PAPA ENCONTRA MEMBROS DO COMITÊ CENTRAL DOS CATÓLICOS ALEMÃES
Friburgo, 24 set (RV) - Na tarde deste sábado Bento XVI encontrou-se no Seminário
de Friburgo, na Alemanha com o Comitê Central dos Católicos. Aos membros do Comitê
fez um discurso. Eis o conteúdo:
Amados irmãos e irmãs,
Agradeço
a possibilidade de me encontrar convosco, os membros do Conselho do Comité Central
dos Católicos Alemães, aqui em Friburgo. Quero manifestar-vos o meu apreço pelo empenho
com que sustentais, em público, os interesses dos católicos e dais impulso à obra
apostólica da Igreja e dos católicos na sociedade. Ao mesmo tempo, agradeço ao senhor
Alois Glück, Presidente do Comité Central dos Católicos Alemães, ZdK, pelo amável
convite feito. Queridos amigos, há vários anos que existem os chamados programas
exposure no âmbito da ajuda aos países em vias de desenvolvimento. Pessoas responsáveis
pela política, pela economia, pela Igreja vão viver, durante um certo tempo, com os
pobres na África, Ásia ou América Latina, compartilhando a sua existência concreta
de todos os dias. Colocam-se na situação de vida destas pessoas para verem o mundo
com os seus olhos e, desta experiência, tirarem lições para o próprio agir solidário. Imaginemos
que um tal programa exposure tivesse lugar aqui na Alemanha. Peritos originários dum
país distante viriam viver, durante uma semana, com uma família alemã média. Certamente
admirariam aqui muitas coisas, como por exemplo o bem-estar, a ordem e a eficiência.
Mas, com um olhar imparcial, constatariam também tanta pobreza: pobreza nas relações
humanas e pobreza no âmbito religioso. Vivemos num tempo caracterizado em grande
parte por um relativismo subliminar que penetra todos os âmbitos da vida. Às vezes,
este relativismo torna-se combativo, lançando-se contra pessoas que afirmam saber
onde se encontra a verdade ou o sentido da vida. E notamos como este relativismo
exerce uma influência cada vez maior sobre as relações humanas e a sociedade. Isto
exprime-se também na inconstância e descontinuidade de vida de muitas pessoas e num
individualismo excessivo. Há pessoas que não parecem capazes de renunciar de modo
algum a determinada coisa ou de fazer um sacrifício pelos outros. Também o compromisso
altruísta pelo bem comum nos campos sociais e culturais ou então pelo necessitados
está a diminuir. Outros já não são capazes de se unir de forma incondicional a um
consorte. Quase já não se encontra a coragem de prometer ser fiel a vida toda; a coragem
de decidir-se e dizer: agora pertenço totalmente a ti, ou então, de comprometer-se
resolutamente com a fidelidade e a veracidade, e de procurar sinceramente as soluções
dos problemas. Queridos amigos, no programa exposure, depois da análise vem a reflexão
comum. Nesta elaboração, deve-se olhar a pessoa humana na sua totalidade; e desta
faz parte explicitamente, e não só de modo implícito, a sua relação com o Criador. Vemos
que, no nosso mundo rico ocidental, há carências. Muitas pessoas carecem da experiência
da bondade de Deus. Não encontram qualquer ponto de contacto com as Igrejas institucionais
e suas estruturas tradicionais. Mas porquê? Penso que esta seja uma pergunta sobre
a qual devemos reflectir muito a sério. Ocupar-se desta questão é a tarefa principal
do Pontifício Conselho para a Promoção da Nova Evangelização. Mas, obviamente, a mesma
diz respeito a todos nós. Permiti-me tratar aqui um ponto da situação específica alemã.
Na Alemanha, a Igreja está optimamente organizada. Mas, por detrás das estruturas,
porventura existe também a correlativa força espiritual, a força da fé num Deus vivo?
Sinceramente devemos afirmar que se verifica um excedente das estruturas em relação
ao Espírito. Digo mais: a verdadeira crise da Igreja no mundo ocidental é uma crise
de fé. Se não chegarmos a uma verdadeira renovação da fé, qualquer reforma estrutural
permanecerá ineficaz. Voltemos às pessoas a quem falta a experiência da bondade
de Deus. Precisam de lugares, onde possam expor a sua nostalgia interior. Aqui somos
chamados a procurar novos caminhos da evangelização. Um destes caminhos poderiam ser
as pequenas comunidades, onde sobrevivem as amizades, que são aprofundadas na frequente
adoração comunitária de Deus. Aqui há pessoas que contam as suas pequenas experiências
de fé no emprego e no âmbito da família e dos conhecidos, testemunhando assim uma
nova proximidade da Igreja à sociedade. Depois, a seus olhos, aparece de modo cada
vez mais claro que todos necessitam deste alimento do amor, da amizade concreta de
um pelo outro e pelo Senhor. Permanece importante a ligação com a seiva vital da Eucaristia,
porque sem Cristo nada podemos fazer (cf. Jo 15, 5). Amados irmãos e irmãs, que
o Senhor nos indique sempre o caminho para, juntos, sermos luzes no mundo e mostrarmos
ao nosso próximo o caminho para a fonte, onde possam saciar o seu profundo anseio
de vida.(SP)