Bispos portugueses dizem que crise financeira internacional coloca democracia em risco
(10/11/2011) A Conferência Episcopal Portuguesa (CEP) publicou a mensagem ‘Esperança
em tempo de crise’, afirmando que a atual situação nacional e mundial pode colocar
em risco a “democracia”. “É cada vez mais claro que a política internacional não
pode reduzir-se, nem muito menos submeter-se, a obscuros jogos de capital que fariam
desaparecer a própria democracia”, assinala o documento, divulgado em Fátima, no final
da assembleia plenária da CEP. Para os bispos, a vida democrática “só acontece
onde todos se reconhecem, respondendo cada um pelo que faz ou não faz, à luz de valores
e direitos que a todos interessam e suportam”. “Nem podemos abster-nos da vida
democrática, nem devemos cair nas mãos de novos senhores sem rosto. Também aqui se
há de respeitar a verdade, condição básica da justiça e da paz”, alerta. A mensagem
pede que o momento “difícil” que o país atravessa sirva para “aprofundar” os “valores”
de base numa “sociedade justa e saudável”. O documento episcopal admite a existência
de “fatores externos e internos”, na origem da crise, “como muitas análises, mais
ou menos coincidentes, não deixam de evidenciar”. “Excessiva especulação financeira
e pouca consistência económica somaram-se negativamente e tanto nos enfraqueceram
internamente como nos prejudicaram internacionalmente. Alimentámos, ou alimentaram-nos,
aspirações que agora são impossíveis de concretizar”, indicam os bispos católicos. Na
mensagem, a CEP diz seguir “o esforço dos vários responsáveis nacionais e internacionais,
agora mais premente pela magnitude dos problemas”, lamentando a falta da “base material
em que tudo o mais se sustenta, ou seja, uma vida económica saudável e suficientemente
apoiada pelo investimento e pelo crédito, que garanta trabalho digno para todos: trabalho
que é condição indispensável para o sustento e a realização das pessoas e das famílias”. O
episcopado católico dirige-se aos cidadãos portugueses e aos imigrantes “neste difícil
fim de 2011”, falando num compromisso “com todos, especialmente os mais atingidos
pela presente crise e as grandes interrogações que ela levanta”. Em conclusão,
a CEP oferece “solidariedade ativa, como é exercida diariamente pelas instituições
sociais católicas” e insiste nos “valores e princípios fundamentais da doutrina social
da Igreja”. A mensagem convida a “reproduzir agora os sentimentos daquele Cristo,
que tendo nascido há dois mil, quer ‘renascer’ também no Natal que se aproxima – e
com a mesma luz para idênticas trevas”.