Benin, berço do vudu, onde os cristãos são maioria
Cidade do Vaticano (RV) - Aos 84 anos, fiel ao seu compromisso de colocar a
África entre as prioridades do pontificado e com uma boa dose de coragem, o líder
do bilhão de católicos do mundo viaja hoje para o Benin, onde visitará Cotonou, cidade
mais populosa, e Ouidah, antiga base do comércio de escravos.
Desta cidade,
no início do século XVIII, partiam anualmente de 15 a 20 mil homens acorrentados rumo
à América Latina, exportando também a religião de seus antepassados, o vudu, que desde
1992 é reconhecido como uma das religiões oficiais do Benin.
O presidente
Thomas Boni Yayi é um ex-muçulmano hoje cristão evangélico. É comum que os membros
de uma mesma família professem religiões diferentes, da tradicional ao cristianismo
ou o islamismo.
Os católicos são 34% da população, 24% são islâmicos, 29%
seguem as religiões tradicionais e 5% são cristãos protestantes.
O país, de
língua francesa, está numa área africana em que convivem várias crenças e na qual
a Igreja na década de 90 foi protagonista do processo de democratização, sendo uma
referência para os católicos de toda a África ocidental.
Papa Ratzinger tem
três objetivos, nesta viagem: entregar o documento conclusivo do sínodo dos bispos
para a África, celebrar 150 anos da evangelização e fazer uma homenagem no túmulo
do Cardeal Bernardin Gantin, criado cardeal por Paulo VI no mesmo consistório que
deu a púrpura a Joseph Ratzinger.
Gantin é um símbolo do papel crescente da
África na Igreja Católica pelos longos anos que o viram na cúpula da Cúria Romana,
em diversos cargos de prestígio.
Uma novidade: pela primeira vez, Bento XVI,
durante uma viagem, terá um encontro-conversa com as crianças, sábado, na paróquia
das irmãs de Madre Teresa.
Bento XVI participará também das comemorações do
20º aniversário da chegada dos Franciscanos da Imaculada. Eles são os responsáveis
pela origem do maior centro mariano de Cotonou; o Santuário de Allada dedicado à "Mãe
da Divina Misericórdia".
Para o diretor do Santuário de Allada, Padre Michele
Maria Iorio, o Santo Padre trará uma mensagem baseada nos valores e direitos fundamentais,
temas que interessam a todos, especialmente neste país que sofre pela pobreza e a
falta de recursos.
Em três dias, o Papa fará 10 pronunciamentos públicos entre
discursos, homilias e saudações. A imprensa beninesa também parece entusiasmada
com a presença do Pontífice: “É uma honra para nosso povo e nosso clero” – afirma
o jornal “La Nation”.
A capital fez grandes esforços para limpar as ruas e
outdoors gigantes convidam a população a manter esta imagem. Um grande contingente
policial está mobilizado para garantir a segurança, de acordo com o chefe da polícia
de Benin, Francis Béhanzin.
Grupos de corais do país se preparam ativamente
para estar à altura do evento, ensaiando noite e dia. Uma canção foi composta para
a ocasião e os coros a interpretarão durante a estadia de Bento XVI, enquanto centenas
de fiéis rezam nas igrejas para que tudo saia bem.
“A visita do Papa é um orgulho
e devemos fazer com que seja um sucesso. Por isso, os coros ensaiaram muito, para
dar o melhor de si” - comentou Jacob Agbékpon, responsável de um coro, à Agência EFE.
“A África – acrescentou Agbékpon – necessita da benção da viagem do Papa, pois acontecem
tantas coisas ruins no continente negro”.
Para que ninguém perca um detalhe,
um centro de comunicação foi aberto ao público para informar sobre a visita papal,
e também foi habilitado um site, www.papeaubenin.com, para ajudar os milhares de voluntários
que trabalharão durante a visita de Bento XVI.
“É um evento que nos supera,
se devo ser sincero, mas estamos felizes de organizá-lo” – admitiu o sacerdote André
Quenum, membro do comitê organizador, que acredita que o acontecimento atrairá ao
Benin muitos fiéis de outros países africanos.
Padre Quenum ressaltou que existe
uma importante comunidade católica no Benin, considerado o berço do vudu, religião
tradicional do país: “A Igreja tem grande visibilidade no Benin, pois sua ação não
se limita apenas aos cristãos católicos, mas a todas as outras religiões”.
Alguns
líderes benineses do vudu, religião que considera que os objetos e os elementos do
mundo natural possuem alma e são venerados ou temidos como deuses, também estão contentes
com a visita do Santo Padre:
“Estamos de braços abertos para dar as boas-vindas
ao Papa” – assegurou Dah Adoko Gbêdiga, expoente religioso do vudu no Benin, recordando
que foram assinados “acordos de entendimento entre católicos e vuduístas”. (CM)