REPRESENTANTE VATICANO NA ONU: "ESFORÇO CONJUNTO PARA ERRADICAR TRÁFICO DE SERES HUMANOS"
Genebra, 15 set (RV) - Colocar no centro a dignidade da pessoa, a certeza da
pena para os traficantes, o combate à corrupção, a educação nas escolas e a retidão
das informações veiculadas pela mídia.
Esses são os instrumentos que o Observador
Permanente da Santa Sé no escritório da ONU em Genebra, na Suíça, Dom Silvano Maria
Tomasi, indicou – durante a 18ª sessão do Conselho da ONU para os Direitos Humanos
– como os únicos capazes de derrotar o tráfico de seres humanos, um fenômeno que envolve
cerca de três milhões de pessoas por ano, com uma renda total de cerca de 30 bilhões
de dólares.
Viagens cheias de perigos, passaportes e documentos que são seqüestrados
pelos escravistas e que privam as vítimas da sua identidade: segundo o Arcebispo Tomasi,
esses são os elementos essenciais do tráfico de seres humanos, forma moderna de escravismo
que mata a dignidade pessoal e a liberdade.
Certamente, não é um fenômeno novo,
mas a característica principal que a escravidão de hoje assume é a da globalização
do fenômeno, do desenvolvimento de um mercado global dos seres humanos que explora
a pobreza extrema e vulnerabilidade de muitas pessoas que desejam apenas fugir de
intoleráveis condições de miséria e de violência.
Sobretudo as mulheres são
pessoas em situação de risco – observou o prelado: ser vítimas do tráfico de seres
humanos muda-lhes o modo de pensar, chegam a considerarem-se um objeto, pura mercadoria
de troca, vivem na ilegalidade e na marginalização social e cultural típicas dos "sem
casta"; vítimas dos contínuos abusos sexuais, são espoliadas de seus valores e da
sua feminilidade, da estima de si e do sentimento do amor. "Uma tal degradação – disse
o representante vaticano – sufoca todo sonho de um futuro brilhante".
Diante
da assembléia, Dom Tomasi ofereceu uma lúcida análise do fenômeno do tráfico de seres
humanos, indicando, sobretudo, as suas causas principais: a pobreza endêmica em algumas
zonas do mundo, os conflitos armados que atingem de modo particular as crianças, e
a difusão da corrupção.
"Para contrastar esse flagelo são necessárias uma grande
determinação e uma convergência de esforços", disse, ainda, o Arcebispo Tomasi, que
indicou algumas prioridades da luta contra a escravidão: em primeiro lugar, a prevenção,
através de programas de informação e formação nos países de origem, de modo a criar
uma nova mentalidade feita de relações interpessoais verdadeiras; além disso, iniciativas
concretas de proteção e reintegração das vítimas; e, por fim, o endurecimento das
penas para os traficantes.
O que deve ser mudado, no fundo, é a mentalidade,
e se deve assumir uma nova, que coloque no centro a dignidade e a unicidade de toda
pessoa, porque "enquanto as leis podem mudar e serem adaptadas à evolução do fenômeno
do tráfico de seres humanos – concluiu o observador vaticano –, não muda o fato que
ninguém pode ser vendido, em plena violação da dignidade e dos fundamentais direitos
humanos, vez que todo homem foi criado livre, à imagem de Deus, e como tal não pode
ser tratado como um escravo". (RL)