Londres, 15 ago (RV) - A situação na região do ‘Chifre da África’ não acena
a melhorar. À fome, somam-se doenças e violações de direitos humanos.
A Somália
pediu ontem a criação de uma força especial humanitária para proteger os comboios
de ajuda alimentar e os acampamentos no país, assolado pela fome. A maior parte dos
rebeldes islâmicos se retirou da capital Mogadíscio no final de semana passado, mas
a ameaça de ataques guerrilheiros continua a amedrontar.
O governo e uma força
de paz africana de 9 mil homens admitem que não têm o controle de toda a capital,
mesmo após o recuo dos rebeldes, colocando em perigo os milhares de refugiados somalis
que estão chegando para Mogadíscio em busca de comida.
A retirada dos insurgentes
do grupo filiado à Al-Qaeda, a Al Shabaab, aumentou as esperanças de que os grupos
humanitários consigam ampliar as entregas de ajuda depois de anos de obstrução pelo
grupo rebelde.
Enquanto isso, uma epidemia de cólera está se espalhando pelo
país, principalmente entre pessoas que foram à capital por falta de comida e água.
Segundo um relatório intitulado "Você Não Sabe a Quem Culpar", elaborado pela
entidade de defesa dos direitos humanos ‘Human Rights Watch’, as violações de direitos
humanos e leis internacionais de todas as partes envolvidas na guerra da Somália estão
contribuindo para a catástrofe humanitária e para a falta extrema de comida no país.
O
texto acusa o grupo islâmico Al-Shabab, que combate o governo central e domina diversas
áreas do país africano, de impor brutalidade e repressão diárias aos civis nas regiões
que estão sob o seu controle.
Por sua vez, o governo de transição, embora
tenha a função de proteger os cidadãos, é acusado de prisões e detenções arbitrárias.
O
Human Rights Watch afirma ainda que as pessoas que buscam refúgio no país vizinho
do Quênia correm o risco de estupro e extorsão nas mãos da polícia queniana.
O
relatório não poupa os governos dos países ocidentais, que são acusados de fazer pouco
para acabar com as violações dos direitos humanos na Somália.
A região do "Chifre
da África", onde fica a Somália, enfrenta a pior seca dos últimos 50 anos. Segundo
a Organização Mundial da Saúde (OMS), 2,8 milhões de pessoas necessitam de ajuda alimentar
no país.
Além disso, a Somália já está há 20 anos sem um governo efetivo. Boa
parte do sul e do centro do país estão sob o controle do Al-Shabab, que tem ligações
com a rede Al-Qaeda e impõe a Xariá, a lei religiosa islâmica.
Cerca de 1,4
milhão de pessoas já tiveram de se deslocar dentro da Somália, enquanto centenas de
milhares deixaram o país devido à guerra e à falta de água e comida.
Um porta-voz
do Human Rights Watch disse que a Somália "precisa tanto de paz quanto de chuvas",
e que o país deveria ter uma prioridade maior na agenda internacional. (CM)