24/IX/2011 – Encontro Igrejas Ortodoxas: discurso do Papa
(24/9/2011) Eminências, Excelências, Venerados Representantes das Igrejas Ortodoxas
e Ortodoxas Orientais,
Sinto grande alegria por nos encontrarmos hoje aqui
juntos. De coração vos agradeço a todos pela presença e a possibilidade desta partilha
amiga. De modo particular, agradeço ao Metropolita Augoustinos pelas suas palavras
cheias de confiança. Apraz-me repetir aqui o que disse noutro lugar: de entre as Igrejas
e as Comunidades cristãs, a Ortodoxia é teologicamente a que está mais próxima de
nós; católicos e ortodoxos têm ambos a mesma estrutura da Igreja dos primórdios. Deste
modo podemos esperar que não esteja demasiado longe o dia em que poderemos de novo
celebrar juntos a Eucaristia (cf. Luz do Mundo. Uma conversa com Peter Seewald, pp.
91-92). Com interesse e simpatia, a Igreja Católica acompanha o desenvolvimento
das comunidades ortodoxas na Europa ocidental, que têm registado um crescimento notável.
Hoje vivem, na Alemanha, cerca de um milhão e seiscentos mil cristãos ortodoxos e
ortodoxos orientais. Tornaram-se parte constitutiva da sociedade, contribuindo para
tornar mais vivo o património das culturas cristãs e da fé cristã na Europa. Alegro-me
com a intensificação da colaboração pan-ortodoxa que fez progressos substanciais nos
últimos anos. A fundação das Conferências Episcopais Ortodoxas, em regiões onde as
Igrejas Ortodoxas estão na diáspora, é expressão das sólidas relações existentes no
âmbito da Ortodoxia. Sinto-me feliz por se ter dado tal passo, também na Alemanha,
no ano passado. Possam as experiências que se vivem nestas Conferências Episcopais
reforçar a união entre as Igreja Ortodoxas e fazer progredir os esforços para um concílio
pan-ortodoxo. Já quando era professor em Bona mas particularmente depois como Arcebispo
de Mónaco e Frisinga, pude, através da amizade pessoal com representantes das Igrejas
Ortodoxas, conhecer e apreciar de forma cada vez mais profunda a Ortodoxia. Naquele
tempo, teve início também o trabalho da Comissão mista da Conferência Episcopal Alemã
e da Igreja Ortodoxa. Desde então, com os seus textos sobre questões pastorais e práticas,
ela promove a mútua compreensão e contribui para consolidar e desenvolver as relações
católico-ortodoxas na Alemanha. Permanece igualmente importante a continuação
do trabalho para se esclarecerem as diferenças teológicas, porque a sua superação
é indispensável para o restabelecimento da unidade plena, que almejamos e pela qual
rezamos. É sobretudo na questão do Primado que devemos continuar os esforços de confrontação
para a justa compreensão do mesmo. Aqui podem ainda dar-nos frutuosos incentivos as
reflexões feitas pelo Papa João Paulo II, na Encíclica Ut unum sint (n. 95), para
ajudar no discernimento entre a natureza e a forma do exercício do Primado. Olho,
com gratidão, também o trabalho da Comissão mista internacional para o diálogo teológico
entre a Igreja Católica e as Igrejas Ortodoxas Orientais. Sinto-me feliz, veneradas
Eminências e venerados Representantes das Igrejas Ortodoxas Orientais, por encontrar
convosco os Representantes das Igrejas envolvidas neste diálogo. Os resultados obtidos
fazem crescer a compreensão de uns pelos outros e aproximar-se uns dos outros.
Na tendência actual do nosso tempo, segundo a qual não poucas pessoas querem, por
assim dizer, «libertar» a vida pública de Deus, as Igrejas cristãs na Alemanha – entre
as quais se contam também os cristãos ortodoxos e ortodoxos orientais –, com base
na fé no único Deus e Pai de todos os homens, caminham juntas pelo caminho de um testemunho
pacífico a favor da compreensão e da comunhão entre os povos. Ao fazê-lo, não se esquecem
de colocar no centro do anúncio o milagre da encarnação de Deus. Cientes de que é
sobre este milagre que se funda toda a dignidade da pessoa, empenham-se conjuntamente
na protecção da vida humana desde a sua concepção até à sua morte natural. A fé em
Deus, Criador da vida, e o manter-se absolutamente fiéis à dignidade de cada pessoa
reforçam os cristãos na sua veemente oposição a toda a intervenção manipuladora e
selectiva da vida humana. Além disso, conhecendo como cristãos o valor do matrimónio
e da família, temos muito a peito, como realidade importante, proteger a integridade
e a singularidade do matrimónio entre um homem e uma mulher de toda a interpretação
errónea. Aqui o empenho comum dos cristãos, entre os quais se contam muitos fiéis
ortodoxos e ortodoxos orientais, dá uma contribuição preciosa para a edificação duma
sociedade que possa ter um futuro, na qual se presta o devido respeito à pessoa humana. Por
fim, dirijamos o nosso olhar para Maria, a Hodegetria, a «guia do caminho», que é
venerada também no Ocidente sob o título de «Nossa Senhora do Caminho». A Santíssima
Trindade deu à humanidade Maria, a Virgem Mãe, para que Ela, com a sua intercessão,
nos guie ao longo dos tempos e nos indique o caminho para a perfeição. A Ela queremos
confiar-nos e apresentar o nosso pedido de nos tornarmos, em Cristo, uma comunidade
cada vez mais unida intimamente, para louvor e glória do Seu nome. Que Deus vos abençoe
a todos!