Friburgo, 24 set (RV) – Durante a sua visita Apostólica à Alemanha, neste sábado
o Santo Padre manteve no Seminário de Friburgo um encontro com representantes das
Igrejas Ortodoxas. Eis o seu discurso:
Eminências, Excelências, Venerados
Representantes das Igrejas Ortodoxas e Ortodoxas Orientais,
Sinto grande alegria
por nos encontrarmos hoje aqui juntos. De coração vos agradeço a todos pela presença
e a possibilidade desta partilha amiga. De modo particular, agradeço ao Metropolita
Augoustinos pelas suas palavras cheias de confiança. Apraz-me repetir aqui o que disse
noutro lugar: de entre as Igrejas e as Comunidades cristãs, a Ortodoxia é teologicamente
a que está mais próxima de nós; católicos e ortodoxos têm ambos a mesma estrutura
da Igreja dos primórdios. Deste modo podemos esperar que não esteja demasiado longe
o dia em que poderemos de novo celebrar juntos a Eucaristia (cf. Luz do Mundo. Uma
conversa com Peter Seewald, pp. 91-92). Com interesse e simpatia, a Igreja
Católica acompanha o desenvolvimento das comunidades ortodoxas na Europa ocidental,
que têm registado um crescimento notável. Hoje vivem, na Alemanha, cerca de um milhão
e seiscentos mil cristãos ortodoxos e ortodoxos orientais. Tornaram-se parte constitutiva
da sociedade, contribuindo para tornar mais vivo o património das culturas cristãs
e da fé cristã na Europa. Alegro-me com a intensificação da colaboração pan-ortodoxa
que fez progressos substanciais nos últimos anos. A fundação das Conferências Episcopais
Ortodoxas, em regiões onde as Igrejas Ortodoxas estão na diáspora, é expressão das
sólidas relações existentes no âmbito da Ortodoxia. Sinto-me feliz por se ter dado
tal passo, também na Alemanha, no ano passado. Possam as experiências que se vivem
nestas Conferências Episcopais reforçar a união entre as Igreja Ortodoxas e fazer
progredir os esforços para um concílio pan-ortodoxo. Já quando era professor em
Bona mas particularmente depois como Arcebispo de Mónaco e Frisinga, pude, através
da amizade pessoal com representantes das Igrejas Ortodoxas, conhecer e apreciar de
forma cada vez mais profunda a Ortodoxia. Naquele tempo, teve início também o trabalho
da Comissão mista da Conferência Episcopal Alemã e da Igreja Ortodoxa. Desde então,
com os seus textos sobre questões pastorais e práticas, ela promove a mútua compreensão
e contribui para consolidar e desenvolver as relações católico-ortodoxas na Alemanha.
Permanece igualmente importante a continuação do trabalho para se esclarecerem as
diferenças teológicas, porque a sua superação é indispensável para o restabelecimento
da unidade plena, que almejamos e pela qual rezamos. É sobretudo na questão do Primado
que devemos continuar os esforços de confrontação para a justa compreensão do mesmo.
Aqui podem ainda dar-nos frutuosos incentivos as reflexões feitas pelo Papa João Paulo
II, na Encíclica Ut unum sint (n. 95), para ajudar no discernimento entre a natureza
e a forma do exercício do Primado. Olho, com gratidão, também o trabalho da Comissão
mista internacional para o diálogo teológico entre a Igreja Católica e as Igrejas
Ortodoxas Orientais. Sinto-me feliz, veneradas Eminências e venerados Representantes
das Igrejas Ortodoxas Orientais, por encontrar convosco os Representantes das Igrejas
envolvidas neste diálogo. Os resultados obtidos fazem crescer a compreensão de uns
pelos outros e aproximar-se uns dos outros. Na tendência actual do nosso tempo,
segundo a qual não poucas pessoas querem, por assim dizer, «libertar» a vida pública
de Deus, as Igrejas cristãs na Alemanha – entre as quais se contam também os cristãos
ortodoxos e ortodoxos orientais –, com base na fé no único Deus e Pai de todos os
homens, caminham juntas pelo caminho de um testemunho pacífico a favor da compreensão
e da comunhão entre os povos. Ao fazê-lo, não se esquecem de colocar no centro do
anúncio o milagre da encarnação de Deus. Cientes de que é sobre este milagre que se
funda toda a dignidade da pessoa, empenham-se conjuntamente na protecção da vida humana
desde a sua concepção até à sua morte natural. A fé em Deus, Criador da vida, e o
manter-se absolutamente fiéis à dignidade de cada pessoa reforçam os cristãos na sua
veemente oposição a toda a intervenção manipuladora e selectiva da vida humana. Além
disso, conhecendo como cristãos o valor do matrimónio e da família, temos muito a
peito, como realidade importante, proteger a integridade e a singularidade do matrimónio
entre um homem e uma mulher de toda a interpretação errónea. Aqui o empenho comum
dos cristãos, entre os quais se contam muitos fiéis ortodoxos e ortodoxos orientais,
dá uma contribuição preciosa para a edificação duma sociedade que possa ter um futuro,
na qual se presta o devido respeito à pessoa humana. Por fim, dirijamos o nosso
olhar para Maria, a Hodegetria, a «guia do caminho», que é venerada também no Ocidente
sob o título de «Nossa Senhora do Caminho». A Santíssima Trindade deu à humanidade
Maria, a Virgem Mãe, para que Ela, com a sua intercessão, nos guie ao longo dos tempos
e nos indique o caminho para a perfeição. A Ela queremos confiar-nos e apresentar
o nosso pedido de nos tornarmos, em Cristo, uma comunidade cada vez mais unida intimamente,
para louvor e glória do Seu nome. Que Deus vos abençoe a todos!