Lamezia Terme, 09 out (RV) - O Papa Bento XVI, em sua homília na manhã deste
domingo, proferida na cidade de Lamezia Terme, na Calábria, no sul da Itália, lembrou
que todos nós fomos convidados para a ceia do Senhor, contudo, é preciso prestar atenção
ao fundamental para poder dividir a mesa com o filho de Deus.
Bento XVI faz
uma Visita Pastoral a região da Calábria, uma das áreas italianas que mais sofre com
a desocupação e a crescente criminalidade. Além de Lamezia Terme, o Papa também visita
a comunidade de San Bruno. Ainda hoje, o Santo Padre retorna à Cidade do Vaticano.
Abaixo,
o texto da homília do Papa na íntegra.
"Caros Irmãos e Irmãs,
E grande
minha alegria em poder dividir com vocês o pão da Palavra de Deus e da Eucaristia.
Estou feliz por estar pela primeira vez aqui na Calábria, em Lamezia Terme. Saúdo
todos vocês que vieram em grande numero e agradeço pelo caloroso acolhimento. Saúdo
em especial o seu Pastor, Dom Luigi Antonio Cantafora, e lhe agradeço as gentis palavras
de boas vindas que me dirigiu em nome de todos. Saúdo ainda os arcebispos e bispos
presentes, os sacerdotes, os religiosos e as religiosas, os representantes das associações
e dos movimentos eclesiais. Dirijo ainda um pensamento especial ao Prefeito Gianni
Speranza, a quem sou grato pelas palavras de saudação, e também aos representantes
do governo e às autoridades civis e militares, que com sua presença honram ainda mais
este nosso encontro. Um agradecimento especial a todos que generosamente colaboraram
para a realização desta visita pastoral.
A liturgia deste domingo nos propõe
uma parábola que fala de um banquete de núpcias ao qual muitos são convidados. A primeira
leitura, do livro de Isaías, prepara este tema, porque fala do banquete de Deus. A
imagem deste banquete muitas vezes é usada nas Escrituras para indicar a alegria na
comunhão e da abundância dos dons do Senhor, e deixa intuir qualquer coisa da festa
de Deus com a humanidade, como descreve Isaias: "O Senhor dos Exércitos prepara para
todos os povos, sobre esta montanha, um banquete de carnes gordas, um banquete de
vinhos finos! (Is25,6)
O profeta acrescenta que a intenção de Deus é colocar
fim à tristeza e à vergonha, quer que todos os homens vivam felizes no amor a Deus
e na comunhão recíproca; o seu projeto é eliminar a morte para sempre, enxugar
as lágrimas de cada rosto, fazer desaparecer as condições desonrosas do seu povo,
como acabamos de ouvir.
Tudo isso suscita profunda gratidão e esperança: “Aqui
está o nosso Deus, dele esperamos nossa salvação; este é o Senhor que esperávamos,
alegremo-nos, exultemos por sua salvação”
Jesus no Evangelho nos fala da resposta
que nos é dada ao convite de Deus, representado como um rei, para participar no seu
banquete. Os convidados são muitos, mas acontece uma coisa inesperada: se negam a
participar da festa, tem outros compromissos, aliás, alguns até mesmo desprezam o
convite.
Deus é generoso para conosco, nos oferece sua amizade, seus dons,
sua alegria, mas muitas vezes não ouvimos suas palavras, mostramos mais interesse
por outras coisas, colocamos em primeiro lugar nossas preocupações materiais, nossos
interesses. O convite do rei encontra até mesmo reações hostis, agressivas. Mas isso
não freia sua generosidade. Ele não perde a coragem, e manda seus servos convidar
muitas outras pessoas. A rejeição dos primeiros convidados tem como efeito a extensão
do convite a todos, mesmo aos mais pobres, abandonados e deserdados.
Os servos
reuniram todos aqueles que encontraram, e a sala fica repleta: a bondade do rei não
tem limites e a todos e dada a possibilidade de responder ao seu chamado. Mas existe
uma condição para permanecer neste banquete de núpcias: vestir a roupa nupcial. E
entrando na sala, o rei vê alguém que não quis vesti-la e, por isso, é excluído da
festa.
Gostaria de parar um momento sobre este ponto e fazer uma pergunta:
como este que aceitou o convite do rei, entrou na sala do banquete, abriram a porta
para ele, mas não vestiu a veste nupcial? O que é esta veste nupcial?
Na missa
da Quinta-Feira Santa deste ano lembrei um belo comentário de São Gregório sobre esta
parábola. Ele explica que aquele convidado que respondeu o convite de Deus para participar
do seu banquete tem, de certo modo, a fé que abriu a porta da sala, mas falta qualquer
coisa essencial: as vestes nupciais, que é a caridade, o amor. E São Gregório acrescenta:
“Qualquer um de vocês, que na Igreja tem fé em Deus já tem um lugar no banquete de
núpcias, mas não pode dizer que tem a veste nupcial se não conserva a graça da Caridade”
Todos nós somos convidados a dividir a mesa com o Senhor, a entrar com fé no
seu banquete, mas devemos trajar e conservar a veste nupcial, a caridade, viver um
profundo amor por Deus e ao próximo.
