Roma (RV)
- As três agências das Nações Unidas voltadas à agricultura, com base em Roma, divulgaram
nesta segunda-feira o relatório da fome no mundo.
A tendência de alta nos preços
dos alimentos continua e possivelmente os valores devem subir ainda mais nos próximos
meses. A conclusão é da agência das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação,
a FAO, em conjunto com o Fundo Internacional para o Desenvolvimento da Agricultura,
o IFAD e o Programa de Alimentação Mundial, o PAM.
Com isso, agricultores mais
pobres, consumidores e países se tornam ainda mais vulneráveis à pobreza e a insegurança
alimentar, principalmente na África.
Kostas Stamoulis, economista e Diretor
da Divisão de Desenvolvimento da Agricultura da FAO, sugere três medidas cruciais
para que os governos superem a crise da alta dos preços dos alimentos.
"Uma
é criar e permitir novos ambientes para a produtividade e a produção rural. Depois,
investir em infra-estrutura apropriada e em recursos públicos que os produtores necessitam
para ter maior produtividade. Em segundo lugar, os governos devem evitar de tomar
decisões unilaterais de mercado como, por exemplo, banir ou restringir exportações.
Tudo isso agrava ainda mais a situação nos mercados internacionais, tornando os preços
mais altos e aumentando a volatilidade. Por último, os governos devem ser mais transparentes
e coordenados".
Outro problema que influência diretamente na produção é o risco,
como explica Stamoulis.
"O fator principal que impacta diretamente na capacidade
dos agricultores em produzir é o risco. Preços voláteis criam risco. Se os produtores
não tem certeza do futuro, eles não vão investir na produção".
Pequenos países
africanos, dependentes das importações são os que mais estão em risco. Muitos deles
ainda encaram a herança da crise mundial de alimentos de 2006 a 2008. Essas crises,
incluíndo a recente declaração de fome no Chifre da África, são um grande desafio
para as Metas de Desenvolvimento do Milênio, em particular aquela de diminuir pela
metade até 2015 o número de pessoas que passam fome em todo o planeta. Segundo a FAO,
em 2010, 925 milhões de pessoas estão passando fome.
O relatório ainda revela
um novo panorama que pode compromenter ainda mais a produção mundial de alimentos.
Segundo as agências da ONU, a crescente demanda de consumo nas economias em ascensão,
onde a população continua a aumentar, somada ao aumento de áreas cultivadas para os
biocombustíveis, acarretará novos desafios para o sistema alimentar mundial.
"Todas
as agências têm uma função a ser desenvolvida", reitera David Dawe, economista da
FAO. "Assim como os países doadores e os governos locais. Investimentos a longo prazo
são muito importantes, e esse papel é feito pelo IFAD. Já o Programa Alimentar Mundial
proporciona segurança para dar base a estes investimentos futuros assim como a FAO,
que também se envolve nessas etapas tentando promover políticas mais transparentes
e melhor informação dos mercados".
Para tentar reverter a tendência de alta
nos preços, a chefe de Emergências da FAO, Cristina Amaral, antecipa um novo projeto.
"O
que se está a tentar fazer hoje, por meio da FAO e a pedido dos países do G20 com
outras organizações, é criar um sistema de informação sobre mercados, que se chamará
AMIS e que vai aumentar a transparência das informações sobre mercados agrícolas,
esperando que isso possa contribuir para diminuir um pouco a volatilidade”. (RB)