"ÁFRICA NÃO PODE SE DESENVOLVER SOMENTE COM AJUDA", ALERTA IFAD
Roma,
30 set (RV) - "Eu não acredito que a África deva esperar pela comunidade internacional
para gerar seus próprios alimentos. O G20, sob liderança da França, deu prioridade
para a agricultura, para a segurança alimentar e volatilidade dos preços. Mas isso
não vai resolver o problema. A não ser que se comece pela própria África", alertou
o presidente do Fundo Internacional para o Desenvolvimento da Agricultura (IFAD),
o nigeriano Kanayo Nwanze.
Em 2003, os governos africanos se comprometeram
em destinar 10% do orçamento para a agricultura. Entretanto, segundo o IFAD, foram
poucos que o fizeram.
"O número de países que cumpriram esta meta não chega
a dez. Então, porque se deve esperar pelo suporte da comunidade internacional para
desenvolver a África? Há 50 anos, nenhum país africano era um grande importador de
alimentos. Naquela época, a renda per capita da Coreia do Sul era de menos de 100
dólares. Hoje, a Coreia do Sul dá suporte aos países africanos, assim com a China".
O presidente destacou ainda que a cooperação Sul-Sul é uma grande ferramenta de
ajuda para a África. A grande questão é descobrir a melhor forma transferir o conhecimento
e a tecnologia. Como exemplo de investimento local, foi citada a província de Gansu,
na China.
"Vinte anos atrás, a província não conseguia produzir alimento suficiente
para seus habitantes. Até que os governos central, provincial e líderes comunitários
decidiram investir em agricultura, desenvolvimento rural, na preparação do solo em
terrenos íngremes, captação de água e pequenas criações de animais. Tudo isso numa
região onde não chove mais de 300 milímetros por ano".
O IFAD é uma das três
agências das Nações Unidas voltadas à agricultura com sede em Roma. O presidente defendeu
que, em áreas do Corno da África onde o IFAD atua, a segurança alimentar não foi tão
afetada pela seca.
"O IFAD tem investido no Corno da África há 30 anos. Hoje
executamos projetos e programas que chegam a 500 mil milhões de dólares. Nas partes
destes países onde promovemos infra-estrutura e desenvolvimento rural, ajudando as
pessoas a produzirem alimentos para si mesmos, o impacto da seca não foi tão grande".
Por fim, o presidente defendeu que nenhum país africano poderá se desenvolver
por meio da ajuda. E citou exemplos de países comprometidos com a agricultura.
"Se nós continuarmos a esperar que a comunidade internacional resolva os problemas
da África nos próximos 25 anos, 2050 vai chegar e a África vai continuar um passo
atrás. Mas países como Tanzânia, Quênia e Gana estão olhando para o futuro, com investimentos
a longo prazo em agricultura e desenvolvimento rural". (RB)