2011-08-15 12:44:19

OS PAIS E AS FAMÍLIAS


Rio de Janeiro, 15 ago (RV) - Todos os anos, nas celebrações próprias do mês de agosto, que é consagrado às vocações em geral, é tradição no Brasil celebrar, no segundo domingo, a Vocação Familiar, com ênfase na figura do pai de família. É quando a Igreja inicia, também, a Semana Nacional da Família. Portanto, comemorar o Dia dos Pais no traz uma grande oportunidade de refletir sobre este papel indispensável e tão necessário na vida familiar de todo o povo de Deus espalhado pelo mundo inteiro.

Esta comemoração é feita em datas diferentes pelo mundo. Aqui no Brasil atribui-se a data devido à proximidade da Festa de São Joaquim que, por algum tempo, foi celebrada no dia 16 de agosto (sabemos que hoje ela ocorre no dia 26 de julho). Então, também essa comemoração, mesmo com a exploração comercial, aqui no Brasil foi inspirada no pai de Maria, São Joaquim, antigamente comemorado no dia seguinte ao da Assunção.

As revistas, as colunas de jornais, os comentários das mídias em geral costumam discutir sobre a figura paterna e como exercê-la hoje. São muitas as ideias e teorias. Como poderíamos enfocar um aspecto dessa comemoração? A resposta a esta indagação é, sem sombra de dúvidas, muito vasta, mas, antes de qualquer definição que possa ser dada à pergunta, ser pai é um dom precioso dado por Deus a um varão, que deve exercê-lo durante toda a sua vida mediante a descoberta da vocação paternal e familiar.

No sentido cristão, a grande presença paterna que temos ou trazemos no coração e na alma é exatamente a figura do Criador, que, na condição de Pai de todos, nos criou um tanto quanto parecidos com Ele: “Façamos o homem à nossa imagem e semelhança” (Gn 1,26). Deus foi quem nos deu a vida e se condicionou desde o começo de tudo a ser nosso Pai, designando-nos para uma vocação específica: “Antes que no seio fosses formado, eu já te conhecia; antes de teu nascimento, eu já te havia consagrado, e te havia designado profeta das nações” (Jr 1,5). O próprio Jesus nos ensinou a assim chamá-Lo: “Pai nosso”.

No prático da caminhada familiar, naquilo que diz respeito ao pai de família no exercício do seu papel vocacional nos dias de hoje, sabemos, e não é surpresa para ninguém, que há uma infinidade de desafios encontrados no dia-a-dia, e que por vezes ferem a dignidade do papel paterno. O pai de família vem enfrentando, já há algum tempo, um verdadeiro massacre sobre si e o seu papel, produzido pela própria sociedade em diversas circunstâncias, ferindo em cheio os princípios e os bons costumes cristãos. A sociedade hodierna, infelizmente, relativizou aquilo que é absoluto, deixando de lado os valores da fé e condicionando todos a viverem no “tudo pode”, quando na verdade a Palavra de Deus nos diz na voz de São Paulo Apóstolo a cerca da liberdade – “Tudo posso, mas nem tudo me convém”, exigindo, então, reflexão e discernimento diante das escolhas feitas. É-nos dito que a “Família é a célula da sociedade”, sendo de fato aquilo que nela seria o mais importante. Mas, em contra partida, a sociedade que é formada pela família (célula da sociedade), que, por sua vez, é formada pelos seus genitores, com a dignidade da prole, não vai bem, logo, a família, em linhas gerais, também não está bem.

Em vias de fato, o relativismo social tem minado o papel do pai em sua vida familiar. As drogas, prostituições, violências, alcoolismos, pré-conceitos, desempregos e outras situações da mesma natureza têm batido fortemente nas portas de nossas casas, intimidando as nossas famílias. Não são raras as vezes que encontramos famílias cristãs passando por situações difíceis geradas por esses problemas. A partir destas realidades vemos tristemente a destruição da família criada por Deus como proposta de dignidade e continuidade de seu Reino: “Crescei e multiplicai-vos”.

Apesar de toda esta realidade contra o bom êxito familiar que está cada vez mais presente em nosso meio social, não podemos deixar de lado os nossos anseios em lutar e contribuir sempre para que o pai de família possa ter condições necessárias para exercer a sua vocação paterna. O papel do pai é fundamental nesta construção que edifica a caminhada cristã e solidifica a família. Ser pai no momento atual de nossa história é de fato enfrentar um grande desafio, mas, acima de tudo, é trazer para si mesmo a vivência de uma grande vocação na companhia da esposa e mãe de família, não se esquecendo, em momento algum, do acolhimento de seus filhos, educando-os na lei de Cristo e na fé da Igreja, conforme juramento feito no dia do casamento.

Assim sendo, a história e a realidade nos levam a crer que Deus, na condição de Pai, quis que todos os seus filhos, na experiência da vida humana, pudessem desfrutar desta oportunidade da convivência familiar com presença paterna, materna e fraterna. O pai é sempre aquele que acolhe e conduz a sua família para os bons caminhos, assim como o bom pastor, zeloso, piedoso e amoroso. Deve ter a preocupação com o bem-estar de todos que estão sob os seus cuidados, sendo presença marcante e diária, evitando que a mesma venha a ser destruída pelas paixões desordenadas. Deus Pai no céu, que cuida e zela por todos os seus filhos, é o exemplo para o pai de família na terra, que deve cuidar de todos os seus confiados.

Neste contexto, quero elevar a Deus uma súplica especial por todos os pais que estão no convívio de Deus, incluindo meu saudoso pai, homem de fé e que me encaminhou para os caminhos de Deus. Aos pais presentes, minha bênção e minha oração, para que sejam educadores e transmissores dos valores do Evangelho aos seus filhos. O verdadeiro pai é aquele que junto de sua mulher alimenta a vida conjugal e alegra os filhos com o tesouro da vocação. Que nossos pais sejam construtores desta família humana, rosto divino de Deus.
Que Deus abençoe a todos os pais!

† Orani João Tempesta, O. Cist.
Arcebispo Metropolitano de São Sebastião do Rio de Janeiro, RJ










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