"O amor rico em inteligência e a inteligência cheia de amor": Bento XVI aos universitários,
no mosteiro do Escorial
(19/8/2011) Bento XVI alertou hoje em Madrid para os perigos de um ensino superior
baseado exclusivamente no utilitarismo, tendo desafiado os professores universitários
a serem exemplares para os alunos e a procurarem a verdade com humildade. A “genuína
ideia de universidade” evita a “visão reducionista e distorcida do humano”, integrando
“um ideal que não deve ser desvirtuado por ideologias fechadas ao diálogo racional,
nem por servilismos a um lógica utilitarista de simples mercado, que olha para o homem
como mero consumidor”, frisou o Papa. As afirmações foram proferidas esta manhã
na basílica de São Lourenço do Escorial perante 1500 jovens docentes do ensino superior
inscritos na Jornada Mundial da Juventude (JMJ), provenientes de instituições espanholas
e de outros países, incluindo alguns dos participantes no recente congresso mundial
das Universidades Católicas, de 12 a 14 passados, em Ávila, sobre “Identidade e missão
da Universidade Católica”. O discurso, proferido após a saudação do arcebispo de
Madrid, cardeal Rouco Varela, e de um estudante, ressaltou a importância da “exemplaridade
que se exige de todo o bom educador”, apelou aos professores para serem “estímulo
e fortaleza” para os estudantes e acentuou que o ensino “não é uma simples transmissão
de conteúdos, mas uma formação de jovens”. No seu discurso, recordando o lema desta
JMJ, sobre o enraizamento em Cristo e a firmeza na fé, o Papa perguntou-se onde é
que os jovens de hoje poderão “encontrar pontos de referência, numa sociedade quebradiça
e instável”. Por vezes – observou – “pensa-se que a missão de um professor universitário
é exclusivamente a de formar profissionais competentes e eficazes que satisfaçam a
procura laboral” do momento. Perante esta “visão utilitarista da educação, mesmo da
educação universitária”, Bento XVI recordou “a genuína ideia de Universidade”, que
a preserve de tal perspetiva “reducionista e distorcida do humano”.
“a universidade
foi, e deve continuar a ser, a casa onde se busca a verdade própria da pessoa humana.
Por isso, não é uma casualidade que tenha sido precisamente a Igreja quem promoveu
a instituição universitária; é que a fé cristã nos fala de Cristo como o Logos por
Quem tudo foi feito e do ser humano criado à imagem e semelhança de Deus.”
“Esta
boa nova (observou ainda o Papa) entrevê uma racionalidade em toda a criação e contempla
o homem como uma criatura que compartilha e pode chegar a reconhecer esta racionalidade”.
“Deste modo, a universidade encarna um ideal que não deve ser desvirtuado
por ideologias fechadas ao diálogo racional, nem por servilismos a um lógica utilitarista
de simples mercado, que olha para o homem como mero consumidor.
Falando da
importante missão da Universidade, com a “honra e responsabilidade de transmitir”
um genuíno “ideal universitário”, o Papa convidou os presentes a sentirem-se continuadores
daqueles “homens e mulheres que se devotaram a propor e valorizar a fé perante a inteligência
dos homens”.
“os jovens precisam de mestres autênticos: pessoas abertas à verdade
total nos diversos ramos do saber, capazes de escutar e viver dentro de si mesmos
este diálogo interdisciplinar; pessoas convencidas sobretudo da capacidade humana
de avançar a caminho da verdade. A juventude é tempo privilegiado para a busca e o
encontro com a verdade.”
Na parte final do seu discurso aos universitários
espanhóis, Bento XVI, abordou um tema que lhe é caro – a relação entre conhecimento
e amor, entre verdade e caridade:
“Não podemos avançar no conhecimento de algo,
se não nos mover o amor; nem tampouco amar uma coisa em que não vemos racionalidade;
porque «não aparece a inteligência e depois o amor: há o amor rico de inteligência
e a inteligência cheia de amor». Se estão unidos a verdade e o bem, estão-no igualmente
o conhecimento e o amor. Desta unidade deriva a coerência de vida e pensamento, a
exemplaridade que se exige de todo o bom educador.”
A concluir, a advertência
de que o verdadeiro mestre universitário terá a humildade de não centrará em si mesmo
as atenções dos estudiosos, conduzindo-os isso sim à verdade que procuram.
“Na
actividade intelectual e docente, a humildade é também uma virtude indispensável,
pois protege da vaidade que fecha o acesso à verdade. Não devemos atrair os estudantes
para nós mesmos, mas encaminhá-los para essa verdade que todos procuramos. Nisto vos
ajudará o Senhor, que vos propõe ser simples e eficazes como o sal, ou como a lâmpada
que dá luz sem fazer ruído.» (Discurso integral em Viagens Apostolicas)