Campanha, 31 ago (RV) - Era alegre aquele dia da Páscoa semanal da Igreja,
embebido nas esperanças da verde liturgia. Fora esse, porém, o dia estabelecido pela
Onipotência Divina para chamar a si um grande sacerdote. Uma bruma de nebuloso pesar
cobriu a Igreja ao correr incauta a notícia de que a renhida enfermidade fizera por
ceifar a vida do apostólico Arcebispo de Campinas. Todos, apreensivos, acompanhávamos
a sucessão de lances da repentina enfermidade de Dom Bruno Gamberini. Parecia, porém,
resistir o arcebispo. A união de orações em que se irmanou a grande Arquidiocese
do interior paulista, sensibilizou todo o Brasil. Esperou a Nação Católica que em
rápido porvir poder-se-ia vê-lo restituído no exercício de suas altas funções. Nessa
hora, no entanto, por critérios que não nos cabe compreender, considerou-se findar
a frutífera missão. Com a parca idade de sessenta e um anos foi interrompida a trajetória
de grandes fadigas pela salvação das almas e felicidade da Santa Igreja. Heróico,
fez do leito de sua enfermidade uma Cátedra de tão nobres ensinamentos, quanto aquela
que se assenta majestosa sob o dossel do sólio, na venerável Sé da Senhora da Conceição
de Campinas, evocativa tantas glórias da Igreja e do Brasil. Homem de grandes
ideais e de tantos combates, lutou intrepidamente contra o mal que o privava de conduzir
o Báculo que a Igreja lhe pusera às mãos. Os passos de sua via crucis, qual lâmpada
colocada no alto, à vista de todos, fez-nos vivificar o sentido da esperança e da
resignação. Desejou, o pastor extinto, doar-se e intensamente doar-se, pelo rebanho
que lhe fora confiado. As escrituras sagradas ensinam que Abel mesmo morto ainda
fala. O inesquecível arcebispo de Campinas, ora adormecido com nossos maiores, nos
fala, igualmente, pela fé e pelos exemplos. Os sólios nos quais assentou-se, seja
aquele de Bragança Paulista ou o de Nossa Senhora da Conceição de Campinas, testemunham
da grandeza do ministério de Dom Gamberini. Cumpridas essas coisas, o clero e
o povo de Campinas, trasladaram os venerandos restos mortais de seu amantíssimo pastor
para a sua sede, e sufragado, o sepultaram junto à plêiade de antístites que tanto
honraram a Sé de Campinas e o episcopado de nosso país. Estará para sempre imortalizada,
naquele monumento, a passagem, relativamente breve, deste grande bispo, seguidor de
Jesus e sucessor dos Apóstolos. Já a sua memória, essa se conservará nos corações,
que trarão sempre o clarão dos exemplos de Dom Bruno, que em época de turbas murmurantes
e procelas ignominiosas, Deus suscitou para conduzir o seu povo. Imperativo considerar
a impossibilidade de exprimir de maneira completa o significado da orfandade prematura,
quiséramos, qual Nosso Senhor no Horto, pedir ao Pai afastasse da Igreja o Cálice
desta perda. A fé, porém, nos garante: em Cristo, o Arcebispo vive.
Pe.
Wagner Augusto Portugal Vigário Judicial da Diocese da Campanha