Urgências e soluções para a «crise» da Igreja em Portugal, segundo o Bispo do Porto
(5/9/2011) O bispo do Porto considera que há 19 “pontos críticos” da Igreja Católica
em Portugal, a começar pelo “divórcio entre fé e vida”, a perda do “ardor evangelizador”
e a “falência” dos modelos de iniciação cristã. A lista pessoal, baseada num documento
de trabalho da Conferência Episcopal com vista à renovação da ação pastoral da Igreja
em Portugal, foi apresentada por D. Manuel Clemente a 31 de agosto em Fátima, durante
a 34.ª Semana Bíblica Nacional. “A não concretização duma Igreja onde todos tenham
uma missão insubstituível a desempenhar”, a “falta de alegria, entusiasmo e esperança”
e as “celebrações distantes da vida”, acompanhadas por “homilias extensas e tristes”,
constituem os três problemas seguintes. O elenco das “sombras” inclui uma “Igreja
envelhecida, muito clerical e sacramentalista”, onde “diminui a prática e os jovens
se afastam”, prosseguindo com a referência ao “individualismo nas expressões da fé,
sem responsabilização”. D. Manuel Clemente salienta as dificuldades de comunicação
da Igreja, causadas por uma “linguagem hermética” e “ausência” nos novos media, e
constata “a desagregação do ambiente familiar”, com a consequente perda do seu papel
na transmissão da mensagem cristã. Além do enfraquecimento “do sentido do Domingo”,
o responsável pela pasta da cultura e comunicações sociais dos bispos de Portugal
menciona a falta de consagrados e agentes pastorais, a “fé tradicionalista e pouco
esclarecida”, o “esquecimento da Doutrina Social da Igreja” e as “romarias meramente
turísticas”. A “autenticidade de muitos cristãos comprometidos” no mundo e na Igreja,
a “redescoberta” da Bíblia e “a valorização de momentos de verdadeiro encontro orante
e sacramental com Cristo” encabeçam as 20 “luzes de esperança”. O historiador destaca
seguidamente “a maior atenção aos sinais dos tempos e ao diálogo com o mundo”, a “procura
de pontes de diálogo com a cultura” e “o esforço de adaptação às novas linguagens
e tecnologias da comunicação social”. Depois de ressaltar os eventos de “grande
vitalidade”, como a visita do Papa Bento XVI a Portugal e as Jornadas Mundiais da
Juventude, D. Manuel Clemente releva “a partilha e a solidariedade manifestadas por
pessoas e instituições eclesiais, bem como a grande rede de ação social da Igreja”. O
Prémio Pessoa 2009 realça também a existência de “órgãos de colegialidade e participação”,
“a presença de sinais de Deus no mundo secularizado, como os santos, os mártires ou
a mensagem de Fátima” e o “número crescente dos participantes em peregrinações e outras
manifestações de religiosidade popular”. Entre as 25 sugestões indicadas no documento
de trabalho incluem-se “dar visibilidade ao testemunho cristão”, “fazer da caridade
a prioridade” dos programas pastorais, ceder “precedência à intimidade com Deus” e
formar para “problemáticas” como crentes “divorciados, recasados, em união de facto
e outras situações irregulares”. A Igreja deve igualmente “apostar na evangelização
dos novos bairros e urbanizações, das grandes superfícies, das minorias e dos mais
pobres”, publicar documentos “simples, breves, espaçados, atuais e voltados para as
realidades concretas das pessoas” e pensar num plano evangelizador “de 3 ou 5 anos,
para todas as dioceses”. ( Em Ecclesia)