EDITORIAL: OPORTUNIDADE PARA SERMOS VERDADEIRAMENTE CRISTÃOS

Cidade do Vaticano, 08 out (RV) – Nos últimos tempos os meios de comunicação, - televisão, rádio, jornal, internet - insistentemente trazem às nossas casas as notícias e as imagens da febril tentativa de superar a crise econômica que atinge, desta vez, com mais ou menos intensidade, todos os países do mundo: é o efeito da globalização da economia; quando a Bolsa de Tóquio fecha em negativo, a tendência é que as Bolsas da Europa e América, sofram os seus efeitos. Podemos seguir nos meios de comunicação a agitação dos governos que tentam de todas as maneiras driblar essa situação, propondo, como sempre, sacrifícios aos contribuintes, para poder criar estabilidade dentro do país. Que o diga neste momento a Grécia, sacudida por manifestações e pela especulação do mercado mundial. Tudo em jogo, na economia mundial. Mas ao mesmo tempo, pouco se fala, pouco se faz ver do drama que continua a consumar vidas, dia após dia, no inimaginável cenário da região africana chamada “Chifre da África”.
Na última quarta-feira o Papa Bento XVI, na conclusão da audiência geral na Praça São Pedro, voltou a sacudir a consciência da comunidade internacional para esse drama que se consuma na indiferença total, seja dos meios de comunicação, seja dos potentes da terra. “Renovo o convite à comunidade internacional – disse o Santo Padre - para que continue o seu empenho a favor daqueles povos e convido todos a oferecerem orações e ajudas concretas a muitos irmãos e irmãs tão duramente provados, em especial às crianças, que todos os dias morrem naquela região por doenças e falta de água e de alimento", disse o pontífice.
O Papa volta a tocar na ferida aberta. O mundo está unindo forças para salvar bolsas de valores e imensos capitais econômicos concentrados em bancos, e deixa morrer à míngua milhares de pessoas, cujo único pecado foi ter nascido em uma das regiões mais pobres do planeta.
Nestes dias se reuniram no Vaticano, junto com o Presidente do Pontifício Conselho "Cor Unum", Card. Robert Sarah, e o Administrador Apostólico de Mogadíscio, Dom Giorgio Bertin, alguns representantes de organizações caritativas católicas. Uma tentativa para verificar e impulsionar as iniciativas criadas para fazer frente a essa emergência humanitária. Também no Brasil, prossegue a campanha da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), sob a coordenação da Caritas Brasileira, para convidar a sociedade brasileira a participar de uma coleta nacional, cujos recursos serão enviados à Caritas Internacional, para o socorro imediato dos atingidos.
São milhões as pessoas em fuga dos territórios atingidos por uma seca devastadora no Chifre da África, que compreende a Somália, o norte do Quênia, o sul da Etiópia e Jibuti. As iniciativas para ajudar essas pessoas são muitas, como a de renunciar a uma refeição e dar o equivalente como ajuda para os nossos irmãos daquela região. Um gesto que pode se transformar numa corrente sem fim que permita a esses milhões de pessoas terem esperança num futuro. E para elas o futuro é hoje e amanhã. Cerca de 12 milhões de pessoas carecem de ajuda em todo o Chifre da África e este número pode aumentar.
Para enfrentar a emergência alimentar a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura - FAO fez um chamado para que pessoas, governos, empresas e organizações doem recursos financeiros para enfrentar esta situação urgente.
A combinação de estiagem, aumento de preço dos alimentos e conflitos são os principais fatores responsáveis pela fome. Além disso, juntou-se também os problemas de acesso que impediram que algumas agências humanitárias pudessem chegar até as pessoas necessitadas, o que tornou a crise atual mais aguda.
Vivemos um momento singular da nossa história com a grande preocupação da crise econômica que atinge muitos países e neles as classes sociais mais débeis; mas passamos também por um momento em que a história nos apresenta a oportunidade para vivermos o preceito evangélico da caridade, do amor, da fraternidade. Que bom seria se todos, independentemente de credo, nação ou raça, olhassem o outro como ele é, um ser humano, que necessita de ajuda, que necessita de atenção para não ser somente um número na grande estatística do cenário mundial. Esse é um bom momento para sermos verdadeiramente cristãos! (Silvonei José)