Tóquio, 24 ago
(RV) - No Especial Ásia de hoje, Pe. Olmes Milani, missionário no Japão, fala
sobre a Festa dos Finados no país - o ritual das lanternas.
Amigos e amigas
ouvintes que escutam o Programa Brasileiro levado ao ar pela Rádio Vaticano, faço-lhes
chegar uma saudação de paz e esperança.
Convivendo com pessoas de culturas
diferentes é inevitável não participar de cerimônias e cultos relacionados com a morte
e os funerais. Só podemos afirmar conhecer a cultura de um povo quando entendemos
os significados que estão na fronteira entre esta vida e a seguinte ou pelo que se
deseja para a pessoa falecida.
Realmente, os rituais fúnebres são ponto nevrálgico,
crucial e um divisor de águas entre a realidade presente e a futura. É difícil ter
a oportunidade de participar de um funeral até mesmo de pessoas que se dizem sem religião
e admitir o fim de tudo, com o sepultamento ou a cremação, sem perceber algo que indique
o após-morte. No Japão, onde a maioria afastou-se da religião, não é diferente.
Contudo
a cultura japonesa apresenta algumas peculiaridades. Com os ritos funerários pretende-se
acalmar o espírito, dar-lhe paz e que não volte, a não ser em datas especiais, como
nas comemorações dos falecidos. Por isso é de suma importância que sejam realizados
os funerais. Uma das maiores preocupações é não poder realizá-los quando o corpo de
alguém não é encontrado. Acreditam que o espírito da pessoa não vai ter paz, ficando
inquieto e andarilho.
Na maioria das casas japonesas existe um altar budista
usado para as cerimônias. Quando ocorre a morte de um familiar, ele é coberto com
papel branco para afastar os espíritos impuros do morto. Flores e incenso são colocados
ao lado da sua cama com a finalidade de criar um ambiente de paz e calma.
Normalmente,
um bonzo, sacerdote budista, é convidado para o velório que consta da recitação dos
sutras cuja finalidade é acalmar o espírito do falecido. Geralmente, o corpo das mulheres
é vestido de kimono. Ocasionalmente também os homens. Deve-se ter o cuidado de fechá-lo
ao contrário do de uma pessoa viva: o lado direito sobre o lado esquerdo. As sandálias
são calçadas ao contrário e as luvas ao avesso.
Pensa-se que fazendo assim,
o espírito da pessoa se confunde e não voltará para trás, pois terá dificuldade de
calçar as sandálias e vestir as luvas e o kimono corretamente. Para que a viagem ao
novo mundo seja segura, colocam-se no caixão mais um kimono branco, um par de sandálias,
seis moedas e itens preferidos pelo falecido, tais como cigarro, balas ou alguma guloseima.
No
dia seguinte ao velório acontece o funeral. A cerimônia diferencia-se levemente nesta
ocasião. A pessoa recebe um novo nome budista. Isto para confundir o espíritodo falecido,
caso fosse chamado pelo nome prévio, impedindo um possível retorno aos seus.
Dependendo
dos costumes da região, as cinzas da pessoa falecida podem ficar na casa, desde alguns
dias até mais de três meses para as cerimônias cuja finalidade é sempre acalmar o
espírito. Como a maioria dos japoneses tem sepultura de família, os restos são transladados
para seu lugar definitivo. Ao chegar com a urna, o cortejo dá diversas voltas ao redor
do túmulo para desorientar o espírito, dificultando-lhe encontrar o caminho de casa.
Terminado o cerimonial, admite-se que o espírito permanecerá em seu mundo
até uma possível reencarnação. Melhor mesmo é chegar à casa do Pai onde há muitas
moradas para vivermos a felicidade completa para sempre.
Missionário Pe. Olmes
Milani CS Do Japão para a Rádio Vaticano