Caros irmãos e irmãs! Vim para dividir
com vocês a alegria e a esperança, cansaços e compromissos, ideais e aspirações desta
comunidade diocesana. Sei que vocês se prepararam para esta visita com um intenso
caminho espiritual, adotando como lema um versículo do Ato dos Apóstolos. “Em nome
de Jesus Cristo Narazeno, levanta-te e anda!” Sei também que em Lamezia Terme, como
em toda a Calábria, não faltam dificuldades, problemas e preocupações. Se observarmos
esta bela região, reconhecemos nela uma terra sísmica não somente do ponto de vista
geológico, mas também do ponto de vista estrutural, comportamental e social; uma terra
onde os problemas aparecem de forma aguda e desestabilizante; uma terra onde a desocupação
é preocupante, onde uma criminalidade muitas vezes feroz, fere o tecido social, uma
terra onde se tem a contínua sensação de estar num estado de emergência.
À
emergência, vocês calabreses souberam responder com prontidão e uma disponibilidade
surpreendente, com uma extraordinária capacidade de adaptação a situações incomodas.
Tenho certeza de que vocês saberão superar as dificuldades de hoje para preparar um
futuro melhor. Não cedam jamais à tentação do pessimismo. Façam apelos aos recursos
de sua fé e de suas capacidades humanas, esforcem-se para crescer na capacidade de
colaborar, de ter cuidado com o próximo e com os bens públicos, conservem a veste
nupcial do amor; perseverem no testemunho dos valores humanos e cristãos radicados
na fé a na história deste território e de sua população.
Caros amigos! A minha
visita se realiza quase no final do projeto de cinco anos da Igreja local. Quero
agradecer junto com vocês ao Senhor pelo fértil caminho percorrido e por tantas sementes
do bem plantadas para o futuro.
Para fazer frente à nova realidade social e
religiosa, diferente do passado, talvez carregada com mais dificuldades, mas também
mais rica em potencialidades, é necessário um trabalho pastoral moderno e orgânico
que comprometa, em torno ao Bispo, todas as forças cristãs: sacerdotes, religiosos
e leigos, animados pelo comum compromisso de evangelização.
A este respeito,
aprendi graças ao esforço para ouvir com atenção e perseverança a Palavra de Deus,
através da promoção de encontros mensais nos diversos centros da Diocese e da difusão
da prática da leitura divina.
Tão oportuna é também a Escola da Doutrina Social
da Igreja, seja pela qualidade articulada da proposta, seja pela sua divulgação capilar.
Espero realmente que de tais iniciativas surja uma nova geração de homens e mulheres
capazes de promover não os interesses de uma parte, mas o bem comum.
Espero
ainda encorajar e abençoar os esforços de todos, sacerdotes e leigos, que estão empenhados
na formação de casais cristãos para o matrimônio e para a família, com o objetivo
de dar uma resposta evangélica e competente aos tantos desafios contemporâneos no
campo da família e da vida.
Conheço o zelo e a dedicação com os quais os sacerdotes
desenvolvem os seus serviços pastorais, como também o sistemático e incisivo trabalho
de formação a eles dirigido, em particular para aqueles mais jovens.
Estimados
sacerdotes, convido-os a radicar sempre mais a sua vida espiritual no Evangelho, cultivando
a vida interior, uma intensa relação com Deus e afastando-se com decisão de uma mentalidade
consumista e mundana, que é uma tentação recorrente da realidade na qual vivemos.
Aprendam a crescer na comunhão entre vocês e com o Bispo, entre vocês e o
fiéis leigos, dando preferência à estima e à colaboração recíproca: e disso virão
seguramente múltiplos benefícios seja para a vida das paroquiais assim como para a
sociedade civil. Saibam valorizar, com discernimento, segundo os notáveis critérios
eclesiais, os grupos e movimentos: esses caminham bem integrados dentro da pastoral
ordinária da diocese e das paróquias, em profundo espírito de comunhão.
A vocês
fiéis leigos, jovens e famílias, digo: não tenham medo de viver e testemunhar a fé
nos vários âmbitos da sociedade, nas múltiplas situações da existência humana. Vocês
têm todos os motivos para serem fortes, confiantes e corajosos, e isso graças à luz
da fé e à força da caridade.
E quando vocês encontrarem a oposição do mundo
façam suas as palavras do Apóstolo: “Tudo posso naquele que me fortalece”. Assim se
comportaram os Santos e as Santas no decorrer dos séculos, em toda a Calábria. São
eles que nos mantém unidos e alimentam em cada um o desejo de proclamar, com as palavras
e com ações concretas, a presença do amor de Cristo. A Mãe de Deus, por vocês tão
venerada, os assista e os conduza ao profundo conhecimento do seu Filho. Amém!"