Cidade do Vaticano (RV) – Foi divulgada esta manhã a Mensagem de Bento XVI
para o Dia Mundial do Migrante e do Refugiado 2012.
A mensagem relaciona as
migrações com a nova evangelização, tema ao qual será dedicado um Sínodo em outubro
do próximo ano.
"A hora presente chama a Igreja a realizar uma nova evangelização,
inclusive no vasto e complexo fenômeno da mobilidade humana, intensificando a ação
missionária tanto nas regiões de primeiro anúncio, como nos países de tradição cristã"
– escreve o Papa.
Para Bento XVI, as migrações dentro ou para fora da nação
produziram uma mistura de pessoas e de povos sem precedentes, com novas problemáticas
do ponto de vista não só humano, mas também ético, religioso e espiritual.
Eis
então que a comunidade cristã deve estar preparada para acolher essas pessoas. Em
muitas ocasiões, escreve o Pontífice, se trata de uma oportunidade para anunciar Jesus
Cristo ou, nas sociedades secularizadas, inculturar novamente a Boa Nova.
No
exigente itinerário da nova evangelização em âmbito migratório, assumem um papel decisivo
os agentes pastorais e os meios de comunicação, que devem noticiar com "honestidade"
a situação de quantos foram forçados a deixar a sua pátria.
Leia a seguir a
íntegra da Mensagem.
Mensagem de Sua Santidade Bento XVI para o Dia
Mundial do Migrante e do Refugiado 2012
(Tema: Migrações e nova evangelização)
Queridos
Irmãos e Irmãs!
Anunciar Jesus Cristo, único Salvador do mundo, «constitui
a missão essencial da Igreja, tarefa e missão, que as amplas e profundas mudanças
da sociedade actual tornam ainda mais urgentes» (Exort. apost. Evangelii nuntiandi,
14). Aliás, hoje, sentimos a urgência de promover, com novo vigor e novas modalidades,
a obra de evangelização num mundo onde a queda das fronteiras e os novos processos
de globalização deixaram as pessoas e os povos ainda mais próximos, tanto pela expansão
dos meios de comunicação, como pela frequência e a facilidade com que indivíduos e
grupos se podem deslocar. Nesta nova situação, devemos despertar em cada um de nós
o entusiasmo e a coragem que impeliram as primeiras comunidades cristãs a ser intrépidas
anunciadoras da novidade evangélica, fazendo ressoar no nosso coração as palavras
de São Paulo: «Se anuncio o Evangelho, não tenho de que me gloriar, é antes uma obrigação
que me foi imposta: ai de mim, se eu não evangelizar!» (1 Cor 9,16). O tema,
que escolhi para o Dia Mundial do Migrante e do Refugiado em 2012 – «Migrações e nova
evangelização» –, nasce desta realidade. De facto, a hora presente chama a Igreja
a realizar uma nova evangelização inclusive no vasto e complexo fenómeno da mobilidade
humana, intensificando a acção missionária tanto nas regiões de primeiro anúncio,
como nos países de tradição cristã. O Beato João Paulo II convidava-nos a «alimentar-nos
da Palavra para sermos “servos da Palavra” no trabalho da evangelização... [numa]
situação que se vai tornando cada vez mais variada e difícil com a progressiva mistura
de povos e culturas que caracteriza o novo contexto da globalização» (Carta apost.
Novo millennio ineunte, 40). Com efeito, as migrações dentro ou para fora da nação,
como solução para a busca de melhores condições de vida ou para fugir de eventuais
perseguições, guerras, violência, fome e catástrofes naturais, produziram uma mistura
de pessoas e de povos sem precedentes, com novas problemáticas do ponto de vista não
só humano, mas também ético, religioso e espiritual. As actuais e palpáveis consequências
da secularização, a aparição de novos movimentos sectários, uma difundida insensibilidade
à fé cristã, uma acentuada tendência à fragmentação, tornam difícil focalizar uma
referência unificadora que encoraje a formação de «uma só família de irmãos e irmãs
em sociedades que se tornam cada vez mais multiétnicas e interculturais, onde também
as pessoas de várias religiões são estimuladas ao diálogo, para que se possa encontrar
uma serena e frutuosa convivência no respeito das legítimas diferenças», como eu escrevia
na Mensagem do ano passado para este Dia Mundial. O nosso tempo está marcado por tentativas
de cancelar Deus e a doutrina da Igreja do horizonte da vida, enquanto ganham terreno
a dúvida, o cepticismo e a indiferença, que gostariam de eliminar todo e qualquer
referimento social e simbólico da fé cristã. Em tal contexto, sucede frequentemente
que os migrantes que conheceram Cristo e O aceitaram se sintam impelidos a considerá-Lo
como não relevante na própria vida, a perder o sentido da fé, a deixar de se reconhecerem
como parte da Igreja, acabando muitas vezes por viverem uma existência que já não
é caracterizada por Cristo e pelo seu Evangelho. Cresceram no seio de povos marcados
pela fé cristã, mas depois com frequência emigram para países onde os cristãos são
uma minoria ou a antiga tradição de fé já não é convicção pessoal, nem confissão comunitária,
mas está reduzida a um facto cultural. Aqui a Igreja enfrenta o desafio de ajudar
os migrantes a manterem firme a fé, mesmo quando falta o apoio cultural que existia
no país de origem, lançando mão inclusive de novas estratégias pastorais, assim como
de métodos e linguagens para um acolhimento vivo da Palavra de Deus. Em alguns casos,
trata-se duma ocasião para proclamar que, em Jesus Cristo, a humanidade se torna participante
do mistério de Deus e da sua vida de amor, abrindo-se a um horizonte de esperança
