Juiz de Fora, 26 ago (RV) - A narrativa de Mt 16, 21-27 começa com as mesmas
palavras que Jesus utilizou para provocar em Pedro uma mudança de atitude: “Se alguém
quer vir comigo ...” Desta vez, porém, dirige-se a todos os discípulos para explicar-lhes
as exigências do seguimento. A exortação a “tomar a cruz e a negar-se a si mesmo”
aparece em outro lugar no Evangelho, mas aqui aparece como condição de seguimento.
Seguir
Jesus significa, antes de tudo, negar-se a si mesmo e tomar a Cruz, o que é o mesmo
que perder a própria vida para encontrá-la em plenitude. Os primeiros cristãos utilizaram
muito a expressão “tomar a Cruz”, para expressar a sua união com Jesus em sua Morte
e Ressurreição. É muito provável que Jesus, ao se referir à Cruz, a veja como símbolo
de sofrimento e os primeiros cristãos deram a essa expressão um sentido mais pleno,
relacionando-a com o mistério da Páscoa de Jesus.
O seguimento de Jesus significa
renunciar aos projetos pessoais de realização, aos olhos da sociedade estruturada
pelos poderosos, e tomar a cruz. A Cruz era o instrumento de suplício e morte imposto
pelos romanos àqueles que ameaçavam a ordem do império. Eram os subversivos. Durante
a revolta judaica do ano 6 d.C., os romanos crucificaram 500 revoltosos, em volta
de Jerusalém. Tomar a sua Cruz, neste contexto, o que é diferente de “tomar o poder”,
não tem nada de messiânico. Tomar a Cruz e perder a sua vida é deixar-se seduzir pelo
chamado de Jesus e renovar as estruturas desta sociedade, conformando-a a tudo o que
é bom e agradável a Deus.
Aqueles que são seduzidos pelo mundo dos ricos ambiciosos,
pensando, assim, salvar suas vidas, são aprisionados pelas malhas do poder. Seguir
Jesus e tomar sua cruz significa rejeitar os critérios de sucesso deste mundo e comprometer-se
com a construção do mundo novo de fraternidade, justiça e paz, sem temer as adversidades
que surgirão.
+ Eurico dos Santos Veloso Arcebispo Emérito de Juiz de Fora
(MG)