(22/9/2011) Senhor Presidente Federal, Senhoras e Senhores, Queridos amigos,
Sinto-me
muito honrado pelo amável acolhimento que me reservais aqui no Castelo Bellevue. Estou
particularmente agradecido a Vossa Excelência, Senhor Presidente Wulff, pelo convite
para uma Visita oficial, que é a minha terceira estadia como Papa na República Federal
da Alemanha. De coração lhe agradeço as amáveis palavras de boas-vindas que me dirigiu.
A minha gratidão estende-se igualmente aos representantes do Governo Federal, do Bundestag
e do Bundesrat e também da cidade de Berlim pela sua presença, exprimindo assim o
seu respeito pelo Papa como Sucessor do Apóstolo Pedro. E finalmente agradeço aos
três Bispos que me oferecem hospedagem: o Arcebispo Woelki de Berlim, o Bispo Wanke
de Erfurt e o Arcebipso Zollitsch de Friburgo, bem como a todos aqueles que colaboraram,
a diverso nível eclesial e público, na preparação desta visita à minha pátria, contribuindo
assim para o seu bom êxito. Embora a minha viagem seja uma visita oficial que reforçará
as boas relações entre a República Federal da Alemanha e a Santa Sé, não vim aqui
primariamente por ter em vista certos objectivos políticos ou económicos, como justamente
fazem outros homens de Estado, mas para encontrar o povo e falar-lhe de Deus. A
respeito da religião, constatamos uma indiferença crescente na sociedade, que, nas
suas decisões, tende a considerar a questão da verdade sobretudo como um obstáculo,
dando por isso a prioridade às considerações utilitaristas. Mas há necessidade
duma base vinculativa para a nossa convivência; caso contrário, cada um vive só para
o seu individualismo. Ora um destes fundamentos para uma convivência bem sucedida
é a religião. «Assim como a religião precisa da liberdade, assim também a liberdade
precisa da religião»: estas palavras do grande bispo e reformador social, Wilhelm
von Ketteler – de quem se comemora, este ano, o segundo centenário do nascimento –,
ainda são actuais [«Discurso na Primeira Assembleia dos Católicos na Alemanha» (1848),
in: Erwin ISERLOH (ed.), Wilhelm Emmanuel von Ketteler: Sämtliche Werke und Briefe
(Mainz 1977) vol. I/1, p. 18]. A liberdade precisa duma ligação primordial a uma
instância superior. O facto de haver valores que não são de modo algum manipuláveis,
é a verdadeira garantia da nossa liberdade. O homem que se sente vinculado à verdade
e ao bem, estará imediatamente de acordo com isto: a liberdade só se desenvolve na
responsabilidade face a um bem maior. Um tal bem só existe para todos juntos; por
conseguinte, devo interessar-me sempre também dos meus vizinhos. A liberdade não pode
ser vivida na ausência de relações. Na convivência humana, a liberdade não é possível
sem a solidariedade. Aquilo que faço a dano dos outros, não é liberdade, mas uma acção
culpável que prejudica aos outros e a mim mesmo também. Só usando também as minhas
forças para o bem dos outros é que posso verdadeiramente realizar-me como pessoa livre.
Isto vale não só no âmbito privado mas também na sociedade. Segundo o princípio de
subsidiariedade, a sociedade deve dar espaço suficiente às estruturas inferiores para
o seu desenvolvimento e, ao mesmo tempo, deve servir-lhes de suporte, de tal modo
que, um dia, possam também manter-se por si sós. Aqui no Castelo Bellevue, cujo
nome se fica a dever à sua vista estupenda sobre a margem do Sprea e que não está
longe da Coluna da Vitória, do Bundestag e da Porta de Brandeburgo, encontramo-nos
mesmo no centro de Berlim, a capital da República Federal da Alemanha. Com o seu passado
acidentado, o castelo é, como muitos edifícios da cidade, um testemunho da história
alemã. Uma visão clara, inclusive sobre as páginas escuras do passado, permite-nos
aprender dele e receber estímulos para o presente. A República Federal da Alemanha
tornou-se naquilo que é hoje, através da força da liberdade plasmada pela responsabilidade
diante de Deus e a de cada um perante o outro. Ela precisa desta dinâmica, que envolve
todos os âmbitos humanos, para poder continuar a desenvolver-se nas condições actuais.
Precisa disso neste mundo que necessita de uma renovação cultural profunda e da redescoberta
de valores fundamentais para construir sobre eles um futuro melhor (cf. Encíclica
Caritas in veritate, 21). Faço votos de que os encontros durante as várias etapas
da minha viagem – aqui em Berlim, em Erfurt, em Eichsfeld e em Friburgo – possam dar
um pequeno contributo neste sentido. Que nestes dias Deus nos conceda a todos a sua
bênção.