Direto de Assis: tem início a Jornada de Reflexão, Diálogo e Oração
Assis (RV) -
Depois do dilúvio na vigília, o tempo em Assis nesta quinta-feira está mais clemente,
sem chuva, mas nublado. Bento XVI e os líderes mundiais das religiões chegaram juntos
a bordo de um trem que partiu esta manhã da Estação Vaticana. O primeiro ato desta
Jornada de Reflexão, Diálogo e Oração foi realizado dentro da Basílica de Santa Maria
dos Anjos.
Este templo, aliás, é fundamental para os seguidores de S. Francisco.
A Basílica foi construída no século XVI para proteger a Porciúncula, o lugar mais
sagrado para os franciscanos, porque ali, entre muitos eventos, S. Francisco fundou
a Ordem e neste mesmo lugar morreu em outubro de 1226.
Bento XVI e os mais
de 200 representantes das religiões mundiais, vindos de 50 países (do Brasil, participa
o Prefeito da Congregação para os Institutos de Vida Consagrada e as Sociedades de
Vida Apostólica, Dom João Braz de Aviz), ouviram o testemunho de 10 personalidades.
Destacaram-se o Patriarca Ecumênico de Constantinopla, Bartolomeu I, que em seu discurso
citou as “primaveras árabes”, que não colocaram fim às tensões intercomunitárias,
nas quais o papel das religiões permanece ambíguo. E a professora Julia Kristeva,
representando os ateus e a única mulher a discursar, que propôs uma reflexão resgatando
a importância da maternidade para um plena ética humanística.
No início deste
ato, foi projetado um comovente vídeo para recordar o encontro de 1986, convocado
por João Paulo II, e como o mundo mudou desde então.
A propósito, é impossível
falar da Jornada desta quinta-feira sem citar o Papa Wojtyla, que, ao convocar o primeiro
encontro 25 anos atrás, teve uma das maiores intuições do seu pontificado.
Na
ocasião, o Beato recordou que a paz vai muito além dos esforços humanos: esta é a
razão pela qual cada um de nós reza pela paz. A oração é por si só ação, mas não nos
exime das ações a serviço da paz. Em Assis, disse João Paulo II, estamos agindo como
arautos da consciência moral da humanidade, recordando que a paz é um canteiro aberto
a todos, não somente aos especialistas e aos sábios.
Enquanto João Paulo II
insistia sobre a qualidade transcendente da paz no diálogo inter-religioso, Bento
XVI insiste na relação entre a fé e a razão humana. Crer em Deus, afirma o Pontífice,
longe de prejudicar a nossa capacidade de nos compreendermos a nós mesmos e ao mundo,
dilata essa mesma capacidade. Longe de nos colocar contra o mundo, nos empenha a favor
dele. Assim uma religião genuína alarga o horizonte da compreensão humana e está na
base de toda a cultura humana autêntica. Rejeita todas as formas de violência e de
totalitarismo: não só por princípios de fé, mas também com base na reta razão.
Com
a mensagem de Bento XVI (disponível na primeira página do nosso portal) se concluiu
a parte mais intelectual desta Jornada. À tarde, haverá o momento espiritual, na parte
alta da cidade, na Praça S. Francisco, com a renovação solene do Compromisso pela
Paz, o momento de silêncio e a saudação de paz entre os delegados.
De Assis
para a Rádio Vaticano, Bianca Fraccalvieri.