Lideranças indígenas participam do 8º Encontro Nacional de Fé e Política
Embu das Artes (RV) – A sociedade do Bem-viver, tema central do 8º Encontro
Nacional de Fé e Política, realizado na cidade de Embu das Artes (SP) nos dias 29
e 30 deste mês, é um conceito que visa resgatar a sabedoria ancestral dos povos indígenas
como proposta de vida para construir uma nova ordem social e política.
A presença
de lideranças indígenas no encontro contribuiu para o estudo do tema nas conferências
e plenárias temáticas e nos momentos de espiritualidade e partilha. Mártires da causa
indígena como Sepé Tiaraju, Marçal Guarani, Chicão Xucuru e Galdino foram recordados
nas falas e nos banners levados ao palco durante as celebrações.
O líder Maurício
Guarani veio da cidade de Viamão (RS) onde é membro da Comissão de Articulação dos
Povos Guarani no Rio Grande do Sul e da Comissão Guarani Yvy Rupa - CGY, organização
de lideranças Guarani de diversas aldeias de todo Sul e Sudeste do Brasil, para articular
nacionalmente a luta desse povo pela recuperação de seu território tradicional.
"A
nossa participação no Encontro de Fé e Política onde as discussões giram em torno
da sociedade do Bem-Viver é muito importante", avaliou Maurício. "A nossa situação
no Rio Grande do Sul é muito complicada. Há muitos anos a gente vem perdendo o nosso
espaço as nossas terras. A nossa luta é para que de fato o Governo cumpra com o seu
dever de demarcar as nossas terras. Não queremos todas as terras como dizem por aí,
mas queremos o suficiente para que o nosso povo viva com dignidade", ressaltou.
Maurício
explicou que só no estado do Rio Grande o Sul existem aproximadamente três mil Guaranis
vivendo em 22 aldeias reconhecidas pela Fundação Nacional do Índio (FUNAI), mas muitas
outras aldeias estão em processo de demarcação e regularização.
Estima-se
que hoje vivam 50 mil Guaranis no Brasil, 350 mil na Bolívia, 53 mil no Paraguai e
cinco mil na Argentina e outros tantos no Uruguai. Segundo historiadores, em 1492,
no início da chegada dos europeus, os Guaranis somavam dois milhões.
Ao comentar
sobre o Bem-Viver, Maurício destacou que "o tema é muito importante porque está inserido
em todas as sociedades e todos os povos precisam fazer uma discussão mais aprofundada.
Para nós indígenas isso não é diferente. O Bem-Viver para nós seria conseguir a demarcação
das nossas terras para que os nossos povos vivam conforme sua cultura, seu jeito de
ser indígena e as nossas famílias tenham um espaço maior para poder produzir. O povo
Guarani também é um povo agricultor, sempre viveu da agricultura para sustentar suas
famílias. Por isso, o Bem-Viver precisa partir da terra", concluiu. (MJ/CNBB)