A imprensa alemã e a viagem de Bento XVI a partir deste 22 de setembro
(21/9/2011) A viagem que Bento XVI fará à Alemanha a partir de amanhã è certamente
uma das mais densas de significados de seu papado. Será a terceira a seu país de origem,
depois de ter vindo a Colônia em 2005 para a JMJ (apenas 4 meses após sua eleição)
e à Baviera em 2006, mas é a primeira como convidado do Presidente da República para
uma ‘visita de Estado’. Pode-se afirmar que esta viagem estava nas intenções do
Pontífice há muito tempo e vinha adiada por vários motivos. Este, há 5 anos da última,
segundo o Papa, é o momento certo. Aqui, ele vai encontrar uma sociedade sempre mais
secularizada, onde também o catolicismo sofre com a perda de fiéis, e uma Igreja local
em estado de agitação e ainda ferida pelos casos de abusos sexuais envolvendo clérigos.
A tensão também é política e econômica. Como os outros países deste continente, a
Alemanha não atravessa uma boa fase econômica e política. A popularidade do governo
é baixa e os números demonstram que o país cresce pouco.
A missão que se impôs
fica clara já no tema da viagem: “Onde estiver Deus, há futuro”, extraído de uma homilia
proferida em 2007 no santuário austríaco de Mariazell, e sublinha que sem os valores
da fé e sem a esperança que dela deriva, não existe resposta para nossas angustias:
o futuro, o meio-ambiente, os conflitos e até a economia mundial. É o que Bento XVI
vai destacar aqui, no país ‘locomotiva’ do Velho Continente, mas aonde a fé cristã
parece ter-se estagnado. Recorda-se que apenas um terço da população alemã é católica.
A expectativa, no entanto, aumenta, e os meios de comunicação têm intensificado
a programação dedicada à visita papal. O jornal de Frankfurt publica uma reportagem
sobre o catolicismo em Berlim, ressaltando que a Igreja local sempre foi composta
por imigrantes, ou seja, não berlinenses, e ainda hoje é assim. Para o cotidiano de
centro-direita, o Papa vai encher os 70 mil lugares do estádio olímpico de Berlim,
onde celebrará missa amanhã à tarde.
Já o Süddeutsche Zeitung (centro-esquerda)
traz cartas de leitores com opiniões favoráveis e contrárias à visita do Papa ao Parlamento
(o evento mais debatido desta viagem). O Bild, diário mais lido na Alemanha, colocou
na fachada de sua sede um pôster de 78 metros de altura: uma reprodução da primeira
página do jornal no dia da eleição de Papa Ratzinger, com a famosa manchete “Wir sind
Papst – Nós somos Papa”. Hoje, uma página inteira è dedicada à visita, com o título
“Berlim inteira olha ao Papa”.
Assim, Berlim aguarda a chegada do Pontífice
amanhã. O discurso mais esperado será às 16h15, no Bundestag, o Parlamento alemão.
Dois grupos parlamentares, a Linke e os Verdes, já anunciaram que não presenciarão
o encontro.
Depois da capital federal, o Papa terá etapas em Erfurt, com o
encontro ecumênico no ex-Convento dos Agostinianos, e após a visita ao santuário mariano
de Etzelsbach, na ex-Alemanha Oriental - lugar das perseguições comunistas aos cristãos
– irá a Friburgo, no sul do país, região tradicionalmente católica. Cristiane Murray,
da Alemanha, para a RV.