AFEGANISTÃO: DEZ ANOS DEPOIS CIVIS AINDA PAGAM O PREÇO DO CONFLITO
Genebra, 04 out (RV) – Dez anos após o início de um novo capítulo na guerra
no Afeganistão, que já dura 30 anos, os afegãos continuam num beco sem saída em meio
à contínua violência armada. Segundo o Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV),
a segurança e a assistência à saúde são os maiores problemas humanitários que a população
afegã enfrenta hoje.
“Apesar das melhoras na qualidade da vida em certos setores
da população na última década, a situação de segurança em muitas áreas do país continua
alarmante”, disse o diretor de operações do CICV para o Sul da Ásia, Jacques de Maio.
“É
imperativo que as vítimas deste conflito armado contínuo e multifacetado recebam proteção
e assistência”, acrescentou. “Estamos particularmente preocupados com os civis que
estão na linha de fogo, as famílias deslocadas que perderam tudo, os doentes e feridos
que não podem ter acesso à assistência à saúde, os profissionais de saúde assediados
enquanto prestam assistência a uma população desesperada”.
O acesso à assistência
médica chegou a uma situação crítica nas áreas afetadas, com as clínicas locais fechadas
em algumas partes devido ao conflito, ataques aos estabelecimentos, ou intimidação
da equipe. “As estradas estão minadas ou são bloqueadas por pontos de checagem, de
modo que as pessoas que levam os doentes e feridos para os hospitais enfrentam longas
demoras, às vezes com consequências trágicas”, disse de Maio. Além disso, devido à
pobreza generalizada, os afegãos que moram em áreas rurais remotas simplesmente não
podem pagar as despesas de transporte para levar os doentes e feridos aos hospitais.
Muitas
comunidades nas áreas rurais se sentem mais vulneráveis do que nunca. O deslocamento
relacionado com o conflito é superior a 40% em comparação com o ano passado em algumas
partes do norte do país. “Em muitas áreas, incluindo nas regiões centrais de Wardak
e Logar, as pessoas dizem que não se sentem mais seguras porque estão sendo intimidadas
e coagidas por todas as partes em conflito a tomarem partido de um dos lados”, acrescentou
de Maio. “Tudo o que elas realmente querem é estar longe do perigo”.
A desnutrição
aumentou no sul do país no último ano. Há muitos motivos para isso – deficiência na
educação, falta de segurança, pobreza e falta de higiene, por exemplo –, mas o conflito
em curso é um fato que contribui. As epidemias sazonais, como o sarampo, aumentaram
significantemente em lugares onde o conflito continua violento.
Com a saída
das tropas internacionais e a transferência de responsabilidade de volta para as autoridades
afegãs, o CICV está monitorando como as forças de defesa e de segurança afegãs desempenham
suas tarefas, incluindo aquelas relacionadas com os detidos. A organização compartilha
suas preocupações com relação à população civil com todas as partes em conflito, incluindo
a oposição armada, e discute com elas a obrigação de respeitar e assegurar o respeito
ao Direito Internacional Humanitário (DIH).
Há 25 anos o CICV trabalha no Afeganistão,
uma de suas maiores operações no mundo todo. O CICV continua comprometido em ajudar
a população no Afeganistão, que está muito vulnerável. “Continuaremos o nosso trabalho
estritamente humanitário, ao mesmo tempo em que nos manteremos independentes de todas
as iniciativas diplomáticas e políticas e nos esforçaremos para assegurar que as pessoas
recebam a assistência que necessitam”, disse de Maio. (CICV/RB)