e de paz através, nomeadamente, do diálogo respeitoso e do testemunho concreto da
solidariedade, enquanto, noutros casos, há a possibilidade de despertar a consciência
cristã adormecida, através dum renovado anúncio da Boa Nova e duma vida cristã mais
coerente para fazer descobrir a beleza do encontro com Cristo, que chama o cristão
à santidade em todo o lado, mesmo em terra estrangeira. Mas o actual fenómeno
migratório é também uma oportunidade providencial para o anúncio do Evangelho no mundo
contemporâneo. Homens e mulheres provenientes das mais diversas regiões da terra,
que ainda não encontraram Jesus Cristo ou que O conhecem só de maneira parcial, pedem
para ser acolhidos em países de antiga tradição cristã. Em relação a eles, é necessário
encontrar modalidades adequadas para que possam encontrar e conhecer Jesus Cristo
e experimentar o dom inestimável da salvação, que para todos é fonte de «vida em abundância»
(cf. Jo 10,10); os próprios migrantes desempenham um papel precioso a este respeito,
porque podem, por sua vez, tornar-se «anunciadores da Palavra de Deus e testemunhas
do Senhor Ressuscitado, esperança do mundo» (Exort. apost. Verbum Domini, 105). No
exigente itinerário da nova evangelização em âmbito migratório, assumem um papel decisivo
os agentes pastorais – sacerdotes, religiosos e leigos – que se encontram a trabalhar
num contexto cada vez mais pluralista: em comunhão com os seus Ordinários, inspirando-se
no Magistério da Igreja, convido-os a procurar caminhos de partilha fraterna e anúncio
respeitoso, superando contrastes e nacionalismos. Por sua vez, as Igrejas tanto de
proveniência, como de trânsito e de acolhimento dos fluxos migratórios saibam intensificar
a sua cooperação em benefício tanto dos que partem como daqueles que chegam e, em
todo o caso, de quantos têm necessidade de encontrar no seu caminho o rosto misericordioso
de Cristo no acolhimento do próximo. Para uma frutuosa pastoral de comunhão, poderá
ser útil actualizar as tradicionais estruturas que atendem os migrantes e os refugiados,
dotando-as de modelos que correspondam melhor às novas situações em que aparecem diferentes
culturas e povos a interagir. Os refugiados que pedem asilo, fugindo de perseguições,
violências e situações que põem em perigo a sua vida, têm necessidade da nossa compreensão
e acolhimento, do respeito pela sua dignidade humana e seus direitos, assim como da
consciência dos seus deveres. O seu sofrimento reclama dos diversos Estados e da comunidade
internacional que haja atitudes de mútuo acolhimento, superando temores e evitando
formas de discriminação e que se procure tornar concreta a solidariedade também mediante
adequadas estruturas de hospitalidade e programas de reinserção. Tudo isto exige uma
ajuda recíproca entre as regiões que sofrem e aquelas que, anos após anos, acolhem
um grande número de pessoas em fuga e também uma maior partilha de responsabilidades
entre os Estados. A imprensa e os outros meios de comunicação desempenham um papel
importante para fazer conhecer, com imparcialidade, objectividade e honestidade, a
situação de quantos foram forçados a deixar a sua pátria e os seus afectos e desejam
começar a construir uma nova existência. As comunidades cristãs reservem particular
atenção aos trabalhadores migrantes e suas famílias, acompanhando-os com a oração,
a solidariedade e a caridade cristã; valorizando aquilo que enriquece reciprocamente
e promovendo novos projectos políticos, económicos e sociais, que favoreçam o respeito
pela dignidade de cada pessoa, a tutela da família, o acesso a uma habitação condigna,
ao trabalho e à assistência. Sacerdotes, religiosos e religiosas, leigos, e sobretudo
os jovens e as jovens, mostrem-se sensíveis e ajudem incontáveis irmãs e irmãos que,
tendo fugido da violência, se devem confrontar com novos estilos de vida e com dificuldades
de integração. O anúncio da salvação em Jesus Cristo será fonte de alívio, esperança
e «alegria completa» (cf. Jo 15,11). Por fim, desejo recordar a situação de numerosos
estudantes vindos de outros países que enfrentam problemas de inserção, dificuldades
burocráticas, aflições na busca de alojamento e de estruturas de acolhimento. De modo
particular, as comunidades cristãs mostrem-se sensíveis com tantos jovens que, além
do crescimento cultural, têm necessidade – precisamente devido à sua tenra idade –
de pontos de referência, cultivando no seu coração uma profunda sede de verdade e
o desejo de encontrar Deus. De modo especial, as Universidades de inspiração cristã
sejam lugares de testemunho e de irradiação da nova evangelização, aparecendo seriamente
comprometidas, no ambiente académico, não só em cooperar para o progresso social,
cultural e humano, mas também em promover o diálogo entre as culturas, valorizando
a contribuição que podem dar os estudantes estrangeiros. Estes sentir-se-ão impelidos
a tornar-se, eles mesmos, protagonistas da nova evangelização, se encontrarem testemunhas
autênticas do Evangelho e modelos de vida cristã. Queridos amigos, invoquemos
a intercessão de «Nossa Senhora do Caminho», para que o anúncio jubiloso da salvação
de Jesus Cristo infunda esperança no coração daqueles que se encontram, em condições
de mobilidade, pelas estradas do mundo. A todos asseguro a minha oração e concedo
a Bênção Apostólica.
Vaticano, 21 de Setembro de 2011.
Benedictus PP. XVI