Cristãos ajudam a travar «talibanização» no Iraque. Arcebispo de Kirkuk, reconhecido
pelo seu empenho em favor da paz, está em Portugal para falar numa «Igreja mártir»
(5/11/2011) O arcebispo iraquiano D. Louis Sako disse que a comunidade internacional
deve proteger os cristãos no Iraque para servirem como “ponte” entre o Ocidente e
o Islão, evitando a ‘talibanização’ do país. “Sem cristãos, o que vai acontecer
é que restarão apenas talibãs”, alerta, em entrevista à ECCLESIA, o responsável pela
diocese caldeia de Kirkuk (300 quilómetros a norte de Bagdad). Para D. Louis Sako,
que em 2010 recebeu o ‘Prémio para a Paz’ do movimento católico internacional ‘Pax
Christi’, os católicos iraquianos são uma “Igreja mártir” e uma presença “muito frágil”. O
arcebispo acusa grupos fundamentalistas de quererem “criar um Estado islâmico, com
leis islâmicas”, através da violência. “A democracia não é mágica, não se pode
impor pela força, é um longo processo”, indica o prelado, defendendo a “separação
entre religião e Estado”. Neste sentido, D. Louis Sako fala num “inverno árabe”,
lembrando que os jovens que defendem a mudança de regime “não têm liderança política”
e estão à mercê de “islamitas” interessados em “impor a sua própria agenda”, dando
como exemplo a situação da Tunísia e da Líbia. A comunidade caldeia (rito oriental
da Igreja Católica) no Iraque reza na mesma língua de Jesus, o aramaico, e sobrevive
há 2 mil anos sem nunca ter tido um rei ou um império cristão no território iraquiano. Estes
fiéis viviam na região antes de Maomé, mas a hostilidade de grupos muçulmanos armados
desencadeada com a invasão norte-americana, em 2003, já reduziu o número de cristãos
para menos de metade. “Muitos cristãos iraquianos foram mortos, muitos; muitas
igrejas foram atacadas, muitas pessoas foram raptadas e ameaçadas”, assinala D. Louis
Sako, para quem “os cristãos estão isolados, não estão protegidos, porque não têm
milícias nem fazem parte de tribos”. O arcebispo de 63 anos encontra-se em Portugal
até ao próximo dia 13, a convite da Fundação Ajuda à Igreja que Sofre (AIS), para
dar uma série de conferências sobre a situação dos cristãos no seu país. O prelado
admite que os europeus tenham dificuldades em perceber a situação dos católicos que
são “minoria”, lamentando que haja quem permaneça “indiferente” diante do sofrimento
dos outros. Ser cristão, refere o arcebispo, é um "compromisso", citando o caso
de um acólito, de 13 anos, raptado na diocese de Kirkuk, torturado para o levarem
a abandonar a Igreja, que resisitiu aos agressores, acabando por ser libertado pelas
forças norte-americanas. D. Louis Sako diz não temer pela própria segurança: "O
bispo é um líder, se tiver medo, se temer pela sua vida ou pelos seus privilégios,
é melhor resignar. Nunca". O arcebispo de Kirkuk vai estar no início da próxima
assembleia plenária da Conferência Episcopal Portuguesa, segunda-feira, em Fátima,
anunciou a AIS em comunicado enviado à Agência ECCLESIA. A Fundação católica vai
dedicar a campanha de Natal deste ano aos cristãos perseguidos no Iraque, onde o número
de fiéis passou de 850 mil para 300 mil em apenas oito anos, uma realidade que a organização
internacional apelida de “genocídio”.