TRÁFICO DE PESSOAS E TRABALHO ESCRAVO DEBATIDOS EM SEMINÁRIO
Brasília, 13 ago (RV) - “São graves as questões do tráfico de pessoas e do
trabalho escravo no Brasil” - afirmou o secretário nacional de Justiça, Paulo Abrão,
na abertura do 2º Seminário Nacional de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas e ao Trabalho
Escravo, que se realiza desde o dia 11, no Centro Cultural de Brasília. O evento é
promovido pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, por meio do setor de Mobilidade
Humana, juntamente com o Ministério da Justiça e a Caritas dos Estados Unidos da América
(Catholic Relief Services).
Segundo o bispo de Balsas (MA) e vice-presidente
da Comissão Pastoral da Terra (CPT), Dom Enemésio Ângelo Lazzaris, um dos objetivos
do encontro é compreender o panorama atual do tráfico de pessoas e trabalho escravo
no Brasil, “identificando problemas, indicadores e ações desenvolvidas, para fortalecer
a ação pastoral frente a essa realidade em nosso país”.
Em outubro de 2008,
a CNBB organizou o 1º Seminário, com a participação de vários especialistas e representantes
do Governo Federal, resultando em uma publicação intitulada “Tráfico de Pessoas no
Brasil”.
Em 2010, a CNBB, através do Setor Mobilidade Humana, criou um Grupo
de Trabalho voltado para o tema do tráfico de pessoas. Este grupo é constituído por
aproximadamente 15 instituições. Foram essas instituições que incentivaram a realização
do 2º Seminário. “Com esse segundo evento, queremos aprofundar os estudos do primeiro
e também da realidade no Brasil. Queremos ainda refletir os desafios que esta realidade
representa para nós, traçar propostas de ações pastorais e elaborar sugestões para
o 2º Plano Nacional de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas e Trabalho Escravo, do
Governo Federal” - explicou a assessora da Pastoral da Mobilidade Humana, da CNBB,
Irmã Rosita Milesi.
Uma das convidadas a falar sobre o Tráfico de Pessoas,
a Irmã Henriqueta Cavalcante, que atua durante anos no Norte do Brasil, em especial
no Pará, afirmou que a situação é preocupante. Segundo a religiosa, há indícios de
envolvimento de funcionários dos três poderes (Executivo, Legislativo e Judiciário)
em casos de Tráfico de Seres Humanos.
Irmã Henriqueta é considerada uma das
maiores defensoras dos direitos humanos no Pará e, por conta de sua atuação no estado,
é ameaçada de morte.
A situação do Trabalho Escravo não é muito diferente da
do tráfico de pessoas, como afirmou Frei Xavier Plassat, que é o coordenador da Campanha
de Combate ao Trabalho Escravo, da Comissão Pastoral da Terra. Segundo Frei Xavier,
o trabalho escravo no Brasil é considerado por grande parte da população como um fenômeno
invisível ou mesmo inexistente. “Queremos abrir os olhos da população e dos governantes
para o crime que se comete em pleno século XXI, que é o trabalho escravo” - disse.
De
acordo com dados da CPT, no país, 42 mil pessoas foram libertadas de situações análogas
à escravidão desde o ano de 1995 até os dias atuais. De 2003 para cá, 90% dos libertados
trabalhavam diretamente com a produção do etanol ou da pecuária.
“A Igreja
apoia a PEC 438/2001 que estabelece a perda da terra do condenado por explorar o trabalho
escravo, revertendo à área ao assentamento dos colonos que já trabalhavam na respectiva
terra. Mais pressão social, mobilização internacional e veiculação de matérias na
mídia ajudariam o Governo a identificar pontos sensíveis que poderiam ser melhorados
no combate ao trabalho escravo” - finalizou Frei Plassat. (CNBB-CM)