Na audiência geral Bento XVI explica o silêncio de Deus refletindo sobre o Salmo 22,
retomado por Cristo na cruz
(14/9/2011) O silêncio divino diante das injustiças humanas e dos pedidos de auxílio
dos crentes, motivo de questionamento para fiéis e argumento justificador da inexistência
de Deus, constituiu o tema da catequese proferida esta quarta feira por Bento XVI
durante a audiência geral no Vaticano, na presença de cerca de oito mil pessoas “Rodeado
por inimigos que o perseguem”, o autor do Salmo 22 da Bíblia, , “grita dia e noite
por socorro, e no entanto Deus permanece aparentemente em silêncio”, assinalou o Papa. A
oração “pede escuta e resposta, solicita um contacto, procura uma relação que possa
dar conforto e salvação”, mas “se Deus não responde, o grito de ajuda perde-se no
vazio e a solidão torna-se insustentável”. A pergunta que o salmista coloca no
segundo dos 32 versículos do poema, “Meu Deus, meu Deus, porque me abandonaste?”,
foi mais tarde repetida por Cristo na cruz, dando voz a uma inquietação que atravessa
a história judaica e cristã. A dúvida de Jesus exprime toda a sua “desolação” perante
o “drama da morte, realidade “totalmente contraposta” ao Deus da “vida”, apontou Bento
XVI, para quem “a vitória da fé pode transformar a morte em dom da vida, o abismo
de dor em fonte de esperança”. O Salmo, um dos mais estudados da Bíblia, “eleva
um lamento doloroso a Deus, que parece estar distante, mas o salmista, pela certeza
de fé, sabe que virá em seu socorro”, referiu o Papa. Para Bento XVI, o silêncio
divino “mina o ânimo do orante”: “O salmista não pode crer que a relação com Deus
tenha sido totalmente interrompida”, pelo que lhe pergunta “o motivo de um abandono
tão incompreensível”. A resposta ao dilema de uma divindade que na Bíblia é apresentada
como toda-poderosa mas que aparentemente se mostra ausente das angústias humanas reside
na confiança: “Nós também, na oração, aprendemos a discernir a realidade para além
das aparências”. Aos fiéis reunidos no auditório Paulo VI – a grande aula das audiências
do Vaticano - o Papa apelou para se apoiarem “sobre a fé dos outros e sobre a fé
da Igreja”, que testemunham a “fidelidade” divina: “Ao longo da história bíblica vemos
Deus responder aos apelos do seu povo, dando-lhe a salvação”. Nas palavras proferidas
em língua portuguesa, Bento XVI saudou a presença dos membros da União Missionária
Franciscana provenientes de Portugal e lembrou a festa litúrgica que a Igreja Católica
assinala hoje: a Exaltação da Santa Cruz. Queridos irmãos
e irmãs,
Na catequese de hoje, tratamos do Salmo 22, uma oração sincera
e tocante, com profundas implicações cristológicas, que se tornam visíveis durante
a Paixão de Jesus, na sua dupla dimensão de humilhação e glória, de morte e vida.
Este Salmo apresenta a figura de um inocente perseguido e cercado de adversários que
querem a sua morte; por isso, eleva um lamento doloroso a Deus, que parece estar distante,
mas o salmista, pela certeza de fé, sabe que virá em seu socorro. Como é sabido, o
grito inicial do Salmo: “Meu Deus, meu Deus, porque me abandonaste?”,segundo os Evangelhos
de Mateus e Marcos, foi assumido por Jesus durante a sua crucifixão, exprimindo assim
toda a sua desolação diante do peso da humilhação e morte que supunha a sua missão
salvífica. Mas, o grito de Jesus, à semelhança do salmista, não era um grito de desespero,
mas de confiança na vitória divina, e por isso aberto ao louvor. Dirijo
a minha saudação amiga aos membros da União Missionária Franciscana, vindos de Portugal,
aos brasileiros do Grupo Vocacional e a todos os demais peregrinos lusófonos aqui
presentes. Neste dia da Exaltação da Santa Cruz, deixemo-nos invadir pela luz do mistério
pascal, para reconhecermos o caminho da exaltação precisamente na humilhação, colocando
toda a nossa esperança em Deus, e assim o nosso grito de ajuda transformar-se-á em
cântico de louvor. E que a bênção de Deus desça sobre vós e vossas famílias!