
uma expressão harmoniosa da imensidade dos dons divinos ao serviço de toda a humanidade. Dirigindo-me
agora a vós, queridos seminaristas, encorajo-vos a entrar na escola de Cristo, para
adquirirdes as virtudes que vos ajudarão a viver o sacerdócio ministerial como o lugar
da vossa santificação. Sem a lógica da santidade, o ministério não passa duma simples
função social. A qualidade da vossa vida futura depende da qualidade da vossa relação
pessoal com Deus em Jesus Cristo, dos vossos sacrifícios, da feliz integração das
exigências da vossa formação actual. Diante dos desafios da existência humana, o sacerdote
de hoje e de sempre – se quiser ser uma testemunha credível ao serviço da paz, da
justiça e da reconciliação – deve ser um homem humilde e equilibrado, sábio e magnânimo.
Com a minha experiência de 60 anos de vida sacerdotal, posso confiar-vos, queridos
seminaristas, que nunca vos arrependereis dos tesouros intelectuais, espirituais e
pastorais que tiverdes acumulado durante a vossa formação. Quanto a vós, amados
fiéis leigos, que sois chamados a ser o sal da terra e a luz do mundo no coração das
realidades diárias da vida, exorto a renovardes, também vós, o vosso compromisso pela
justiça, a paz e a reconciliação. Esta missão exige, em primeiro lugar, fé na família
construída segundo o desígnio de Deus e fidelidade à própria essência do matrimónio
cristão. Exige também que as vossas famílias se assemelhem a verdadeiras «igrejas
domésticas». Graças à força da oração, «transforma-se e melhora gradualmente a vida
pessoal e familiar, enriquece-se o diálogo, transmite-se a fé aos filhos, aumenta
o gosto de estar juntos, e o lar doméstico une-se e consolida-se mais» (Mensagem
para o Encontro Mundial das Famílias no México, 17 de Janeiro de 2009, n. 3).
Fazendo reinar nas vossas famílias o amor e o perdão, contribuireis para a edificação
duma Igreja bela e forte e para a instauração de maior justiça e paz na sociedade
inteira. Neste sentido, encorajo-vos, queridos pais, a ter um profundo respeito pela
vida e a testemunhar diante dos vossos filhos os valores humanos e espirituais. Apraz-me
recordar aqui que, há 10 anos, o Papa João Paulo II fundou, em Cotonou, uma Secção
para a África francófona integrada no Instituto que tem o seu nome, a fim de contribuir
para a reflexão teológica e pastoral sobre o matrimónio e a família. Por fim, exorto
especialmente os catequistas – esses valorosos missionários no coração das realidades
mais humildes – a oferecerem, sempre com inabalável esperança e determinação, a sua
ajuda peculiar e absolutamente necessária para a expansão da fé na fidelidade à doutrina
da Igreja (cf. Conc. Ecum. Vat. II, Dec. Ad gentes, 17). Ao concluir
este meu encontro convosco, queria exortar-vos a todos a uma fé autêntica e viva,
fundamento indefectível duma vida cristã santa e ao serviço da edificação de um mundo
novo. O amor ao Deus revelado e sua Palavra, aos Sacramentos e à Igreja é um antídoto
eficaz contra os sincretismos que transviam. Um tal amor favorece uma correcta integração
dos valores autênticos das culturas na fé cristã; liberta do ocultismo e vence os
espíritos maléficos, porque é movido pela própria força da Santíssima Trindade. Vivido
profundamente, este amor é também um fermento de comunhão que quebra todas as barreiras,
favorecendo assim a edificação duma Igreja onde não haja divisão entre os baptizados,
porque todos são um só em Cristo Jesus (cf. Gl 3, 28). Com grande confiança,
conto com cada um de vós – sacerdotes, religiosos e religiosas, seminaristas e fiéis
leigos – para fazer viver uma Igreja assim. Em penhor da minha proximidade espiritual
e paterna e confiando-vos à Virgem Maria, invoco sobre todos vós, sobre as vossas
famílias, sobre os jovens e os doentes, a abundância das bênçãos divinas. AKLUNƆ NI
KƆN FƐNU TƆN LƐ DO MI JI[O Senhor vos cumule com as suas graças]!